Que Goiânia vive um bom momento para quem quer respirar música sertaneja, não há dúvidas. Mas o que será desse mercado daqui alguns anos? Para os que estão vivendo a nova fase da capital do sertanejo, a música seguirá passando por ciclos, mas resistente. O que deve mudar mesmo é a forma de trabalho nos bastidores.
"Acho que os escritórios vão se dividir mais. Eles juntaram muito, hoje um escritório tem muitos artistas", opina o produtor Leo Targino. Pensando na música, ele acredita que a sofrência sobreviverá. "Às vezes fica um pouco mais pop, um pouco mais funk, um pouco mais diferente, mas sempre volta pro brega, pro sofrimento."
Apesar de acreditar que nada é para sempre, Marcus Vinicius, diretor de marketing da ÁudioMix, ainda vê espaço para o ritmo crescer em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. "O que ainda nos preocupa um pouco é com o preconceito que, às vezes, existe dentro dos grandes centros. Mesmo com o crescimento das plataformas digitais, a gente continua tendo menos penetração nesses lugares do que poderia ser."
Representante de um dos maiores escritórios do gênero, ele defende que a estrutura deve se manter, já que só proporcionou bons resultados aos artistas. "A música brasileira vive de ciclos. Esse ciclo do sertanejo já vem durando bastante por causa de talentos, dos escritórios se profissionalizando nos últimos anos, ter aprendido como se faz as coisas, ter saído do interior e visto como se trabalha, como se faz marketing, como você lança e cuida de um produto."
Outra mudança que já começa a aparecer e deve ganhar ainda mais força é o maior reconhecimento dos compositores, que hoje trabalham em um ritmo frenético para atender a demanda. Os nomes deles já começam a aparecer mais, ainda que com certa dificuldade. No Spotify, por exemplo, desde fevereiro existe um campo que disponibiliza o nome do autor da música. Entre as dez funções que o serviço de streaming disponibiliza, "créditos da música" surge na última posição, mas está lá.
"O autor não aparecia em lugar nenhum. Hoje a gente quer o nosso nome no YouTube. Hoje a gente quer que fale o nosso nome na internet, na televisão", defende Waléria Leão, compositora de hits como "50 Reais" (Naiara Azevedo), "Cadeira de Aço" (Zé Neto e Cristiano), "Nada, Nada" (Henrique e Juliano) e "Amor da Sua Cama" (Felipe Araújo), entre outros.
Filha de Fátima Leão, premiada por músicas gravadas por duplas como Zezé Di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó e Leandro e Leonardo, Waléria carrega no sangue a facilidade em criar hits e acompanhou as mudanças no mercado. "Antigamente não pagavam a liberação, não pagavam a exclusividade, não pagavam nada. Tinha que fazer de graça. Isso quando não tinha que dar parceria pro cantor. Se não ele não gravava. Hoje já entendemos que sem a música não tem artista."