A arte da guerra

Corinthians calculista de Tite teve provocação planejada de Sheik para acabar com "fantasma Libertadores"

Do UOL, em São Paulo
Nacho Doce/Reuters

A Copa Libertadores ajudou a moldar o futebol brasileiro nas últimas décadas. Concentrou vários significados ao longo de suas quase 60 edições. Tornou-se sinônimo de catimba, rivalidade, provocação, jogo duro. Também representa o reinado em seu continente e o passaporte para conquistar o mundo. Virou uma obsessão cantada e incorporada pelas nossas torcidas.

Para mostrar um pedaço do DNA desse torneio, personagens que participaram de cinco títulos históricos brasileiros recontam suas experiências nas partidas decisivas. Jogadores de Atlético-MG, Corinthians, Flamengo, Palmeiras e São Paulo relatam como viveram suas finais sul-americanas.

A segunda de cinco reportagens dessa série especial tem passagens marcantes do título do Corinthians de 2012, ano em que o clube exterminou o tal "fantasma Libertadores". O Boca Juniors foi um rival simbólico para um clube que acumulava traumas e mais traumas continentais. Depois de buscar o heróico empate por 1 a 1 no jogo de ida, na mítica Bombonera, foi preciso colocar a cabeça no lugar. O placar de 2 a 0 pode sugerir uma tranquilidade que não existiu. Não faltaram tensão e emoção naquele 4 de julho.

Daniel Augusto Jr. Daniel Augusto Jr.

Romarinhoooo

O herói improvável do primeiro jogo

"[Esse gol] significa muita coisa para mim. Vir lá de baixo e agora isso. Em uma semana minha vida mudou completamente. O Paulinho tocou para o Sheik, que passou para mim, e na hora consegui dar a cavadinha"
Romarinho, em entrevista ao SBT, após a partida na Argentina

"Não sei se ele [Romarinho] sabe, mas esse gol pode dar o título para a gente"
Liedson, em entrevista à TV Corinthians

"O jogo de ida trouxe uma confiança, não podemos ser hipócritas e dizer que não. Até pela forma que foi. Saímos perdendo e empatamos logo depois, com um atleta [Romarinho] que nunca tinha tocado na bola com a camisa do Corinthians na Libertadores"
Chicão, sobre a empolgação depois do 1 a 1 na Bombonera

Leandro Moraes/UOL Leandro Moraes/UOL

Bando de doidos

A euforia a caminho do Pacaembu na grande final

"Saindo do hotel, no caminho a gente ia encontrando aqueles corintianos doidos em volta do nosso ônibus, recebendo aquele carinho. Chegamos prontos para jogar"
Alex, sobre o clima para o segundo jogo

Leandro Moraes/UOL Leandro Moraes/UOL

Em nome do avô

"No jogo da Bombonera, meu avô tinha falecido no dia. Fiz questão de jogar a final, dedicar a ele. No jogo de volta, pensei no túnel: se conquistasse o título, ele faria parte desse momento nosso também"
Chicão, sobre a motivação pessoal que tinha para o dia decisivo

Destemidos

O Boca é uma das equipes mentalmente mais fortes. Mas nós mostramos que somos uma equipe muito concentrada, por isso chegamos, fora a qualidade e a competitividade"

Tite

Tite, sobre o trabalho psicológico com o time

Preleção: zero tática, 100% emoção

Foi uma preleção muito mais voltada para o lado emocional do que para o tático. O lado tático a gente já sabia. Era uma questão de concentração. O Tite bateu muito mais nesse lado do que no lado tático"

Chicão

Chicão, sobre a preparação mental

A confiança era muito grande para aquele jogo. A nação corintiana não deixava a gente dormir. Sempre tinha um barulho, uma lembrança daquele momento. E aí chega o Tite dando uma pincelada de tudo o que a gente tinha que fazer"

Alex

Alex, lembrando do clima perfeito pré-jogo

Leandro Moraes/UOL

O calcanhar do "zen" Danilo

"Sabíamos que ia ser difícil. Sabíamos que o jogo ia ser definido em uma jogada como aquela de bola parada. Tive a felicidade de olhar e ver que ele [Emerson] estava livre. A bola sobrou pra mim e pensei: vou tocar, se passar ele fica sozinho. Graças a Deus deu certo”
Danilo, lembrando à TV Corinthians a assistência de calcanhar que deu para Emerson Sheik fazer 1 a 0 no Pacaembu

Joel Silva/ Folhapress Joel Silva/ Folhapress

Festejando gol pela 1ª vez

"Quando a gente fazia gols, era difícil você me ver comemorando porque eu ficava mais preocupado com a bola do adversário sair rápida no recomeço de jogo. Naquele dia eu extravasei. O clube não tinha um título daquele, grandes jogadores passaram pelo clube e não conseguiram. Aquele momento de abraçar o Emerson era para colocar tudo para fora”
Chicão, "aprendendo" a festejar um gol

