Os Estados Unidos, agora percebo, não gostam de nuance. Ou os negros são criminosos ou os policiais são racistas -- escolha um. Somos nós contra eles. Você está conosco ou contra nós. Essa mentalidade nacional é abastecida pela histeria de um ciclo de notícias 24 horas por dia, pelos silos ideológicos das redes sociais e pela estrutura política do país. O sistema bipartidário parece encorajar ativamente a divisão onde ela não precisaria existir.
Isso nunca foi mais aparente do que durante a campanha de Donald J. Trump para a presidência. Com seus flagrantes apelos misóginos e racistas aos eleitores temerosos, Trump conseguiu dividir um eleitorado já preparado para se voltar contra si mesmo. Sua candidatura raivosa obscureceu o fato de que a grande maioria dos americanos, tanto republicanos quanto democratas, queria muitas das mesmas coisas: bons empregos, casas decentes, acesso a oportunidade e, acima de tudo, respeito.
O ano de 2016 foi tão polarizador e nocivo que ainda me encontro enredado na extrema arrogância e agressividade. Mas, com os extremos, vêm o impasse e a morte do progresso. Em vez de falar em tons comedidos sobre o que nos une, estamos gritando um com o outro sobre o que nos divide -- que é exatamente o que figuras autoritárias como Trump querem: pessoas divididas são mais fáceis de comandar. No fim das contas, esse era o objetivo do apartheid.
Para os extremistas e os crentes de qualquer causa, existe a ideia de que moderação e compromisso são simplesmente um prelúdio para se vender e desistir, quando na verdade o oposto é verdadeiro — a moderação traz ideias radicais para o centro, para que possam ser viabilizadas. Nelson Mandela nunca vacilou em seu desejo de "um homem, um voto"; na verdade, ele suportou 27 anos na prisão para tornar essa noção uma realidade. Mas quando nossa nação chegou à beira da guerra civil, Mandela falou aos sul-africanos brancos em uma linguagem que acalmou seus medos e os tranquilizou, garantindo-lhes que tinham um lugar no nosso novo país. Ele falou aos militantes nacionalistas negros, acalmando seus ânimos, mas sem diminuir seu orgulho. Se os esforços de Mandela tivessem falhado, a transição pacífica da África do Sul para a democracia nunca aconteceria.
Infelizmente, com o que vimos nessa eleição, a vitória de Trump apenas amplificou as vozes do extremismo. Os argumentos usados foram mais simples e mais emocionais, quando de fato deveriam ser cada vez mais sutis e complexos. Não podemos dar vazão à intolerância e à injustiça neste mundo, mas podemos ser firmes em relação à inaptidão de Trump para o cargo ao mesmo tempo em que devemos apelar para a razão de seus partidários. Podemos ser inabaláveis em nosso compromisso com a igualdade racial ao mesmo tempo em que repartimos o pão com as mesmas pessoas racistas que já nos oprimiram. Sei que isso pode ser feito porque essa era minha única escolha, e é por isso que estou onde estou hoje.
Quando você cresce no meio termo, percebe que a vida está mais no meio do que nos extremos. A maioria das pessoas está no meio, a margem de vitória quase sempre está no meio, e muitas vezes a verdade também está lá, esperando por nós.