Movido a gasolina

Autódromo, filmes e uma capotagem: Wallace tem histórico de loucuras por carros

Gustavo Franceschini Do UOL, em São Paulo
Ernesto Rodrigues/Folhapress
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As promessas que você deve conhecer

Que o Brasil é uma potência do vôlei, você já sabe, já que desde a época de Giba, Nalbert e Gustavo o país está sempre na disputa por medalhas olímpicas. Só que os responsáveis pelas conquistas não são mais os mesmos. Em 2016, que vai guiar a seleção em casa é a geração de Wallace.

O oposto faz parte de uma série do UOL Esporte que pretende mostrar mais de alguns favoritos ao ouro no Rio que você pode não conhecer também. Antes dele, Isaquias Queiroz, Robson Conceição, Victor Penalber e Kahena Kunze já foram retratados.

Na última reportagem desta sequência, deixamos as quadras de vôlei para contar da paixão de Wallace por carros, que já o levou a autódromos e lhe deu um grande susto. A capotagem na estrada foi só um dos perrengues do jogador, que teve de operar a hérnia a um ano da Olimpíada e deixou todo mundo apreensivo. Sorte dele que a mulher, Mariana, que ele conheceu em uma sala de embarque de Congonhas, estava ao lado o tempo todo. 

Por que você deve prestar atenção em Wallace

O que vai fazer a diferença na Olimpíada de Wallace

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Impulsão

Wallace tem "só" 1,98 m. Pode parecer muito, mas perto dos bloqueadores que ele tem de encarar por aí... Se ele consegue estar entre os melhores do mundo, deve muito à impulsão que tem. Os centímetros que ele ganha em cada salto é que fazem a diferença na disputa com russos e americanos com mais de 2 m de altura na rede rival.

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Levantador

Para um oposto, o entrosamento com o homem que define o destino de cada jogada do time é fundamental. Nesse quesito, Wallace está bem servido. O jogador tem feito boa parceria com Bruninho, com quem atua na seleção desde 2010. Se Bernardinho quiser usar o reserva, melhor ainda. Willian Arjona é, há 6 anos, parceiro dele no clube.

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Trauma

O Brasil esteve nas duas últimas finais olímpicas, mas saiu derrotado em ambas. Na última, inclusive, esteve para fechar o jogo contra a Rússia quando foi surpreendido com uma virada histórica. Desde 2010 a equipe não conquista nenhum grande título. Com um time renovado, a seleção precisa superar esse retrospecto recente na Rio-2016.

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Capotagem assustadora foi só um capítulo da paixão

Ele estava com uma prima dele, vindo de Minas para São Paulo. Ela mesma disse que eles não estavam correndo. Só que o carro girou na estrada. Foi por Deus, porque o carro capotou na ribanceira. Tinha um toco de arvore cortado"  

O relato é de seu Levi, pai de Wallace. O acidente de cinco anos atrás não passou de um susto "Numa das viradas que o carro deu, acertou o toco em cheio e ele entrou pelo assoalho do caro. Foi o que segurou o carro para ele não rolar mais", completou. Um raro sinal amarelo na história do jogador com os motores. Ter capotado não tirou dele o amor pelos veículos. Pelo contrário. A velocidade é parte de quem é o oposto da seleção brasileira de vôlei, um apaixonado pelo ronco dos motores desde criança.

A sala de estar da casa de Wallace é “decorada” com uma espécie de cockpit de Fórmula 1 para os jogos de videogame preferidos. Ele também é viciado na série “Velozes e Furiosos” e domina as disputas de kart que costuma marcar com os amigos. O ápice da paixão foi levar seu carro para um autódromo de verdade. “Foi um sonho realizado para ele”, diz a mãe Gleci.

