Vidas barradas de Belo Monte

Eles tinham uma ilha, hoje passam fome: como um povo foi convertido em pobre na cidade mais violenta do Brasil

Eliane Brum Publicado originalmente no "The Guardian"*
Lilo Clareto

Antonio e Dulcineia tinham uma ilha. Um pedaço de floresta tropical no rio Xingu, na Amazônia. Hoje, Antonio e Dulcineia vivem numa casa alugada com quatro cômodos e apenas uma janela. A janela tem grades, porque vivem na periferia de Altamira, a cidade mais violenta do Brasil. Quando já se sentiam esmagados entre paredes, Antonio e Dulcineia descobriram a fome. Eles não encontram palavras para descrever a fome. Diante do pedido de descrição, os olhos de Antonio das Chagas, este homem de 60 anos que desconhecia a vida de cidade, boiam em água salgada. E Dulcineia Dias, 52, encolhe-se num canto da sala, as costas coladas no cimento rachado da parede. 

Entre a ilha no rio amazônico e a casa alugada na cidade, há um processo de conversão dos povos da floresta em pobres urbanos. Esse processo marca a história da ocupação da Amazônia pelo Estado brasileiro e teve seu ápice na ditadura civil-militar (1964-1985), com grandes obras como a Transamazônica. Mas a catástrofe que barrou a vida de Antonio, Dulcineia e centenas de famílias que viviam nas ilhas e na beira do rio Xingu aconteceu na democracia.

A usina hidrelétrica de Belo Monte é uma das maiores obras dos governos democráticos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff. Erguida na floresta amazônica, no Estado do Pará, a hidrelétrica foi denunciada por 24 ações do Ministério Público Federal, por violar direitos humanos e ambientais, e tornou-se uma mancha constrangedora na biografia do Partido dos Trabalhadores e de Lula, o maior líder popular da história recente do Brasil, hoje condenado por corrupção num julgamento controverso

Alheios aos acontecimentos políticos do país, Antonio e Dulcineia tornaram-se pobres. Ele, que nunca tinha pensado em aposentadoria, "porque não precisava", aposentou-se para dar de comer à mulher, à filha caçula e ao neto. Descontado o aluguel, que consome 70% do valor da aposentadoria, e a conta de energia elétrica, sobra R$ 1,60 por dia por pessoa.

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Altamira, à beira do rio Xingu, é uma típica cidade amazônica: as árvores, vistas como obstáculos ao "progresso" ou mesmo "sujeira" pela elite econômica e política local, foram quase todas arrancadas. As que ainda restaram, podem ser derrubadas a qualquer momento. Um dia elas estão lá, no outro já não estão. Em Altamira, a paisagem é sempre menos verde no dia seguinte. 

Nesse delírio de concreto, a sensação térmica ultrapassa os 40 graus no verão. E, no inverno, época das chuvas, passa dos 30. Antonio e Dulcineia vivem sem geladeira e sem ventilador, o que significa que não têm sequer água gelada. Na sala, o principal enfeite é uma fotomontagem da filha caçula e de dois netos, ela de princesa, eles de soldados armados, sobre um fundo falso de uma paisagem da Disney.

Quando o reservatório da usina começou a encher, Antonio testemunhou os bichos da floresta morrerem. Macacos, cotias, tatus, preguiças atiravam-se na água em busca de terra firme. "Conseguimos salvar alguns botando dentro da canoa, mas vimos muitos morrerem", diz. Como parte da floresta que ele também é, Antonio sente essa dor no corpo. Como os animais, ele também ainda não encontrou terra firme e percebe-se afogado na solidão seca da cidade. Com toda a miséria de sua vida urbana, adotou dois filhotes de cachorro porque diz que não sabe "viver sem bicho". Para comprar leite em pó para alimentá-los, pediu dinheiro emprestado. Agora, são mais dois desgarrados na família.