Mordida na mão de Matías Caruzzo

Eu puxava o short dele [Caruzzo], apertava a bunda, dava chute nele. Eu provoco muito. Sempre que vou para o jogo, tento ver o vídeo dos zagueiros, se têm facilidade de se irritar, qual o ponto fraco, pra onde é melhor fazer o drible... E, no caso dele [Caruzzo], vi dois jogos antes do Corinthians e notei que era um cara um pouco estressado"

Emerson Sheik

Emerson Sheik, lembrando à TV Corinthians como se preparou para o duelo de nervos com os argentinos

Joel Silva/ Folhapress

Corinthians 2 x 0 Boca Juniors

Corinthians: Cássio; Alessandro, Chicão, Leandro Castán e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Alex (Douglas) e Danilo; Emerson (Liedson) e Jorge Henrique (Wallace)
Técnico: Tite

Boca Juniors: Orión (Sosa Silva); Sosa, Schiavi, Caruzzo, Clemente Rodríguez; Somoza, Ledesma (Cvitanich), Erviti e Riquelme; Mouche (Viatri) e Santiago Silva
Técnico: Julio Cesar Falcioni

Data: 4 de julho de 2012
Local: Estádio do Pacaembu, em São Paulo
Público: 40.186 (presentes) / 37.959 (pagantes)
Árbitro: Wilmar Roldán (Colômbia)
Assistentes: Abraham Gonzalez e Humberto Clavijo (Colômbia)
Gols: Emerson, aos 9min e aos 27min do 2º tempo
Cartões amarelos: Chicão, Jorge Henrique e Leandro Castán (COR); Schiavi, Mouche, Santiago Silva e Caruzzo (BOC)

O que disseram os campeões...

Ricardo Nogueira/Folhapress Ricardo Nogueira/Folhapress

Chicão

"Na hora que acabou, todo mundo se emocionou, começou a chorar. Eu estava do lado do Alessandro. Nós dois nos abraçamos e começamos a chorar. Eu e o Alessandro chegamos na Série B [em 2008] e fizemos parte de toda a reestruturação do clube. Foi algo inesquecível"

Eduardo Knapp/Folhapress Eduardo Knapp/Folhapress

Cássio

"Estou muito feliz. É o dia mais feliz da minha vida. A partir daquela defesa [lance com Diego Souza nas quartas, contra o Vasco] e do gol do Paulinho [que deu a vitória no mesmo jogo] eu tive certeza que a gente iria buscar esse título e ninguém pararia a gente"

Junior Lago/Reuters Junior Lago/Reuters

Alessandro

"É a taça mais importante, o momento mais importante. Eu não tenho muito mais tempo de futebol. Se eu fosse parar hoje eu pararia realizado. É o título mais importante da história de um clube que tem mais de 100 anos. Me sinto lisonjeado de fazer parte de um momento como esse"

Reprodução Reprodução

"Depois que a gente passou pelo Vasco, passou pelo Santos, que tinha o Neymar surgindo e era o atual campeão, pegou o Boca na final, a gente já chegou bem calejado. Era uma equipe que não tinha craque, na verdade, mas todo mundo tinha um nível de leitura do jogo impressionante"
Alex, sobre o timaço que não tinha uma estrela

"O torcedor esperou todo esse tempo, e o título veio de uma maneira linda, invicto. Foi mais do que merecido, por toda essa trajetória. Todo mundo está de parabéns pelo que fez"
Fábio Santos, à TV Corinthians, sobre a campanha histórica

Zé Carlos Barretta/Folhapress

Eternamente nos corações alvinegros

“Você anda pelo Brasil e onde você menos espera encontra um cara que fala: ‘obrigado pela conquista da Libertadores de 2012’. Eu lembro que o Andrés [Sanchez, presidente do Corinthians] me falou antes das finais que se a gente ganhasse a Libertadores teria uma porta arreganhada no clube para entrar o resto da vida. Tanto que o clube gerou carteirinhas vitalícias para entrar na Arena Corinthians. É um reconhecimento eterno”
Alex, sobre a repercussão do título até hoje

Almir Veiga/JB Almir Veiga/JB

Flamengo: sangue e vingança

Heróis do título do Flamengo na Libertadores de 1981 contam como lidaram com a raiva em final violenta com o Cobreloa. Até hoje, eles acusam o zagueiro Mario Soto de usar uma pedra para agredi-los no segundo jogo, no Chile. O sangue derramado na casa do rival virou combustível para o terceiro jogo, de desempate.

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