Até que o riso nos separe

Leandro Hassum se descola da nova geração e arrasta multidões aos cinemas e teatros com "humor velho"

Leonardo Rodrigues Do UOL, em São Paulo
Danilo Verpa/Folhapress

O humor pastelão de Leandro Hassum já foi rotulado de “bobo”, de “velho” e sua definição favorita "episódio estendido do programa Zorra Total". A tese diz que, em tempos de profundas transformações na comédia, suas caras, bocas e gags teriam como destino o museu do entretenimento.

O ator de 44 anos discorda totalmente. E a audiência de seus filmes também. Apenas a franquia “Até que a Sorte nos Separe” levou quase 11 milhões de pessoas aos cinemas. Os programas de TV estrelados por Hassum, ou cujo estilo se aproxime do dele, continuam sendo sucesso de audiência.

“Com todo respeito ao meu irmão Marcius Melhem, que escreve o novo “Zorra” e o “Tá no Ar”, mas o grande ibope hoje é o da 'Escolinha do Professor Raimundo'. Quer um humor mais antigo que esse?”, reflete o comediante, que usa de uma estratégia para saber se está indo pelo caminho certo

Vou a sessões que não são de pré-estreia para ver a reação do público pagante. Às vezes, nenhum jornalista ri de uma cena. Parece velório. Mas o público gargalha. Assim, entendo o que funciona.

Em longa entrevista ao UOL, Hassum fala sobre a disputa entre "humor velho" e "humor novo" na TV, a perda de peso (e da graça?), a polêmica do "politicamente correto" e de seus colegas de riso.

"Humor de bordão é fundamental"

Caiuá Franco/TV Globo Caiuá Franco/TV Globo

E esse novo Zorra?

Apesar do tom crítico, Hassum discorda que a atração esteja nichada e/ou "inteligente" demais para o grande público. "Longe de mim querer criticar o programa que fiz, mas ele ainda está se encontrando. Cada vez mais você vê quadros fixos, o que é ótimo. Você vê o novo elenco brilhando, você vê o Welder Rodrigues incrível lá e também no ‘Tá no Ar’."

"Aliás, o que é aquele 'foca em mim' do quadro dele no ‘Tá no Ar”? É bordão! O que você lembra do quadro? Do 'foca em mim'!” Tá moderno? Não! E a gente faz isso desde o 'Balança mas Não Cai', desde o 'Planeta dos Homens'."

A proposta de Hassum é encontrar um meio termo saudável entre o novo e o velho, que chama de "old school". "Você tem que pegar uma cabeça genial, como é a do Marcius Melhem, um cara que está ligado sempre buscando coisas novas, e essa cabeça vai achar um novo lugar para essa comédia. O que não podemos é menosprezar o que é clássico. Para mim, esse é o grande erro."

Viúvas de uma barriga

Hassum responde se perdeu a graça ao emagrecer 60 kg

Qual é a graça deles?

  • Marcelo Adnet

    Gênio, cara especial, com talento. Digo que é uma vomitada de talento. Do nada ele faz "ploft".

    Imagem: Roberto Filho/Brazil News
  • Porta dos Fundos

    Abriram um universo novo na internet, numa mídia nova que eu estou tentando entender e tenho muita vontade de entrar.

    Imagem: Divulgação
  • Marcius Melhem

    Irmão para vida toda. Um dos maiores caras que já encontrei na minha vida. Ele é um workaholic. Um monstro, grande diferente.

    Imagem: Luiz C. Ribeiro/Divulgação/TV Globo
  • Choque de Cultura

    Adoro. Falam de forma descontraída, popular, sobre cinema, de todos os filmes que estão. Acho muito bacana.

    Imagem: Reprodução
  • Danilo Gentili

    Amigo querido. Me convidou para dois trabalhos que infelizmente não consegui participar. Ele fez participação quando comecei o "Lente de Aumento", antes de ser o Gentili famoso. Tem que trocar de carro. O carro dele tá velho.

    Imagem: Reprodução/TVUOL
  • Fábio Porchat

    Mais um querido. Ele continua o mesmo cara desde que vi começar na redação do "Zorra Total". Ele merece todo o sucesso que faz, porque continua o mesmo gente boa.

    Imagem: Reprodução
  • Paulo Gustavo

    Vi em Niterói, fazendo participação no "Nós da Fita", testando material da Senhora dos Absurdos. Olha o tamanho que esse cara chegou com humor popular. Ele elevou o nível de homem fazendo papel feminino. Difícil superar.

    Imagem: Reprodução
  • Rafinha Bastos

    Polêmico, inteligentíssimo. E abrindo portas agora para a gente mostrar que o brasileiro consegue fazer comédia fora do país. Às vezes erra e joga a bola na arquibancada; Mas alguém tem que fazer esse papel.