"Eu tinha uma vida melhor até mesmo do que qualquer pessoa de São Paulo", Antonio diz, referindo-se ao Estado mais rico do Brasil. "Se eu quisesse ir pra roça eu ia, se eu não quisesse a roça ia estar lá no outro dia. Se eu quisesse pescar eu ia, mas se eu preferisse tirar açaí em vez disso eu tirava. Eu tinha rio, eu tinha mato, eu tinha sossego. Na ilha eu não tinha porta. E eu tinha lugar." Dulcineia dá um passo à frente. Ela também quer falar: "E lá na ilha a gente não adoecia. Aqui a gente adoece de quentura".

Não só a ilha foi ao fundo, mas também a memória virou água. Até mesmo os ossos do pai de Antonio, sepultado em outra ilha, bem embaixo do paredão da usina, desapareceram.

É uma vida de primeiras vezes a de Antonio e Dulcineia: a primeira conta de luz, a primeira casa alugada, a primeira vez que precisam comprar o que comem, a primeira vez que não têm dinheiro para comprar o que comem, a primeira fome. Antes das 4h da manhã, Antonio desperta sentindo-se sufocado e corre para os fundos da casa, onde há um quintal cimentado sem nenhuma planta, mas de onde se enxerga um pedaço do céu. Antonio não senta-se, porque não tem cadeira. Em pé, agarra-se a esse fragmento de liberdade, às vezes chora. "Ser pobre é viver no inferno", diz.

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Ser rico é não precisar de dinheiro

Raimundo Braga Gomes é mais enfático: "Dentro do rio, eu era rei". Quando vivia no beiradão, ele era conhecido como Raimundo "Berro Grosso", apelido herdado do pai. "Beiradão" é uma palavra-conceito. Significa toda a beira de rio na região amazônica, mas significa também um modo de vida. Quem vive no beiradão é "beiradeiro" ou "ribeirinho", população tradicional da floresta. É também um dos povos mais invisíveis e menos compreendidos do Brasil.

Ser ribeirinho é ter uma identidade singular, determinada por uma relação íntima com a floresta e o rio. Eles não possuem a terra, são eles que pertencem a ela. É, como diz Berro Grosso, "pisar na riqueza": "Eu não precisava de dinheiro para viver na felicidade. Minha casa toda era natureza. A madeira, a palha, não precisava de nenhum prego. Tinha minha roça onde plantava de tudo, as fruteiras onde dava tudo, pescava o meu peixe, fazia a farinha pra comer com o meu peixe. Se queria comer outra coisa pegava uma galinha que eu criava, se queria carne caçava no mato. E para fazer dinheiro eu pescava mais e vendia na rua. Criei minhas três filhas orgulhoso do que eu era. Eu era um homem rico". 

A maioria dos ribeirinhos é, como Berro Grosso, descendente de sertanejos pobres do Nordeste do Brasil, que foram levados para a floresta para explorar o látex, no fim do século 19, ou como "soldados da borracha", na Segunda Guerra Mundial. Quando o preço da borracha caiu ou a guerra acabou, foram abandonados na mata pelos patrões. Muitos fizeram famílias com mulheres indígenas, por amor ou porque as roubaram de suas aldeias, e passaram a viver uma vida fluida que se tornou uma das experiências mais fascinantes da floresta amazônica.

Os ribeirinhos podem ter origem indígena ou não. Eles plantam, mas não são apenas agricultores. Fazem várias atividades ao mesmo tempo, priorizando uma ou outra conforme a época do ano e os acontecimentos econômicos. Ser ribeirinho é soma, não subtração. É também ser um entremundos.

Acostumados a trocar de ilha por um motivo ou outro, desligados do conceito de terra como mercadoria, os ribeirinhos costumam causar espanto ao proclamar: "Nunca tive emprego". Ou a variação: "Nunca fui mandado por ninguém". Não ter emprego ou patrão é uma declaração tanto de identidade quanto de liberdade. Os ribeirinhos trabalham muito, porque a vida na floresta é dura, é uma vida que se vive com o corpo todo. Mas nesse espaço amplo, também do ponto de vista simbólico, eles buscam viver segundo seus próprios termos.

