Em seu discurso de posse como presidente da Argentina, em dezembro de 2015, Mauricio Macri reafirmou sua promessa de campanha de zerar os índices de pobreza do país. Dizendo-se otimista, ressaltou que sua prioridade seria “trabalhar para que todos os argentinos, em especial os que mais necessitam, vivam melhor” até o final de seu mandato. Um ano depois, o presidente está mais longe de cumprir essas promessas do que quando assumiu o cargo.
O UOL conversou com especialistas para fazer um balanço de como as medidas do governo impactaram a economia e a vida dos argentinos em 2016 e quais as perspectivas para o país vizinho em 2017.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) estima que o PIB (Produto Interno Bruto) da Argentina recue 1,8% neste ano. Para o ano que vem, o órgão prevê crescimento em torno de 2,7%. Em meio a uma previsão de recessão no continente, não é uma cifra desprezível, mas para um governo que há poucos meses dizia esperar crescer 6% em 2017, é decepcionante.
Além disso, os números atuais da economia mostram que o ajuste foi sentido pela população: a alta nos preços acumulou 41,1% em novembro, na comparação anualizada, de acordo com o Índice dos Trabalhadores, elaborado pelas principais centrais sindicais do país. Já os salários subiram, em média, 35% no mesmo período. Com isso, o poder de compra dos argentinos é, de acordo com o índice das centrais, em torno de 6% menor que em 2015.
O índice oficial de pobreza divulgado pelo governo é de 32%, o que significaria, segundo as centrais sindicais argentinas, que ao menos 1,4 milhão de argentinos são classificados como pobres na gestão Macri.
De acordo com a imprensa argentina, a demora em reativar a economia é um dos fatores que levou Macri a demitir o ministro da Fazenda, Alfonso Prat-Gay, nesta semana. O presidente determinou, ainda, a divisão do ministério em duas pastas e pretende centralizar as decisões econômicas na Presidência em 2017, ano eleitoral.
Segundo a equipe econômica de Macri, 2016 foi um ano de duros ajustes e reformas estruturais que vão permitir à economia argentina retomar o crescimento a partir de 2017. O argumento é de que era preciso arrumar a casa para fazer frente à herança maldita deixada por Cristina Kirchner para começar a crescer novamente. O governo também culpa a recessão brasileira pelo mau desempenho do PIB.
Dante Sica, ex-secretário de Indústria do governo peronista de Eduardo Duhalde (2002-2003) e diretor da consultoria Abeceb, afirma que, de fato, o impacto é considerável. Para ele, cada ponto percentual a menos de crescimento no Brasil significaria até 0,25 ponto a menos na Argentina.
Para o economista-chefe da consultoria Ecolatina, Lorenzo Sigaut Gavina, apesar da inegável dependência argentina com relação ao Brasil, a recessão brasileira não implica necessariamente uma crise no país vizinho. “Prova disso é o fato de que em 2015 a economia argentina cresceu mesmo com a recessão brasileira”, afirma.
Apesar de concordar que a herança deixada por Cristina Kirchner “é terrível”, a cientista política Alicia Lissidini afirma que, depois de um ano de gestão, os resultados deveriam ser melhores.
Para o cientista político Moisés Marques, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), as expectativas com relação à política econômica de Macri foram excessivamente otimistas no início de seu mandato.
“Ele chegou a ser visto como a salvação em pessoa da economia, o que não faz sentido.”
Segundo Marques, Macri conseguiu implementar em boa medida seu plano econômico de liberalização da economia. Ele destaca a renegociação da bilionária dívida com os fundos “abutres”, que terminou com um acordo do governo com os principais credores em março.
A eliminação dos controles sobre o câmbio e sobre os preços de mercadorias e os ajustes de até 500% das tarifas de serviços públicos como água, energia elétrica, gás e transporte também fizeram parte desse pacote de medidas adotadas pelo presidente logo no início de seu mandato. Além disso, o governo adotou um corte de gastos, com a demissão de quase 150 mil funcionários públicos.
Nesse sentido, Marques afirma que “as desculpas de Macri para a ausência de bons resultados estão se esgotando” e, caso não haja recuperação na economia, a popularidade e a governabilidade do presidente podem ser afetadas nos próximos meses.
A seguir, listamos as principais medidas tomadas pelo governo e a opinião de economistas, cientistas políticos e parlamentares argentinos sobre os rumos da economia do país.