Final feliz

Sorridentes e saudáveis, resgatados de caverna na Tailândia estão prontos para retomar suas vidas

REUTERS/Soe Zeya

Depois de 18 dias na caverna e oito no hospital, os 12 garotos do time de futebol Javalis Selvagens e seu treinador tiveram um último compromisso nesta quarta-feira (18) antes de voltar para casa: uma entrevista mediada por médicos, psicólogos e autoridades da Tailândia.

Sorridentes, os garotos se apresentaram um a um, falando, além dos nomes, a posição em que jogam no time de futebol. Com boa aparência (recuperaram três quilos, em média), fizeram piadas e riram diversas vezes durante a conversa.

Eles contaram por que entraram na caverna e o que sentiram enquanto, por dez dias, esperavam ser encontrados, além de detalhar a operação de resgate, que durou três dias.

O treinador Ekapol Chantawong, 25, apelidado de "Ake", que respondeu a maior parte das questões, também falou da tristeza ao saber da morte do mergulhador que lhes havia entregado tubos de ar e dos laços que se formaram no grupo e inclusive com as equipes de mergulhadores. Leia os principais trechos da conversa:

Thai News Pix via AP

Os dias presos

Foram dez dias sem comer, bebendo apenas a água que escorria pelas paredes da caverna. O grupo havia lanchado logo antes de entrar no complexo de Tham Luang e não levou comida.

Para se distrair, jogavam damas. Para tentar sair, escavavam as paredes. Não deu certo.

"Nós nos revezávamos para cavar. Bebíamos água até ficar cheios antes de escavar", disse o técnico Ake. "Quase todos sabiam nadar, mas alguns não eram bons nadadores", completou o treinador. Ele esperava a água baixar, já que seria difícil sair a nado, no escuro, sem saber ao certo para onde ir. 

Ao responder à pergunta "como era a relação de vocês na caverna", Ake sorriu: os vínculos formados entre o grupo não eram mais de treinador e treinados.

Na caverna, formamos uma família

Ake

Ake, Técnico dos javalis selvagens

Sinto que um dos mergulhadores era como meu pai. Ele me chamava de 'filho' na caverna

Ekkarat

Ekkarat "Bew" Wongsookchan, 14

Tentava não pensar em comida, me dava mais fome
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Titan, o caçula do time

Titan, o caçula do time

Os Javalis Selvagens

Arte UOL, com fotografia de Vincent Thian/AP
Xinhua Xinhua

Entrada na caverna

Ake relata que foi à caverna porque um dos garotos queria conhecer o local. Diferentemente do que se disse na imprensa internacional antes, não era aniversário de nenhum deles.

Ele relata que o grupo caminhou bastante até perceber que a caverna estava inundando. 

"Tentei me manter calmo e pensar em soluções", disse um dos garotos. "Pensei, tudo bem, vai demorar um pouco", contou outro. Foram mais de duas semanas presos.

No quinto dia, vimos que tínhamos que achar uma saída e não esperar alguém. Pensamos em ir mais fundo na caverna. Mas a água subiu 

Mathias Pape / Arte UOL

Alegria e culpa

Xinhua/Marinha tailandesa Xinhua/Marinha tailandesa

Encontro

Em 2 de julho, mergulhadores britânicos encontraram os garotos num banco de lama, a três quilômetros da entrada da caverna. "A gente estava com medo. Peguei a lanterna e (...) foi quando os mergulhadores apareceram. Não sabia o que dizer, a não ser 'olá'!", disse Adul Sam-on, 14, nascido em Mianmar e que sabe falar inglês. "Foi um milagre." Alguns garotos pediram aquilo que o grupo mais queria: comida.

AFP/LILLIAN SUWANRUMPHA AFP/LILLIAN SUWANRUMPHA

Luto

O técnico relatou a tristeza ao saber que, em 6 de julho, o mergulhador Saman Kunan havia morrido. Ele tinha levado tubos de ar ao grupo e tentava sair da caverna. Ake disse que teve sentimento de culpa "por ter, de alguma maneira, causado o fim da vida dele". Emocionado, o técnico completou: "Ficamos muito tristes. Sentimos que causamos tristeza à sua família". Os garotos fizeram uma reverência diante de um retrato do mergulhador.

Somos muito gratos a você e a sua família

Titan

Titan, após prestar homenagem ao mergulhador morto

REUTERS/Soe Zeya REUTERS/Soe Zeya

A saída

Na hora de escolher quem sairia primeiro, Ake, o técnico, contou que todos os garotos tinham condições físicas similares: fracos, mas saudáveis. Ele propôs, então, um critério 

Achava que eles iriam direto para casa. Queria que aqueles que moram longe saíssem primeiro e pudessem ver logo a família.

De volta para casa, todos os garotos afirmaram que a primeira coisa que querem dizer são "desculpas".

Fomos negligentes. Não sabíamos o que ia acontecer e não sabíamos o futuro. Seremos mais cautelosos, e vou viver minha vida plenamente

Adul Sam-on, um dos resgatados

Como aprendizado, o técnico afirmou que ele e os jovens viverão "cuidadosamente, e não de forma imprudente". "Vamos checar antes de fazer qualquer coisa."

"Aprendi muito com esse desastre", agregou Nick, 15. "Serei uma boa pessoa para a sociedade."

Outro menino, Mark, 13, afirmou que se sente "mais forte" e sonha em virar jogador de futebol profissional.

Aos jornalistas, os oficiais pediram que respeitem a privacidade das crianças. A entrevista de hoje, com perguntas previamente selecionadas pelos psicólogos, teve dois objetivos: diminuir a curiosidade da imprensa e garantir, que daqui em diante, os garotos poderão tentar retomar suas rotinas.

AFP PHOTO/Lillian SUWANRUMPHA AFP PHOTO/Lillian SUWANRUMPHA

Saudação ao rei

A entrevista terminou com um dos oficiais agradecendo ao rei "que nos deu todo o apoio necessário". A Tailândia é uma monarquia.

Na sequência, os garotos caminharam em direção ao retrato do rei e se curvaram, em sinal de reverência.

Agora, eles voltam para suas casas e se preparam para retomar suas rotinas.

AFP/Lillian SUWANRUMPHA AFP/Lillian SUWANRUMPHA

Esse episódio é a maior experiência que já enfrentei. Me ensinou a ser mais paciente e forte, a não desistir facilmente

Titan

Titan

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