Ao serem convertidos em pobres, nas periferias urbanas, são esvaziados de sua essência. E viram párias, já que não conseguem emprego. Alguns tinham também uma casinha na cidade, na beira do rio, um ponto de apoio para vender o peixe ou botar os filhos na escola. Outros só tinham a moradia principal, nas ilhas. Casa não é apenas o teto, mas todo o entorno de floresta e de rio, assim como as relações de vizinhança e de ajuda mútua. O nome que dão à cidade é "rua", o que é bastante significativo. Rua no sentido de "fora". "Eu nunca trabalhei pra ninguém. Sempre fui livre", diz Antonio das Chagas. "No rio eu sei tudo, na rua eu não sou nada. Quem vai dar um emprego pra mim?"

Na construção da hidrelétrica, no rio Xingu, os ribeirinhos sequer foram reconhecidos como população tradicional pelo governo e pela Norte Energia, a concessionária de Belo Monte, formada por empresas públicas e privadas e fundos de pensão. Num dia de 2012, Berro Grosso se espantou com uma lancha que chegou com gente estranha. Eram os homens "da empresa". Disseram a ele que sua ilha seria "removida". Berro Grosso respondeu: "Daqui eu não saio". Disseram então que sua ilha ficaria embaixo d'água, era assinar ou afundar junto. "Assinei um documento. Mas eu não leio. Só sei desenhar meu nome."

Berro Grosso foi jogado numa das casas padronizadas de um dos "Reassentamentos Urbanos Coletivos" (RUCs), nome dos bairros construídos pela Norte Energia para abrigar as famílias expulsas por Belo Monte. Batizado de "Água Azul", o nome do reassentamento em que Berro Grosso foi confinado é uma ironia. O RUC está localizado a mais de sete quilômetros do rio.

Como as casas ficam muito mais longe do que havia sido determinado e já começaram a rachar, em 2017 a Justiça determinou a paralisação das obras da hidrelétrica. Uma das condicionantes que permitiram a instalação da usina estipulava que os reassentamentos não poderiam estar a mais de dois quilômetros das moradias originais dos atingidos. Também estavam previstos três modelos de casas com tamanhos diferentes. As moradias deveriam ainda ter sido construídas com material de melhor qualidade e adequadas ao modo de vida da região. 

Enquanto espera a lei ser cumprida, Berro Grosso acompanha impotente as rachaduras escavarem as paredes. E diz: "Fiquei pobre. Não tenho fartura nem tenho lazer. Tudo o que preciso agora tenho que comprar. Sem dinheiro para comprar o que quero, compro o que posso. Gosto de farinha, mas só tenho dinheiro para o arroz. Antes colhia 400 melancias boas, hoje não consigo comprar uma ruim. Antes escolhia a galinha que queria comer, hoje não posso comprar uma. Antes tinha um rio vivo, hoje tenho um lago morto, e para chegar até ele preciso pagar transporte".

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Ser pobre é não poder escolher

O ribeirinho arrancado do rio decidiu manter sua diferença, quebrando a rotina das casas iguais. Construiu na frente e nos fundos um puxado de madeira ao modo ribeirinho. Dentro botou sua canoa a navegar no seco. Quando fazia isso, um homem passou na rua e gritou: "Olha só, já está no modo da pobreza". Berro Grosso respondeu: "Você nunca vai entender meu estilo". Mais tarde, ele diria: "Sabe o que é ser pobre? É não ter escolha".

Ser pobre é também, Berro Grosso descobriu, viver com "as janelas estrondando com os tiros", e em seguida o barulho seco da morte. Altamira saltou de 77 mil habitantes, em 2000, para os atuais 111 mil. Entre 2000 e 2015, a taxa de assassinatos em Altamira aumentou 1.110%. Em junho de 2017, o Atlas da Violência, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontou Altamira como a cidade com mais de 100 mil habitantes mais violenta do Brasil.

