Liderança pela beirada

Escalada consistente põe Palmeiras na ponta do Brasileirão; São Paulo cai para terceiro

Alexandre Schneider/Getty Images

O Palmeiras não assumiu a ponta do Brasileirão neste domingo (30) só por ter vencido o Cruzeiro no Pacaembu e por ter visto, horas mais tarde, o São Paulo cair perante o Botafogo no Engenhão, vendo o goleiro Saulo fazer milagre no finalzinho. A tabela do campeonato, hoje, reflete muito mais dois processos: a arrancada do novo líder e a desidratação gradual do antigo, que já caiu logo para o terceiro lugar. 

Nas últimas cinco rodadas, ninguém teve campanha melhor que o invicto time de Luiz Felipe Scolari: são 11 pontos, com três vitórias e dois empates. Para comparar, a equipe de Diego Aguirre somou apenas seis pontosSão quatro pontos a menos que o Internacional, agora vice-líder, depois de bater o Vitória em casa, de virada. Ainda no páreo, o Grêmio ganhou os mesmos dez pontos de seu arquirrival.

Em sua escalada, o Palmeiras tem assumido basicamente um discurso de "vamos ver". Envolvido antes em outras duas competições, tocava o Brasileiro do jeito que dava, mas fazendo uso de um elenco mais qualificado. Do outro lado do muro, seu vizinho no bairro da Barra Funda se apegava como podia ao fato de ainda estar em primeiro --Diego Aguirre dizia ainda na sexta não estar preocupado--, a despeito da queda de rendimento. Não só pela perda de pontos, mas de futebol também. 

Agora sabe do que mais? No próximo sábado, há um Choque-Rei marcado para o Morumbi, onde o Palmeiras não vence há 16 anos. Caso quebre esse tabu, o time de Scolari pode ter, repentinamente, cinco pontos de vantagem sobre o rival. Ou melhor: nem tão repentinamente assim. 

Classificação

Veja o calcanhar de Everton e todos os gols da rodada

Foram bem

  • Andrés D'Alessandro (Internacional)

    Voltou a ser titular e foi ovacionado. Tratou de organizar as ações ofensivas do Inter, acertou a trave em falta e fez o gol da virada

  • Dudu (Palmeiras)

    Sempre perigoso nas jogadas individuais, infernizou pela direita, criou várias chances e deu assistência: após bonita tabela com Marcos Rocha, cruzou na medida para Hyoran

    Imagem: Marcello Zambrana/AGIF
  • Gonzalo Carneiro (São Paulo)

    O gigante uruguaio anotou seu primeiro gol pelo Brasileiro, brigou bastante pela bola e diminuiu o prejuízo da equipe

    Imagem: REUTERS/Sergio Moraes
  • Cazares (Atlético-MG)

    O irregular meia dessa vez cumpriu bem sua função de articulador. Deixou o campo aplaudido com um gol e uma assistência na conta

    Imagem: Bruno Cantini/Divulgação/Atlético-MG

Foram mal

  • Durval (Sport)

    Foi um dia para o veterano esquecer: fez pênalti, falhou feio no quarto gol do Atlético-MG e ainda foi expulso pela 1ª vez em quatro anos

    Imagem: Fotos: JC Imagem e Williams Aguiar/Sport
  • Pepê (Grêmio)

    O jovem atacante abusou das tentativas de cavar pênalti e desperdiçou bons contra-ataques, algo que irritou até o técnico Renato Portaluppi

    Imagem: Thomás Santos/AGIF
  • Anderson Martins (São Paulo)

    Cometeu falha grave em lance simples, que acabou no segundo gol do Botafogo, cabeceando bola lenta para a direção da área

    Imagem: Alexandre Loureiro/Getty Images
  • Emerson Santos (Internacional)

    O zagueiro pôs o time a perigo com um gol contra bizarro logo no início. "Faltou comunicação com [o goleiro] Lomba", afirmou