    Imagem: Lucas Lima/UOL
Micaele Martins/Arte UOL

"Talvez hoje não teria Trapalhões"

Leandro Hassum defende o "politicamente correto" no humor

Como driblar a intolerância

Não é que Leandro Hassum não tem opinião sobre política. O problema é que, para ele, não existe mais ambiente minimamente sadio para manifestá-la. A “fla-flulização” do debate minou as redes e contaminou qualquer discordância sobre qualquer assunto.

Se as pessoas não gostam de mim, falam que meu humor é velho, e eu acho que é clássico, porque eu vou querer brigar com ela? Você vai continuar achando velho e eu vou continuar achando clássico. Eu não vou convencer ninguém a me assistir

Para Hassum, eis o crime capital da intolerância de opinião: estamos brincando de censura. “Cansei de ver amigos brigando por dizer que não se pode falar sobre fulano porque fulano é de tal partido. Para, brother! A gente é amigo! Se eu não puder falar isso com um amigo, vou falar com quem?”, entende.

“Até para, de repente, se eu estiver falando cagada, o meu amigo me levar para um canto e dizer: ‘Olha, te adoro, mas o que você falou não é bem assim. Dá uma lida neste artigo’. Aí eu vou ler e posso até falar para ele: ‘Pô, cara, falei merda mesmo’. Já aconteceu comigo."

Lidando com "haters"

Vou até ser um pouco arrogante no que eu vou falar. Mas eu tenho tanta certeza da minha qualidade profissional que consigo respeitar a opinião de todo mundo. Eu só absorvo o que eu acho que realmente vai fazer diferença

Leandro Hassum

Danilo Verpa/Folhapress Danilo Verpa/Folhapress
Reprodução/sopacultural Reprodução/sopacultural

O cara do cinema nacional

Em cartaz com "Não se Aceitam Devoluções", primeiro filme em que surge "slim", Hassum já rodou outros três longas previstos para os próximos meses: "Chorar de Rir", "O Candidato Honesto 3" e "Amor Dá Trabalho". Desde a cirurgia bariátrica feita em 2014 e os mais de 60 kg perdidos, papéis estão chovendo.

De colegas atores, roteiristas, produtores costuma receber elogios diários e paparicos. Exemplo: na entrevista coletiva de “Não se Aceitam Devoluções”, sua performance foi comparada pelo colega de elenco Jarbas Homem de Mello à de Jerry Lewis, lenda da comédia americana. Hassum e Lewis que, por sinal, contracenaram em "Até que a Sorte nos Separe 2".

Como manter os pés no chão em meio a tudo isso? “Jarbas é um querido, mas eu nunca me coloquei nesse lugar de importância. Sei que tenho um tamanho para uma geração de comediantes, mas não acredito no glamour da profissão. Digo que esta profissão é 99% trabalho e 1% perfurmaria”, diz.

Todo esse 1% eu acho um porre. Respeito o trabalho deles, mas todos esses amigos que se levam a sério, que acham que são foda e estão acima do bem e do mal, que cagam regra na profissão, eu ignoro. Não acredito em pompa nem em glamour babaca

A crítica que mais magoou

Reprodução/Instagram/leandrohassum Reprodução/Instagram/leandrohassum

Piadista compulsivo

Tente conversar por dez minutos com Leandro Hassum sem ouvir pelo menos uma chiste, uma piadinha, um comentário espirituoso sobre a situação. Sobra até para o repórter cinematográfico de origem asiática. “Isso começou na minha vida como forma de defesa. Virei comediante e ator com 15 anos porque essa sempre foi minha defesa."

Eu tinha que ser muito bom de papo e engraçado para a menina esquecer que eu tinha corpo do pescoço para baixo

A compulsão por piadas já causou problemas, mas em geral causa soluções. “Uma vez, na Globo, a gente ia receber um prêmio na Suíça, em Montreux. Falei pro Marcius: 'Por que a gente não aproveita e grava [o programa] 'Os Caras de Pau’ lá como especial de Natal?'. O problema é que seria uma puta grana para rodar, R$ 450 mil de orçamento”, recorda.

“Nos reunimos com o financeiro e falei pro Eduardo Figueira [diretor de produção da TV Globo]: 'Imagina eu na neve, gordão, rolando de esqui!'. Ele disse: 'OK, me convenceu. Preciso ver essa cena'. O Marcius ficou irado: ‘Eu cheio de argumento e você diz que vai rolar na neve, e dá certo?’ Respondi: “É o carisma”. (risos) Eu sempre fui o cara que ele levava nas reuniões para fazer graça e distrair o cliente da piada ruim que ele iria escrever. (risos)”

Vai largar a comédia?

Micaele Martins/Arte UOL

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