Segundo o Observatório de Homicídios do Instituto Igarapé, com base em dados de 2015, Altamira apresenta uma taxa de 124,6 mortes por 100 mil habitantes. Para compreender o que isso significa, vale comparar com o índice do Rio de Janeiro: 21,8 mortes por 100 mil habitantes. Parte tanto do aumento da população como da violência é atribuída à construção de Belo Monte, que atraiu milhares de pessoas a uma cidade sem infraestrutura e provocou uma profunda desorganização social.

Segundo o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgado em dezembro, Altamira apresenta o segundo maior índice de vulnerabilidade, entre jovens de 15 a 29 anos, nos municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes. O Rio de Janeiro está na 134ª posição. As mulheres de Altamira são particularmente atingidas, tanto pela perda de filhos e maridos, como pela sua própria morte: os feminicídios aumentaram 65% entre 2005 e 2015.

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Para os ribeirinhos, que viviam uma vida sem portas, o efeito é devastador. "Passei a viver no meio de traficante, volta e meia tem corpo no chão. Só eu já contei 13 que eu vi. Tem outros que eu não vejo", conta Berro Grosso. "Só num dia de domingo foram dois filhos de uma vizinha. Só ouvi o pei, pei, pei (imita o barulho das balas). Nos jogaram num campo de violência." Na virada de 2017 para 2018, o sangue já manchou a orla de Altamira durante a festa de Réveillon. Os dois mortos eram sobrinho e sobrinho-neto de Antonio das Chagas.

Pelo menos 40 mil pessoas foram arrancadas de suas casas para a construção de Belo Monte. Menos de 1.500 são ribeirinhas. Havia também agricultores, pescadores e moradores urbanos que viviam em áreas da cidade que alagariam. Alguns receberam indenizações, outros cartas de crédito e outros ainda foram reassentados. Houve também aqueles que nada receberam e lutam na Justiça por reparação.

Os bairros construídos para abrigar as famílias deslocadas pela usina despedaçaram os laços de vizinhança e misturaram comunidades. Misturaram também membros de facções rivais do crime organizado, ligadas ao tráfico de drogas, que antes se mantinham em regiões distintas da cidade. Ao serem desalojados, do dia pra noite viraram vizinhos de porta, aumentando os conflitos.

Em menos de quatro anos, os Reassentamentos Urbanos Coletivos (RUCs) se transformaram no novo território de violência de Altamira. Além de serem submetidos a uma rotina de assaltos e mortes, os moradores são assinalados pelo estigma que generaliza a todos como "bandidos". Para os ribeirinhos, mais uma marca da vida de pobre.

Eliza Ribeiro, 47 anos, vivia com o marido numa pequena ilha. Ao serem jogados na cidade, ele não conseguiu emprego. "Meu marido ficava desesperado, porque começamos a passar fome, e passou a beber muito", ela conta. Ele passou também a se envolver com traficantes de drogas. De ribeirinhos orgulhosos de sua liberdade, tornaram-se pessoas que viviam de pequenos bicos e favores.

Na eleição de 2016, a pescadora Eliza achou que não poderia estar mais pobre: entregava panfletos de um dos candidatos a prefeito de Altamira e balançava bandeiras do partido nas esquinas da cidade para ganhar R$ 50 por dia. Ao voltar para casa num domingo, ela esperou em vão pelo marido. Quando o encontrou, ele estava nu. Tinha a cabeça quebrada a tijoladas e a língua arrancada.

Sem um companheiro, a vida de Eliza se estreitou. "Quando me deito à noite, nunca sei o que vamos comer no dia seguinte. Minha filha mais nova acorda chorando e pede comida. Eu digo: 'Seu pai morreu, eu não tenho dinheiro'. E choro também", diz. Um dia ficou tão desesperada que saiu de casa batendo de porta em porta. Ofereceram a ela R$ 20 e um prato de comida para fazer faxina e lavar roupas. "E os meus filhos, vão comer o quê?" Eliza voltou pra casa para passar fome com os filhos.