    Imagem: Ricardo Duarte/Inter

Frases da rodada

Não penso no jogo do São Paulo, pelo amor de Deus! Quarta tenho Libertadores. Vamos priorizar as duas competições

Felipão

Felipão, que ainda lamentou queda na Copa do Brasil

Tenho companheiros que me chamam de velhinho. É assim mesmo, o velhinho está indo. E estava até com saudade [de confusão]

D'Alessandro

D'Alessandro, que simulou caminhar de bengala e bateu boca ao sair de campo

Empatar fora às vezes é bom, mas não quando precisa dos três pontos. Precisamos voltar a vencer e temos jogos decisivos pela frente

Diego Aguirre

Diego Aguirre, enfim admitindo escorregada do São Paulo

Sou um doido da paz. É uma loucura o que faz a torcida do Ceará. Vamos juntos. Faltam quatro vitórias e dois empates

Lisca

Lisca, técnico do Ceará, que deixou a zona de rebaixamento

Mostramos coisas bonitas. Aqui e ali levamos umas bolas diagonais. Mas tivemos momentos espetaculares

Milton Mendes

Milton Mendes, técnico estreante do Sport após derrota por 5 a 2 no Independência

REUTERS/Sergio Moraes REUTERS/Sergio Moraes
Alexandre Vidal/Divulgação/Fla Imagem Alexandre Vidal/Divulgação/Fla Imagem

Outra história

Um dado que pode animar o palmeirense? Nas últimas seis edições do Brasileiro, o líder da 27ª terminou como campeão. Para encontrar uma temporada em que o primeiro colocado deixou a taça escapar a essa altura, precisamos voltar a 2011. Na ocasião, o Vasco (da foto acima) estava à frente, mas acabou ultrapassado pelo Corinthians, que vinha em segundo. Para constar, os dois times brigaram até a rodada final pelo título, com o time então dirigido por Tite prevalecendo por dois pontos (71 a 69).

Com o perdão da obviedade, porém, é bom que se diga que cada campeonato é uma história, de todo modo. Basta dizer que, nesta década, a disputa pela primeira posição nunca foi tão equilibrada. Nem mesmo em 2011. Naquele ano, seis pontos separavam os cinco primeiros. Agora temos só quatro pontos de distância do primeiro para o quinto. Quer dizer: há mais concorrentes, ameaças ao líder.

De 2012 para 2017, o cenário ao final da 27ª rodada era o seguinte:

  • 2012: Fluminense tinha seis pontos a mais que o Atlético-MG;
  • 2013: Cruzeiro sobrava, com 11 pontos a mais que o Grêmio;
  • 2014: rumo ao bi, Cruzeiro tinha sete a mais que o São Paulo;
  • 2015: o Corinthians de Tite estava cinco pontos acima do Galo;
  • 2016: só um ponto separava o Palmeiras do Flamengo;
  • 2017: o Corinthians tinha dez pontos de folga para o Santos.
Reprodução Reprodução

Sem sinal

Vocês viram a gritaria. No momento em que a CBF anunciou que a arbitragem do Brasileirão não contaria com o apoio do sistema de vídeo, sabia que cada erro crasso, de solução fácil com uma simples consulta ao monitor, seria motivo de chiadeira. O mesmo vale para os clubes participantes, que deram anuência. Que todos aguentem. 

Nessa longa ficha corrida de reclamações, a 27ª rodada ganhará espaço considerável. Muito por conta de dois pênaltis assinalados por toque na mão de defensores indiscutivelmente fora da área. Detalhe: os lances, que não tinham nada para gerar polêmica, aconteceram justamente nas partidas envolvendo os dois primeiros colocados. 

No Beira-Rio, o árbitro Sávio Pereira Sampaio viu corretamente o toque na mão de Lucas Fernandes após cobrança de falta de Camilo. Lucas até estava dentro da área na barreira. Mas deu um passo à frente. Do seu lado, todavia, o Inter também pode apontar impedimento mal marcado minutos antes em jogada que terminaria com gol anulado de Nico López...

