Pódio virou rotina

Medalhista em quase todas competições desde 2011, Arthur Zanetti se consolida na elite da prova de argolas

Do UOL, no Rio de Janeiro
Laurence Griffiths/Getty
Laurence Griffiths/Getty Laurence Griffiths/Getty

Sempre entre os melhores

Arthur Zanetti não conseguiu ganhar o ouro e repetir o que havia feito em Londres-2012. Mas provou estar novamente entre os melhores. Foi prata na final olímpica com nível mais elevado desde a adoção do código atual de pontuação, em 2008. Para se ter noção de como a competição é acirrada, o último bicampeão olímpico na argola foi o japonês Akinori Nakayama, em Munique-1972.

Desde 2011, Zanetti só não foi ao pódio em grandes competições no Mundial de Glasgow em 2015, quando por uma estratégia da comissão técnica brasileira priorizou a prova por equipes em detrimento do desempenho individual.

Atual campeão mundial, o grego Eleftherios Petrounias fez a melhor apresentação da sua carreira e tinha a convicção de que esse era o único jeito de destronar o brasileiro do bicampeonato olímpico. "O grego vive a melhor fase da vida. É merecedor", resumiu Marcos Gotto, técnico do brasileiro.

 
 
 
 

Zanetti faz história na ginástica brasileira

Marko Djurica/REUTERS Marko Djurica/REUTERS

Por medalha, Zanetti evitou até família

Arthur Zanetti trabalha com o técnico Marcos Gotto desde os 9 anos e confia no comandante com os olhos fechados. Por isso, quando o treinador pediu para o ginasta se isolar das redes sociais e se manter em silêncio no último mês antes de competição, Zanetti cumpriu a determinação à risca. 

Nada de badalação ou entrevistas. A rotina do atleta se resumia a ginásio e casa. A única distração nas semanas que antecederam a viagem ao Rio de Janeiro era ver maratonas de séries e filmes no Netflix com a namorada Juliana Gatto.

Após a viagem para o Rio de Janeiro, até o contato com a família foi restrito. O técnico Marcos Goto proibiu redes sociais e bate-papo por Whatsapp. Contato com os parentes só por telefone.

Reprodução/Facebook Reprodução/Facebook

Técnico do sargento Zanetti critica Forças Armadas

Ao conquistar a medalha de prata, como outros atletas, o ginasta Arthur Zanetti prestou continência no pódio: ele é 3o sargento da Força Aérea. Mas seu técnico Marcos Goto deu alfinetadas nas Forças Armadas: acusou-os de investir só em atletas prontos sem cuidar da base do esporte.

"Gostaria que os militares fizessem um trabalho de base, eu tiraria o chapéu para eles. Agora apoiar atleta de alto nível é muito fácil", atacou. "No dia que os militares formarem crianças, apoiar a iniciação, apoiar treinador, aí eu tiro o chapéu. Pegar o atleta pronto é muito fácil. Até eu", continuou. 

Goto ressaltou que não são os militares que treinam Zanetti, e sim ele. "Quem dá treino para meu atleta sou eu: não os militares", descreveu.

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Veja como foi a apresentação de Zanetti

'Não tinha obrigação nenhuma de ser campeão'

É maravilhoso, um resultado incrível. Vai ficar na minha memória por ser uma Olímpiada em casa. Não tem como descrever. Só tenho que agradecer todos que ajudaram: família, patrocinadores, a Força Aerea Brasileira. Não posso esquecer de ninguém. Os brasileiros também fizeram parte dessa história

Arthur Zanetti

Arthur Zanetti, sobre a prata na Rio-2016

Ele veio para competir. Não tinha obrigação nenhuma de ser campeão. O atleta sempre se coloca uma pressão, mas não obrigação. Estou satisfeito. A nota de partida dos dois é igual e a serie praticamente também. Alguns erros na execução fizeram a diferença. Foi um resultado justo.

Marcos Goto

Marcos Goto, técnico de Arthur

Não importa o resultado, se não viesse medalha ia ficar feliz do mesmo jeito. Fiz meu trabalho, gostei da minha prova, vou sorrir até o final do ano. Sabia que ele [rival grego, medalha de ouro] tinha ido muito bem, não sabia da nota dele. Queria só fazer minha prova e sair satisfeito

Arthur Zanetti

Arthur Zanetti, sobre o rival grego

Zanetti é surfista nas horas vagas; conheça mais curiosidades

  • Amor de longo tempo

    Zanetti tem a mesma namorada desde 2008, quando tinha 18 anos. Trata-se de Juliana Gatto, de quem não costuma desgrudar. Apesar do longo tempo de relacionamento, os dois ainda não definiram quando irão se casar. Hoje, eles moram no mesmo bairro, mas cada um na sua casa.

