Cabeça feita

Treino do atleta: pelo bi olímpico, Arthur Zanetti abre mão da adrenalina e recorre à hipnose

Bruno Doro Do UOL, em São Paulo
Lucas Lima/UOL Lucas Lima/UOL

Medalha já começa na imaginação

Você consegue se imaginar ganhando uma medalha? Pois saiba que muita gente acredita que visualizar a cena na mente é o primeiro passo para subir ao pódio na Olimpíada do Rio. Arthur Zanetti, 26 anos, campeão em Londres-2012, é um deles.

Há dez anos, o ginasta faz um trabalho de psicologia esportiva nesses moldes, um tipo de hipnose. "Mas ele não fica em transe completo, como na hipnose de palco. Ela é específica para o atleta", explica a psicóloga Maria Cristina Miguel.

O atleta se imagina em movimentos complexos, vendo quais são as forças envolvidas, que partes do corpo precisará acionar em cada momento. Quando é hora de realmente fazer o exercício, já sabe o que esperar e como superar os desafios.

Usamos bastante para elementos novos e para movimentos em que temos algum tipo de dificuldade. Você pode imaginar outro atleta fazendo esse movimento. Ou você mesmo. E repete até sair tudo perfeito, relata Arthur.

Some o preparo psicológico a uma rotina espartana de treinamentos, de seis horas diárias intensas no ginásio, fazendo força, e você tem a receita para se moldar um atleta campeão. Todo o resto - até o vício em esportes radicais - fica de lado.

Trabalho mental, força e precisão: o treino de Zanetti

A pressão é igual para todos. Com o Arthur, a pressão é porque ele está em casa. Para os outros, a pressão é porque estão competindo no Brasil. Muita gente nunca viu uma plateia como essa, vibrante. Mas o principal trabalho que podemos fazer é psicológico. O Arthur sabe que estar bem preparado é 50%. O restante é psicológico

Marcos Gotto

Marcos Gotto, técnico de Zanetti desde a infância

Rotina das argolas: você teria força para fazer tudo isso?

  • Impulso

    Uma série nas argolas precisa de cinco grupos de movimentos que envolvem rotação, força e equilíbrio. Também é necessário impulso. Para um elemento se enquadrar, precisa começar com impulso e terminar com outro impulso ou em um apoio de mão.

  • Balanço + Equilíbrio

    O segundo grupo envolve balanços e um movimento de equilíbrio, a parada de mãos. É como "plantar bananeira" nas argolas. Importante: na parada de mãos, as cordas não devem se movimentar. Qualquer balanço resulta em perda de pontos.

  • Rotação + Força

    A força entra em cena no terceiro grupo. Aqui, as pontuações começam a aumentar. Esse grupo engloba elementos que começam com impulsos e terminam com movimentos de força, como o Cristo, um dos mais icônicos do aparelho.

  • Força

    O quarto grupo é o que separa os especialistas das argolas dos outros mortais. Aqui, é necessário fazer força para se manter na posição exigida e mantê-la por pelo menos dois segundos. O elemento Zanetti, batizado pelo brasileiro, se enquadra aqui.

  • Saída

    O último elemento de toda série também vale. O ginasta sempre termina sua rotina com mortais soltando as argolas e chegando ao solo. O importante, aqui, é fazer a aterrisagem perfeita, se possível sem passos, na chamada saída cravada.

Namorada e cachorra: como Zanetti alivia a tensão

Reprodução/Instagram Reprodução/Instagram

O lado radical do campeão olímpico

Como se dar mortais e piruetas já não fosse suficientemente arriscado, Arthur Zanetti sempre foi um amante dos esportes radicais. A adrenalina dos hobbies, porém, teve que ficar de lado em nome da integridade física.

"Eu sempre fui chegado em atividades radicais. Surfo desde os 14 anos. Antes, eu descia para o litoral duas vezes por mês para surfar. Hoje, não dá mais tempo. Ou melhor. Nem posso. Pode ser perigoso. A quilha é afiada, pode acontecer um acidente", conta o ginasta.

Mas ele às vezes dá suas escapadas. "Nas férias eu ainda consegui surfar um pouco. Desci a serra, peguei algumas ondas, com cuidado. Não consigo ficar totalmente sem fazer. E é uma atividade legal para desestressar".

Reprodução/Arquivo Pessoal Reprodução/Arquivo Pessoal

Paixão por velocidade

O lado mais radical de Zanetti se manifestava em suas aventuras de moto, sua grande - e agora adormecida - paixão. E isso é coisa de família. Ele e o irmão mais velho, Victor, são fanáticos por motores desde a infância. Victor, inclusive, trabalha com carros em sua própria oficina.

Arthur, desde que conseguiu a habilitação, gostava de andar de moto. Sabe as viagens para o litoral para surfar? Eram feitas em duas rodas, e com a namorada.

"Tive de abrir mão disso. Há quatro anos eu não subo em uma moto. Nem na garupa. Se acontecer um acidente, não vai conseguir treinar e todo o objetivo vai ralo abaixo".

A preocupação foi tanta que nem mesmo a moto ele tem mais. "Eu tinha uma 750 e vendi. Se estivesse lá, parada na garagem, viria aquela tentação e não conseguiria segurar. Vender foi a melhor coisa que eu fiz".

Lucas Lima/UOL Lucas Lima/UOL

E as chances de medalha?

AP Photo/Matthias Schrader AP Photo/Matthias Schrader

Quem ameaça Zanetti?

Faça essa pergunta para Marcos Gotto, o técnico do atual campeão olímpico, e ele te dará uma lista de sete ou oito nomes. Nem todos, porém, podem com o brasileiro. Sua nota no evento teste, já com a série olímpica, foi 15,866. Só dois atletas, o grego Eleftherios Petrounias (16,000 no Europeu de 2015) e o chinês Yang Liu (15,933 no Mundial de 2014), já superam esses números. Os dois são, também, os dois últimos campeões mundiais: o brasileiro venceu o Mundial de 2013, o chinês, o de 2014, e o grego, o de 2015.

AFP PHOTO / BEN STANSALL AFP PHOTO / BEN STANSALL

História pesa contra

Após vencer o evento-teste em maio, Zanetti confirmou que era um dos favoritos ao ouro no Rio. Pesa contra ele, porém, a lista de bicampeões das argolas, que só tem dois nomes: o japonês Akinori Nakayama (1968-72) e o soviético Albert Azaryan (1956-60). Desde 1972, são 12 campeões olímpicos diferentes. No Brasil, o único atleta em provas individuais que obteve o bicampeonato olímpico seguido foi Adhemar Ferreira da Silva (salto triplo em 1952-56) - no vôlei, seis atletas foram ouro no feminino em 2008 e 2012.

Ricardo Bufolin/CBG Ricardo Bufolin/CBG

Série de vitórias

O Mundial de 2015 foi um marco na carreira de Arthur Zanetti. Pela primeira vez, ele foi a um campeonato adulto deste porte e não subiu ao pódio. Mas esqueça o 9º lugar. Naquela ocasião, o brasileiro mudou sua rotina de treinamento para ajudar o Brasil a classificar a equipe para os Jogos Olímpicos. Conseguiu. Desde então, venceu todos os torneios que disputou. Aliás, desde o ouro olímpico em 2012, Zanetti só deixou ir ao pódio uma vez, justamente no Mundial de Glasgow-2015.

Lucas Lima/UOL Lucas Lima/UOL

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