A rota do sertanejo em 2018

Como a música mais popular do Brasil vai se reinventar (mais uma vez) para não perder o rumo

Felipe Branco Cruz e Renata Nogueira Do UOL, em São Paulo
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Cadu Fernandez/Divulgação Cadu Fernandez/Divulgação

As mais tocadas

Se existe um gênero musical no Brasil que sabe se reinventar é o sertanejo.

Os números provam que o método funciona: das cem músicas mais tocadas nas rádios em 2017, 87 delas eram músicas sertanejas, segundo dados da Crowley Broadcast Analysis, empresa que monitora as rádios brasileiras. O gigante do streaming Spotify também observou que o gênero liderou com folga todos seus principais rankings nacionais, tanto no top 10 de artistas quanto de álbuns e de músicas.

E é na intenção de se manter intocado no topo que a fórmula se renova mais uma vez: os mega shows prometem diminuir de tamanho para que os videoclipes comecem a ganhar super produções. E depois de absorver influências que o transformaram na verdadeira música pop do país, o sertanejo mira no público de baladas, festivais e, principalmente, da internet. Mais atual e moderno do que isso, não há.

Vai ficar difícil alguém dizer, em 2018, que não gosta de música sertaneja.

O que você vai ver no sertanejo

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A força do videoclipe

Depois de um breve sumiço entre a era de ouro da MTV e o boom das plataformas digitais, quando os jovens passaram a trocar a TV pelo YouTube, o videoclipe retomou seu protagonismo em todos os gêneros.

Os sertanejos, grandes produtores de DVDs ao vivo, ligaram o alerta: seus clipes, geralmente retirados desses registros de shows, começaram a perder espaço para as superproduções. Foi então que, junto com equipes de filmagem, passaram a ter mais contato com roteiro e elenco de atores.

Luan Santana sacou isso lá em 2012, quando lançou o clipe de "Te Vivo", encenando a trajetória de um casal ao longo dos anos. Em dezembro, a dupla Simone & Simaria alcançou o posto de clipe brasileiro mais visto na história do YouTube com "Loka", em parceria com Anitta: foram mais de 500 milhões de visualizações.

Matheus & Kauan aliou-se a MC Kevinho e Kondzilla, maior produtora brasileira de clipes de funk, para fazer "Deixa Ela Beijar". Zé Neto & Cristiano, que lançou clipe para "Amigo Taxista", viu crescer a interação da dupla com o público de redes sociais.

Alguma dúvida de que em 2018 os sertanejos vão tomar conta do formato?

Quem manda no mercado é o consumidor, e o clipe é uma tendência de consumo

É o que atesta Gustavo Marques, que integra o time de marketing do escritório Work Show, e trabalha com Marília Mendonça, Maiara & Maraisa, e a dupla Zé Neto & Cristiano. "Grandes artistas pop lançam um clipe por mês porque eles são puro termômetro com o público, vai na onda das redes sociais. Os sertanejos sempre olharam muito para o mercado, atingiram uma maturidade em que conseguem avaliar o que vale mais a pena".

Emoção (e lucro) do DVD ao vivo

O fato é: os DVDs ao vivo ainda funcionam muito bem para os sertanejos. É algo que o público aprova e já está acostumado. Mais do que isso: a estratégia de fatiar as faixas e distribuí-las como clipes individuais passa a emoção de um show para quem assiste. Essa mesma pessoa vai investir no ingresso para presenciar tudo aquilo. E é daí que sai a maior parte da renda dos artistas.

"Com a crise, o público não compra mais CD. Ele consome através da internet", explica Gustavo Marques. "Com o clipe, você propõe um desfecho. É a mesma coisa que a pessoa espera, por exemplo, quando escolhe uma série para assistir na Netflix. Você tem a obrigação de surpreendê-lo".

Para João Neto, da dupla com Frederico, o interessante é ter algo novo a cada dois anos. "Quando o DVD começa a ficar velho, a gente lança alguma coisa que vai estar no próximo [trabalho]. É aí que entram os clipes. É como uma prévia do que vai vir para o próximo ano", destaca o cantor por trás do atual sucesso "Cê Acredita", faixa da dupla que fez estourar MC Kevinho.

Em 2018, Matheus & Kauan vai testar algo inédito no sertanejo. O DVD "Intensamente Hoje", gravado ao vivo, vai ganhar um clipe diferente para cada faixa. "É um diferencial que ninguém fez no Brasil ainda. E vai ter um documentário dos bastidores", adianta Matheus.

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Saem palcos gigantescos, voltam a voz e o violão

Outra tendência que ganha força neste ano é a máxima "menos é mais". A mega produção, os palcos gigantescos e os espaços para multidões estão sendo reduzidos para tornar a experiência do show mais intimista, como já fizeram Bruno & Marrone e Matheus & Kauan.

"O que acontecia muito no mercado sertanejo era o artista gravar um DVD com cenário tão grandioso que ele não conseguia levar o show para a estrada", explica Gustavo Marques, da Work Show.

O formato enxuto tem outros benefícios para os artistas. "O custo é bem menor. Gasto menos e tenho menos risco. Quanto menos risco, mais atrativo, maleável e fácil de direcionar. A ideia de manter o ao vivo é mostrar que o artista sabe cantar e não é um produto de estúdio".

Nesse rumo, João Neto & Frederico já trabalha em um DVD acústico, que será gravado em clima de fazenda com Diego & Arnaldo. "Estamos escolhendo repertório e vamos gravar depois do Carnaval. Vai ser voz e violão, com modas bem sertanejas, músicas que marcaram a vida de muita gente, e algumas inéditas".