Mais cedo, em São Paulo, os palmeirenses simplesmente não acreditaram quando Dewson Fernando Freitas da Silva deu pênalti para o Cruzeiro depois de Gustavo Gómez espalmar a bola ainda mais distante da linha da grande área. Até o diretor de futebol Alexandre Mattos entoru em campo para protestar. Veja os lances:

Na Vila Belmiro, o Santo bateu o Atlético-PR por 1 a 0 com um gol de pênalti nos acréscimos. Dessa vez a discussão não ficou em torno de um ato de bola na mão. Mas de um choque entre o atacante Rony e o lateral Dodô. Para o árbitro Max Augusto Vieira, foi falta. Assista:

Gritaria contra a arbitragem

Ficamos nervosos porque foi nítido. Errar é humano, mas são seis pessoas errando. Não pode: está valendo título
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Lucas Lima

Lucas Lima, meia do Palmeiras, que viu até o diretor de futebol

De forma acintosa [Mattos] foi contido pelo policiamento e fiscais do jogo para que voltasse ao vestiário da sua equipe
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Dewson da Silva

Dewson da Silva, o árbitro da lambança, em sua súmula

Esse juiz, que não sei o nome e não quero nem saber, veio para nos atrapalhar. É uma situação delicada

Ramon

Ramon, zagueiro do Vitória, inconformado

Não vi [se foi pênalti]. No Brasileiro está tendo muitos erros. Foi importante o time não desistir em nenhum momento

Leandro Damião

Leandro Damião, atacante do Inter, que aguardava cruzamento

O que está acontecendo com a CBF? Ex-presidentes presos, caracterizando toda uma desonestidade

Luiz Sallim Emed

Luiz Sallim Emed, presidente do Atlético-PR, com lágrimas nos olhos

Não aconteceu nada. Se todo contato dentro da área for pênalti, então o futebol acabou

Nikão

Nikão, atacante do Atlético-PR

Marcello Zambrana/AGIF Marcello Zambrana/AGIF

Fred voltou ao Cruzeiro após seis meses fora dos gramados

Dudu, Saulo e ataque do Atlético-MG são destaques nas estatísticas

De maior

Ricardo Oliveira, 38, já deixa bem claro por seu desempenho dentro de campo que idade realmente não é um impedimento. Contra o Sport, ele fez seu 11º gol no campeonato, se isolando na vice-artilharia. Está a um gol de Gabriel, do Santos. Agora, para não deixar dúvida sobre sua forma física, o veterano centroavante decidiu inovar em sua comemoração, vendo o mundo de cabeça para baixo:

Ivan Storti/Santos FC Ivan Storti/Santos FC

De menor

No momento em que marcou o gol da dramática vitória do Santos sobre o Vitória, o uruguaio Carlos Sánchez tinha à sua frente uma linha de três atacantes, da qual dois eram adolescentes. Se Rodrygo, 17, uma das revelações do campeonato, já até está negociado com o Real Madrid, a notícia ficou por conta da estreia de Kaio Jorge, de apenas 16 anos. 

Kaio entrou no lugar de Bruno Henrique nos minutos finais. O titular voltou a preocupar, aliás, por conta de uma pancada que levou no olho direito, o mesmo que o deixou de molho por vários meses nessa temporada. O atacante ainda joga amparado por um contrato de formação com o Santos. Ele está em longa negociação para firmar seu primeiro contrato profissional com o clube. Seu empresário é Giuliano Bertolucci, um dos mais influentes do país. 

Ver Rodrygo acompanhado por um atleta ainda mais jovem, todavia, não é algo nesta temporada. Afinal, o centroavante Yuri Alberto, 17, já disputou oito partidas no campeonato. 

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