  • Tatuagem do irmão

    Victor, 29, é o único irmão do ginasta e o carrega até na pele. Ele possui uma tatuagem colorida com o rosto de Arthur perto do coração. Foi a maneira encontrada para homenagear o caçula. O campeão olímpico também possui uma tatuagem. Perto das costelas, desenhou a medalha ganha em Londres.

  • Surfista nas horas vagas

    A outra grande paixão de Zanetti no esporte é o surfe. Ele gosta de pegar a prancha nas horas vagas para arriscar manobras no mar. Entretanto, na reta final de preparação para a Olimpíada abriu mão do hobby para não correr o risco de sofrer qualquer tipo de lesão. Também por isso deixou de lado a moto que tem.

  • Família gira em torno de Zanetti

    Aos 26 anos, Arthur segue vivendo com os pais Roseane e Archimedes em São Caetano do Sul, onde nasceu. Eles estão na mesma casa desde 2008. Archimedes, inclusive, é o responsável por construir e fazer a manutenção de diversos aparelhos usados pelo ginasta em seu treinamento, como os rolamentos que seguram as argolas.

  • Superstição na Vila

    Antes de iniciar a competição, Arthur Zanetti ouviu conselhos do técnico da seleção de vôlei Bernardinho. O ginasta já havia tido um bate-papo com o técnico antes de Londres-2012. Como deu sorte há quatro anos, Zanetti repetiu a conversa no Rio por superstição.

  • Virou militar antes da Rio-2016

    A Olimpíada do Rio foi a primeira competição de Zanetti desde que se tornou militar. O ginasta se formou terceiro sargento da Aeronáutica no mês de julho, assim como Arthur Nory, que ganhou a medalha de bronze no solo. No pódio, prestou continência

Lucas Lima / UOL Lucas Lima / UOL

Apreensão do pai e orgulho da mãe

Pai do ginasta, Archimedes Zanetti, que estava acompanhando tudo na arquibancada disse que estava preocupado durante a competição.  

“O nível foi altíssimo. Estava apreensivo porque é o fio da navalha. É muito trabalho que é feito. Nessa hora você quer o melhor para o seu filho. Por isso fico preocupado de alguma coisa acontecer. E aconteceu dentro do que foi programado. Tanto podia ser o primeiro quanto o oitavo. Ele fez o papel dele. Tá de parabéns milhões de vezes”, analisou o pai de Arthur, Archimedes Zanetti.

Mesmo Zanetti sendo favorito ao lugar mais alto do pódio nesses Jogos, a mãe dele, Roseane, ficou muito satisfeita com o desempenho. "Ele conseguiu em Londres, ele conseguiu aqui. Para mim está muito bom. Só o fato de ele estar aqui já é uma vitória imensa", disse.

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Brasileiro serviu de inspiração para campeão olímpico

Medalhista de ouro com uma apresentação quase perfeita, o grego Eleftherios Petrounias, algoz de Arthur Zanetti, fez questão de valorizar o brasileiro após a final.

“Não existe a perfeição, mas sabia que se fizesse 16 pontos teria grandes chances de levar o ouro, já que são poucos que conseguem isso. Mas não tinha certeza que ganharia o ouro até o fim”, disse Petrounias, antes de elogiar o brasileiro. “Eu sempre me inspirei nos grande campeões olímpicos. Então por que não dizer que o Zanetti me inspirou?”.

Petrounias ainda falou sobre a amizade com Zanetti fora dos tablados. “Somos muito amigos, nos cumprimentamos quando acaba a batalha. Essa é a mágica da ginástica. Quero dar uma camisa da Grécia de presente para ele”

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'Hipnose' ajudou a treinar a mente

Para consolidar-se entre os grandes das argolas, Arthur Zanetti levou sua preparação ao limite: tanto físico como mental. Além das seis horas diárias de trabalho duro no ginásio, ele se submeteu na última década a um trabalho de psicologia esportiva que se assemelha à hipnose.

"Mas ele não fica em transe completo, como na hipnose de palco. Ela é específica para o atleta", explica a psicóloga Maria Cristina Miguel.

O atleta se imagina em movimentos complexos, vendo quais são as forças envolvidas, que partes do corpo precisará acionar em cada momento. Quando é hora de realmente fazer o exercício, já sabe o que esperar e como superar os desafios.

“Usamos bastante para elementos novos e para movimentos em que temos algum tipo de dificuldade. Você pode imaginar outro atleta fazendo esse movimento. Ou você mesmo. E repete até sair tudo perfeito”, explica Zanetti

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