Efeito Kevinho

Ele estourou com os sertanejos e agora leva duplas para seus clipes

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A vez do eletronejo

Improvável é um adjetivo que não cabe no mercado sertanejo. Desde que ganhou uma linguagem mais moderna e urbana, trocando o romantismo dramático por festas, carros e bebedeiras, o gênero já passeou pelo pop rock, forró, arrocha e funk carioca. Faltava só se misturar ao ritmo eletrônico das baladas. Pois bem, não falta mais: o eletronejo está entre nós.

Alok, o DJ brasileiro mais popular do momento, já colocou suas batidas em "Paga de Solteiro Feliz", com Simone & Simaria, e em "Suave", com Matheus e Kauan. O duo JetLag Music já incrementou a pegada em "Meu Melhor Lugar", de Fernando & Sorocaba com Luan Santana.

A sofrência não vai ter mais lugar em 2018. Vamos ouvir menos sanfonas e violão, e mais os beats acelerados.

A previsão é do compositor Maurício Mello, diretor da gravadora MM Music e produtor musical da dupla Henrique & Diego. "Antes você não ouvia música sertaneja em festas eletrônicas. Agora é comum intercalar uma música com a outra".

Segundo o diretor, os principais responsáveis por essa simbiose musical são os serviços de streaming. "Os fãs mais jovens não distinguem sertanejo de eletrônico em suas playlists. Nossa estratégia agora é fatiar os álbuns e lançar vários singles, de preferência com um clipe acompanhando".

Os beats da música sertaneja

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Ouvintes ecléticos

O eletronejo ganhou força quando o escritório Audio Mix, de artistas como Jorge & Mateus, Matheus & Kauan e Wesley Safadão, assinou contrato com o DJ Alok e o duo Jetlag.

No começo fiquei receoso. Depois percebi que o sertanejo é o pop do Brasil e me adaptei ao cenário trazendo a minha identidade e personalidade. Aprendi a gostar de sertanejo
Alok

O DJ goiano estima que, atualmente, 70% de seus shows são em eventos populares onde tocam sertanejo, funk e pop. Apenas 30% ocorre em um nicho segmentado, voltado apenas para os ouvintes da música eletrônica.

Thiago Mansur, do JetLag Music, acredita que um show da Anitta em uma festa de rodeio já não causa mais estranhamento. "O streaming rompeu todas as barreiras territoriais, de estilo e idade. Até a minha avó está ouvindo sertanejo e eletrônico", brinca.

De cima do palco, o DJ reconhece: o público que curte festivais eletrônicos, como Tomorrowland ou Ultra, também frequenta a Festa do Peão de Barretos e o Villa Mix. "Não é porque eu como arroz e feijão que eu não vou gostar também da culinária japonesa ou italiana", compara. "O Alok, hoje em dia, é uma celebridade. No ano passado, 50% dos meus shows foram em lugares sertanejos e 50% em baladas. Neste ano, a porcentagem deve aumentar para o lado do sertanejo".

Mercado Latino

Os sertanejos querem "hablar español" em 2018

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Gusttavo Lima

Gusttavo Lima quer conquistar o mercado latino. O cantor divulgou recentemente um vídeo em que ele avisava, em espanhol, que estava em estúdio gravando uma música com a dupla cubana Gente de Zona, uma das mais famosas por lá. O duo mistura reggaeton com ritmos cubanos e ganhou notoriedade internacional com a música "Bailando", em parceria com Enrique Iglesias.

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Luan Santana

O cantor revelou recentemente que o próximo passo da sua carreira é o mercado internacional, especificamente o latino. Luan contou que o gosto pelas músicas em espanhol surgiu por causa do Paraguai, onde ele fez shows no início da carreira por causa da proximidade com o seu estado, Mato Grosso do Sul. O cantor também já gravou clipes em Cuba e na Colômbia.

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Zé Felipe

Filho do sertanejo Leonardo, o cantor Zé Felipe é outro que mira o mercado latino. Sua conquista mais recente é uma participação no clipe de "Subeme La Radio", de Enrique Iglesias. Desde 2016 ele buscava uma parceria neste sentido, quando gravou "Tan Fácil" com o grupo latino CNCO, empresariado por Rick Martin. O cantor também se divide entre o Brasil e Miami, para onde viaja frequentemente para gravar em estúdios americanos.

Promessas de 2018

Os artistas e as duplas para ficar de olho neste ano

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Julia & Rafaela

As gêmeas Julia & Rafaela, de 16 anos, são a aposta da gravadora Universal. As meninas de Campo Verde, no Mato Grosso, surgiram no YouTube fazendo covers de músicas sertanejas famosas. Em 2017 elas lançaram o EP "Paredes Pintadas" e estão começando a fazer shows pelo Brasil.

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Lauana Prado

Nascida em Goiás e criada no Tocantins, Lauana Prado, 28, começou a cantar de maneira amadora aos 16 anos. No final do ano passado, assinou contrato com o escritório FS Produções Artísticas, de Fernando & Sorocaba, e agora lançou o clipe da música "Meu Coração Não é Hotel", em parceria com Gusttavo Lima.

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Lucca & Biel

Os irmãos Lucca e Biel, de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, lançaram recentemente seu primeiro EP de inéditas e autorais, com destaque para "Eu Desisto", com participação de Jorge & Mateus. Os meninos estouraram após postarem vídeos no YouTube e seus shows na capital sul-matogrossense são bem concorridos.

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Diego & Arnaldo

A dupla Diego & Arnaldo gravou em julho de 2017 o DVD "Do Jeito Que Nóis Gosta 2" e assinou com o escritório Mega Produções Artísticas, o mesmo de Naiara Azevedo e João Neto & Frederico, com quem vão gravar um DVD depois do Carnaval. A dupla tem uma pegada romântica e acústica.

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