Não é só no visual que “Os Incríveis 2” avançou. A história também está, digamos, mais moderna --ou ao menos mais adequada aos dias de hoje. O filme recomeça de onde o primeiro parou, mas a família logo se envolve em encrenca e o futuro de super-heróis clandestinos não é muito promissor. Até que aparecem dois novos apoiadores da causa dos supers, que querem lançar uma campanha de relações públicas para fazer com que eles deixem de ser ilegais.
A questão é: o melhor rosto para isso é a Mulher-Elástica, não o Sr. Incrível. Beto tem então que ficar em casa cuidando das crianças --uma tarefa heroica, quando feita direito, como diz a estilista Edna Moda-- enquanto Helena vai para as ruas combater vilões, inclusive na companhia de outras mulheres incríveis. Tudo isso se passa ainda nos anos 1960 (sim, é nessa década que o primeiro filme é ambientado, caso você não tenha notado), mas está bastante afinado com as discussões recentes sobre o espaço que o mundo destina a homens e mulheres.
Se parece atual, é bom pra gente. Mas ninguém deve achar que pensamos nessa ideia seis meses atrás. Eu tive essa ideia quando estávamos promovendo o primeiro filme. Para mim, não era questão de fazer algo que estivesse no noticiário, era fazer algo que mostrasse outros aspectos das personalidades dos personagens, que seria divertido de assistir na tela, e, espero, que entretenha. Brad Bird
Mas Bird rejeita a ideia de que aqui Beto e Helena simplesmente invertem os papéis porque, para ele, continua sendo um filme sobre família. “Eu não diria que ele tem que ser uma ‘dona de casa’, diria que tem que ser pai. Se você pensar num pai dos anos 1950 ou 1960, ele acendia seu cachimbo, pegava seu jornal, dava um tapinha na cabeça das crianças, um beijo, eles iam dormir e ele levantava e ia trabalhar de novo no outro dia. Mas esse molde se foi, hoje é mais uma coisa dividida. E agora mais pais estão se deparando com essas questões”.
E, claro, a ideia passa longe de mostrar que homens são incapazes de gerenciar o dia a dia dos filhos. “Não é que não haja humor no fato de que Beto tem dificuldades com isso”, diz o produtor John Walker. “Mas não queríamos que ele fosse totalmente incompetente. Ele está à altura do desafio, ele melhora. Não é um pai idiota. A piada não é essa”. “Ele está frustrado e exausto com as crianças. Não tem força muscular que o ajude”, completa a produtora Nicole Paradis Grindle.
“São as crianças que o derrotam, mais do que qualquer outro. Acho que é algo que todo mundo que tem filhos consegue se identificar. E, no fim, acaba dando força para ele, quando entende a maneira certa de ser pai”. “São coisas essenciais da vida. Mesmo que seja um desenho animado de super-heróis, por baixo disso, tem coisas sobre a vida”, conclui Bird.