Até o ano passado, quando o Brasil teve eleições municipais, o impulsionamento de postagens --outra forma de dizer promoção de conteúdo via pagamento-- era proibido no Facebook em específico e na internet de uma forma geral. Candidatos e partidos podiam criar páginas e fazer campanha, mas sem pagar o Facebook e outras redes sociais para impulsionar o conteúdo.
A propaganda eleitoral durante a eleição norte-americana dá uma noção da mudança no investimento do dinheiro. Entre os pleitos de 2012 e 2016, os gastos das campanhas políticas com publicidade nas redes sociais passaram de US$ 159 milhões (cerca de R$ 521 milhões) para US$ 1,4 bilhão (cerca de R$ 4,6 bilhões), indica pesquisa da consultoria Borrell Associates, quase nove vezes mais.
Enquanto isso, o peso da propaganda na TV vem diminuindo. Caiu de US$ 5,4 bilhões (cerca de R$ 17,7 bilhões) em 2012 para US$ 4,4 bilhões (cerca de R$ 14,4 bilhões) em 2016 --por lá não existe horário eleitoral gratuito na TV e no rádio, os anúncios são pagos.
Segundo a decisão do Congresso, a partir do ano que vem campanhas oficiais, coligações, candidatos e partidos políticos ficariam liberados para pagar para o Facebook, outras redes sociais e sites no geral impulsionarem postagens na linha do tempo dos usuários. Postagens anônimas, pagas por empresas, eleitores e em sites continuam proibidas, assim como toda a propaganda negativa.
Os números mostram que o marketing político está migrando rápido para o Facebook, para onde também está indo a audiência: depois da TV, o Facebook já é a segunda fonte de informação da maioria dos norte-americanos.
"As principais mudanças da nova lei, a meu ver, são: proíbe claramente os perfis falsos nas campanhas e libera o impulsionamento, mas apenas para as campanhas oficiais", afirma Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP (Universidade de São Paulo) e pesquisador do tema.
"Por outro lado, como controlar as contas e notícias falsas? O Facebook não consegue. Saiu um número recentemente de que tiram do ar cerca de 1 milhão de contas falsas por dia. Se alguém proibido pela lei pagar por um impulsionamento, um eleitor, empresa ou site de conteúdo falso, quem vai controlar? A empresa não tem ideia de como fazer, senão acredito que já teria feito."
Para Ortellado, o principal problema não são as propagandas de campanha oficiais, e sim o que acontece por baixo dos panos, muitas vezes sem vínculo oficial com os políticos ou partidos. "Outra questão, mais óbvia, é a diferença de poder econômico entre os candidatos", afirma. "Campanhas ricas vão, obviamente, alcançar muito mais gente no Facebook do que campanhas pobres. Antes existia uma certa questão de mérito nas redes, para quem sabia usá-las, já que era proibido impulsionar conteúdo."
Dos US$ 6,17 bilhões (cerca de R$ 20,2 bilhões) que o Facebook lucrou no primeiro semestre deste ano no mundo, 85% é construído a partir de publicidade. Para dar uma ideia do crescimento experimentado atualmente pela empresa, o valor obtido no segundo trimestre (US$ 3,89 bilhões) deste ano é 71% maior do lucro líquido do primeiro trimestre (US$ 2,28 bilhões).