Como muitas empresas surgidas no Vale do Silício, berço de Facebook, Google e Apple, a Netflix se propõe a ser disruptiva e pouco tradicional em seu dia a dia de trabalho. Seja em Los Angeles ou em Los Gatos, onde fica a sede, a decoração é descolada e cheia de referências às produções da companhia: pôsteres, fotos e almofadas temáticas dividem espaço com prêmios Emmy e objetos como uma Eleven versão Funko em tamanho real ou o armário de Hannah Baker. Os banheiros, também, têm uma divisão temática: no lugar das placas de “masculino” e “feminino”, há “Luke” e “Jessica”.
Os funcionários – que aparentam estar, majoritariamente, entre os 20 e os 40 anos – não precisam trabalhar em um lugar demarcado. Os locais favoritos são as copas espaçosas e iluminadas, onde eles têm à disposição comidinhas e bebidas à vontade. Em Los Gatos, eles ainda têm a facilidade de poder pegar, em máquinas, acessórios eletrônicos como carregadores e fones de ouvido novinhos – os preços estão lá, mas os colaboradores não pagam nada por isso.
No fim das contas, porém, o foco é o mesmo foco de muitas empresas tradicionais: deixar o cliente feliz.
“Queremos testar muitas coisas, mas o princípio fundamental organizador da empresa é buscar a satisfação do cliente, buscar como agradar aos nossos assinantes”, diz Reed Hastings, CEO da companhia. É, afinal, o dinheiro dos assinantes que faz a empresa girar, já que, diferentemente das emissoras de TV tradicionais, a Netflix não abre espaço para anúncios publicitários – e nem pretende fazê-lo no futuro.
Para atingir esse objetivo, a empresa tem feito um investimento pesado em produções originais, que vem aumentando significativamente desde 2013, quando lançou sua primeira série própria, “House of Cards”. Entre filmes, séries e documentários, já são centenas de conteúdos próprios, que vão de blockbusters (“Bright”, com Will Smith) a oscarizados (o documentário “Icarus”, premiado esse ano), passando por séries capazes de mobilizar milhões nas redes sociais (“Stranger Things”, “13 Reasons Why”).
Até o fim deste ano, que coincidentemente marcará a despedida de “House of Cards” (sem seu protagonista, um Kevin Spacey caído em desgraça), a companhia irá gastar impressionantes 8 bilhões de dólares em conteúdo original. É mais da metade dos 15 bilhões de dólares que ela deve faturar com assinaturas em 2018.
Mas encomendar, produzir ou licenciar um produto como “La Casa de Papel” ou “Demolidor” é só uma parte do processo. Para assegurar que o usuário fique realmente feliz é necessário cuidar da forma como os conteúdos vão chegar a ele. Isso acontece de várias maneiras, que começam ainda na pré-produção e se estendem até o momento em que você dá o play no seu programa da vez – tudo fruto de reuniões que acontecem em sala com nomes de originais Netflix, como “San Junipero”, ou de filmes clássicos como “Curtindo a Vida Adoidado”.