
Marcos André Batista Santos adora sentar e contar histórias. Baiano de Nazaré das Farinhas, é um cara divertido e contagia quem está ao redor quando sorri e lembra os causos que viveu no futebol.
Na base do Vitória, os garotos com quem dividia o alojamento – e compartilhava o mesmo sonho de triunfar no futebol – o apelidaram de Vampeta, uma mistura de vampiro com capeta.
A alcunha pegou, e a carreira deslanchou. Meio-campista de raça e muita técnica, girou o mundo jogando bola e virou ídolo do Corinthians. Pela seleção, participou da conquista do penta, em 2002. Embora tenha jogado apenas 18 minutos na estreia contra a Turquia, foi peça importante. Brincalhão e extrovertido, era considerado um agregador do elenco.
Um momento marcante para o baiano – e ele diz que conta isso para poucos – foi a ideia que teve de chamar os 23 jogadores para saírem na foto antes da final contra a Alemanha. Não era qualquer foto. Se o Brasil ganhasse o jogo (e ganhou), a imagem ficaria eternizada como o pôster oficial do penta. Essa e outras histórias você acompanha a partir da agora, na entrevista de Vampeta ao ESPORTE(ponto final).
Vampeta lembra de um único momento conturbado no ambiente da seleção brasileira. Ocorreu após a vitória por 2 a 1 sobre a Inglaterra. "O Luizão achou que tinha que entrar no jogo. Ele disse: 'o Ronaldo saiu, achei que eu entraria'. O Felipão viu que o Luizão não estava feliz ali. Mas o Brasil estava com um a menos, o Ronaldinho tinha sido expulso, e o Felipão preferiu colocar o Edílson, que era mais veloz. Não lembro de qualquer outra coisa nesse sentido, só esse detalhe".
Imagem: Juca Varella / Folha ImagemAo retornar da Ásia, os pentacampeões desfilaram em cima do caminhão do Corpo de Bombeiros em Brasília. Enquanto os demais jogadores vestiam o uniforme da seleção, Vampeta estava com a camisa do Corinthians. Marcos disse "vai ter foto oficial, palhaço. Só você estará diferente". Para não ser o único diferente, Vampeta pegou a camisa do goleiro e atirou para um torcedor. "Agora 'tá' fodido eu e você". Por isso, Marcos aparece com a camisa do Palmeiras no Palácio do Planalto.
Imagem: Juca Varella/FolhapressNa véspera da final contra a Alemanha, havia um receio em relação às condições de Ronaldo. Quatro anos antes, o Fenômeno teve uma convulsão durante a madrugada que antecedeu a decisão contra a França. "Na véspera do jogo, ele cortou o cabelo igual ao Cascão. Acho que o Dida que raspou a cabeça dele. E o Ronaldo brincou: 'bota dois palitos nos meus olhos para eu não dormir. Deixa a porta aberta para não acontecer o que aconteceu em 1998'. Mas estava tudo tranquilo. Ele não passava essa preocupação pra gente".
Imagem: Juca Varella / Folha ImagemEntre 1998 e 2000, o Corinthians montou um supertime e ganhou dois Brasileiros, um Paulista e o Mundial organizado pela Fifa. Em campo, craques como Dida, Gamarra, Vampeta, Rincón, Ricardinho, Marcelinho Carioca, Edilson e Luizão mostravam entrosamento. Fora, a relação era estremecida, e algumas brigas vieram a público.
Acontecia de o Marcelinho ajeitar a bola para bater uma falta, o Rincón vinha e tocava, e já virava uma confusão. Mas não era briga de um querer matar o outro. Era o ego de cada um. Até nos treinos a gente dividia. No rachão tinha o time do Rincón, com Ricardinho e Gamarra. O outro time era eu, Edilson e Marcelinho. Dividia tudo, mas dentro de campo fluía”.
Vampeta diz que os capitães Gamarra e Rincón pegavam no pé de Marcelinho. Há um episódio, admitido pelo próprio Rincón, em que ele partiu pra cima de Marcelinho após o camisa 7 ter sido expulso durante uma partida contra o San Lorenzo, em 1999, na Argentina.
“Tinha confusão, sim, mas o importante era não levar a confusão para dentro de campo, diante do torcedor, da imprensa. Ali era o momento de o time jogar com qualidade, e ninguém negava o passe para quem estava melhor posicionado. Se dava bom dia, boa tarde, boa noite, viajava junto, sentava na mesa junto... Eu me dava bem com todo mundo”.
"Tenho grandes amigos da bola, mas o maior parceiro é o Edilson. Somos dois baianos e nos damos bem. Também sou amigo do Marcelinho, Luizão, Ricardinho... Mas o grande amigo é o Edílson. A gente já se conhecia no olhar, na tabela, dentro e fora de campo. Naquele lado direito do Corinthians, que tinha eu, Marcelinho e Edilson, saía jogada ensaiada pelo olhar".
Imagem: Juca Varella/Folha Imagem"Na minha carreira toda, Alex foi o maior meia que marquei. Acho uma grande injustiça ele nunca ter jogado uma Copa do Mundo. Era um jogador muito inteligente. Errar contra o Alex era cruel. E o meu maior rival foi o Palmeiras", diz Vampeta. O arquirrival eliminou o Corinthians em duas Libertadores, nos pênaltis. Em 1999, Vampeta errou uma das cobranças. No ano seguinte, Marcelinho Carioca chutou e Marcos defendeu.
Imagem: FolhapressAlém das histórias vividas pelos grandes nomes do esporte durante suas trajetórias, o ESPORTE(ponto final) gosta de ouvir dos entrevistados quais os momentos marcantes eles viram como torcedores.
Vampeta diz que acompanha o basquete norte-americano, o vôlei brasileiro e a natação. Em época de Olimpíada, não sai de frente da televisão.
E foi nos Jogos Olímpicos de 1984, quando o baiano tinha apenas 10 anos e vivia em Nazaré das Farinhas, que a medalha de ouro conquistada por Joaquim Cruz no atletismo se tornou um momento inesquecível para ele e para muitos brasileiros.
"Vi o Joaquim Cruz correndo e chegando para pegar aquela medalha. Até então, correr era coisa de africano. Pô, aí você vê um brasileiro numa prova de 800 metros. Eu nem tinha noção do que era e estava lá torcendo. ‘Vai, Joaquim Cruz! Vai, Joaquim Cruz!’. Ele era um desconhecido, podia passar na rua em Nazaré ou em Salvador que eu nem reconheceria. Mas é uma dessas coisas que marcam a gente”.
A entrevista com Vampeta foi realizada pelo ESPORTE(ponto final), um canal onde ídolos falam sobre os grandes momentos que viveram no esporte e que viram como torcedores.
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