Recomeçou então a pescar. Mas tão longe do Xingu, os gastos com transporte e gasolina são pesados. Tudo o que é possível carregar, de botijão de gás a colchão, é levado até a beira do rio numa moto por ela e a filha, o neto de menos de dois anos encaixado na frente. Fazem várias viagens. Motos pequenas são o principal meio de transporte dos pobres em Altamira. Os batalhões de motos carregando famílias inteiras, em geral sem capacete, enquanto pelo meio delas avançam caminhonetes de cabine dupla e vidros filmados, onde viaja um só passageiro no ar-condicionado, é a cena urbana que ilustra a tensão social das cidades amazônicas.

Eliza, filhas e neto navegam por quatro horas até chegar à ilha de um conhecido. Colocam então uma lona e amarram as redes embaixo dela. Depois de cinco dias exaustivos de pescaria, ela não consegue sustentar a família. Fica alguns dias na cidade para vender o peixe e volta a repetir a jornada. Como a maioria dos ribeirinhos, adoece. Derrame, hipertensão, gastrite crônica e depressão são algumas das doenças que surgiram na população ribeirinha desde que foi empurrada para a periferia de Altamira. "Eu não era mulher doente, hoje virei", diz ela. "Quando tô no rio, as dores passam. Piso na cidade e aparece tudo de volta. Não sei que mistério é esse", espanta-se.

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Em Brasília, para reivindicar o direito de existir

A conversão dos povos da floresta em pobres urbanos não é uma tragédia acidental, mas uma estratégia política. Como povo tradicional, os ribeirinhos devem viver segundo seu modo de vida, um direito garantido por lei. Ao serem transformados em moradores das periferias, perdem esse direito. Por um lado, as áreas de floresta que ocupam são liberadas para grandes obras, projetos de mineração, plantação de soja e pasto pra boi. Por outro, eles passam a fazer parte da massa urbana fragilizada nas periferias, que apoiará qualquer grande intervenção na floresta, desde que lhe acenem com um emprego, ainda que temporário.

Desde a retomada da democracia no Brasil, nunca houve tanta pressão para afrouxar as leis ambientais e liberar áreas de floresta para a exploração como no atual Congresso brasileiro, o mais corrupto e o mais conservador da história recente.

Enfraquecido por denúncias de corrupção, Michel Temer, que se tornou presidente pela força de um impeachment, já mostrou que faz qualquer concessão aos deputados para se manter no poder. O cenário é brutal. Mas é também a primeira vez que ribeirinhos expulsos por uma grande obra fazem um movimento de resistência dessa proporção: eles recusam-se a continuar sendo pobres urbanos. Exigem uma espécie de "desconversão". Ao fazer isso, confrontam a própria ideia do que é ser rico e do que é ser pobre.

No início de fevereiro, o Conselho Ribeirinho, formado por representantes de regiões do Xingu atingidas por Belo Monte, esteve em Brasília para uma reivindicação inédita: a criação de um território coletivo no rio Xingu para 278 famílias. Como resultado de sua luta, uma parcela dos ribeirinhos já conseguiu que a Norte Energia pague um valor mensal para garantir um sustento mínimo enquanto não há desfecho.

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Procurada pelo "The Guardian", a empresa concessionária de Belo Monte afirmou em nota: "A Norte Energia cumpre todas as determinações contidas no Projeto Básico Ambiental (PBA), que prevê ações de monitoramento e de mitigação de impactos socioambientais, de longo prazo, nas áreas de influência direta e indireta da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. O documento é validado por órgãos públicos e federais, o que atesta a plena regularidade do empreendimento".

Um dos representantes do Conselho Ribeirinho é Leonardo Batista, 58 anos, mais conhecido como Aranô, filho de um ribeirinho e de uma indígena do povo juruna. Vivendo com R$ 50 por mês no Jatobá, outro reassentamento urbano, só teve o que comer no Natal porque o pastor da igreja mandou um prato de comida. Sua casa já foi arrombada três vezes. Em dezembro, Aranô ficou tão desesperado que pegou sua borduna e tentou entrar numa reunião pronto para quebrar tudo e chamar a atenção do mundo. Foi barrado.

As lágrimas fazem rio no seu rosto quando ele diz: "Sempre tivemos o antes, o agora e o depois. O antes é passado, o agora é um pesadelo. E o depois?".

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