Não é só uma questão de dirigir, mas de entender também. Desde pequeno ele se interessa por desmontar as coisas. Os carrinhos de brinquedo e o autorama já sofreram nas mãos do jovem Wallace. No futuro, quem sabe, aprender a função de verdade pode ser uma opção. “Eu vejo meu mecânico desmontando a caixa de câmbio e fico olhando. É uma coisa que eu curto, sabe? Uma das coisas que vou fazer quando tiver um tempo é um curso de mecânica”, diz ele.
 

Vendia passe de ônibus para andar de bike. Aí descobriu os carros...

Arte/UOL
Joel Rossi Fotografia Joel Rossi Fotografia

Casamento que começou no aeroporto surpreende

Se Wallace tem “só” quatro carros, muito se deve a Mariana Schuster, mulher do jogador. “Eu freio. Como ele é muito apaixonado, se deixar ele troca de carro todo ano”, conta ela, aos risos. Os dois se conheceram há dois anos e meio e se casaram em menos de seis meses. Era a única maneira de unir um casal que se dividia entre Belo Horizonte e Maringá, no interior do Paraná.

A gente se conheceu no aeroporto de Congonhas. Nossos portões eram próximos e eu fiquei hipnotizada por ele. Ele veio falar comigo e eu nem sabia quem ele era

O resto é história. Os dois se encontraram quando o Cruzeiro de Wallace foi jogar na cidade dela e o namoro engatou. Quatro meses depois, ele queria que Mari mudasse para Belo Horizonte. “Falei que só saía de casa se fosse casada. Foi como se eu tivesse feito um pedido de casamento”, conta a advogada, aos risos.

A união aconteceu pouco depois, mas a história da dupla ainda provoca risadas. Wallace é tímido e nunca foi muito ligado em baladas. No começo da vida adulta, preferia noites de videogame e filmes de terror a varar a madrugada no agito. Por isso, a ousadia de um xaveco no meio do aeroporto é surpreendente. “Até hoje eu não acredito nessa história. Eu brinco com ele: ‘Você é o maior bundão, não é possível que chegou nela ali [risos]. Eu só acredito porque ela confirma”, conta Kauê Reis, parceiro de vôlei e kart desde meados de 2003 e padrinho de casamento da dupla.
 

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Susto um ano antes dos Jogos, hérnia virou peça de decoração

A história de Wallace e Mariana ainda é curta, mas já teve seus momentos de perrengue. O maior deles foi em 2015, quando fortes dores nas costas começaram a minar a performance do jogador. A lesão apareceu na Liga Mundial, na derrota contra a França. “Eu vi que ele não estava conseguindo andar direito. Nós estávamos de viagem marcada na segunda. Na quarta ele começou a sentir muita dor à noite. A gente foi para a praia, mas ele estava com muita dor. Na sexta eu acordei com ele virando na cama. Antecipamos a viagem de volta. Ele ficou quatro dias dormindo no sofá, não tinha posição confortável”, conta Mari.

Na chegada em Belo Horizonte, veio a notícia: uma hérnia extravasou e estava comprimindo nervos da coluna. Wallace estava perdendo sensibilidade do lado esquerdo do corpo e precisava operar. “Aquilo lá é um baque pra gente. O Wallace nunca teve uma contusão séria. Eu estava longe, não dá para dar colo. Eu chorava com ele”, lembra a mãe Gleci. A um ano da Olimpíada, não dava para saber nem se ele voltaria a jogar vôlei em alto nível.

Nem é preciso dizer que deu certo. A cirurgia foi um sucesso e Wallace voltou depois de dois meses de recuperação. Ganhou ritmo de jogo aos poucos e terminou a temporada ajudando o Cruzeiro a conquistar mais uma Superliga. Com a vaga garantida na Rio-2016, a hérnia virou um troféu, literalmente. “É um pedacinho de cartilagem. A gente guardou num potinho de formol”, conta Mari. “É um negócio nojento. Você chega na casa dele e a primeira coisa que ele quer mostrar é isso”, completa o amigo Kauê, de novo às gargalhadas. 

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