Partiu Goiânia

Como a cidade se transformou no mais importante mercado da música sertaneja

Renata Nogueira Do UOL, em Goiânia

Pirâmide de sucessos

Foi um investidor que convenceu a cantora Brunna Assis a sair de Resende Costa, em Minas Gerais, e se mudar para Goiânia. Aos 17 anos, ela foi morar sozinha na cidade com uma promessa: gravar um EP com cinco músicas inéditas e manter uma agenda de shows movimentada. As canções foram gravadas, mas ela se transformou em uma artista engavetada. Foram meses sem ninguém ouvir seu nome (ou sua voz) até romper com o empresário e conseguir reerguer a própria carreira.

Crias do início dos anos de 1990, a dupla Lincoln e Marcelo já atendeu por outro nome: Marçoan e Marcelo. Os dois já tinham uma trajetória escrita em São Carlos, no interior de São Paulo, quando perceberam que era hora de uma renovação no visual e uma reciclagem no repertório para seguir adiante. Deixaram a família na cidade e rumaram para Goiânia.

Júlia Moratto só viu uma luz iluminar seu sonho de cantar depois que os pais, comerciantes, venderam um apartamento em Brasília, onde ela cresceu, e voltaram a viver em Goiânia para investir na carreira da filha de 18 anos. 

Essas são só algumas das muitas histórias  por trás de um mercado cada vez mais concorrido e acelerado, no qual anônimos circulam em busca de um palco para chamar de seu: o da música sertaneja

Antes conhecida apenas como berço de talentos, a capital de Goiás tem adotado filhos de lugares próximos e distantes que estão em busca da fórmula do sucesso. E não são apenas cantores que chegam à cidade atraídos por um fluxo cada vez mais movimentado. Produtores, músicos, compositores e profissionais de todos os gêneros estão interessados no que a cidade tem a oferecer hoje como o epicentro desse mercado.

São diversos agentes trabalhando em conjunto para que o negócio da música sertaneja e dos ritmos irmãos que formam a nova música pop do Brasil siga aquecido.

No topo da pirâmide estão os grandes escritórios: WorkShow, ÁudioMix (do VillaMix Festival) e Mega Produções Artísticas reúnem várias estrelas nacionais. No meio, os estúdios e casas de composição que preparam os repertórios de acordo com o perfil de casa artista. E na base, aspirantes dos mais diferentes lugares que veem na cidade de localização privilegiada no centro do país o lugar ideal para aparecer, crescer e dominar a sua playlist.

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Academia de música

É em quintais com churrasqueiras e piscinas e em cômodos aconchegantes de casas sem placas de identificação que muitos talentos são criados e treinados em um sistema nada caseiro. Na Oficina LKS, criada há três anos por Blener Maycom em sociedade com a produtora Kelly Lima (que deixou São Paulo para viver em Goiânia), artistas iniciantes, intermediários e até profissionais são orientados todos os dias.

A oficina funciona em uma casa de fachada discreta no Setor Marista, região que concentra bares e casas noturnas. Os cômodos foram transformados em salas de aula com espelhos, computadores e instrumentos musicais à disposição para receber alunos, individualmente, em três períodos do dia. Ali, eles têm aulas com orientadores das áreas de produção, canto, dança e teatro para aprimorar desde técnicas vocais até a presença de palco.

O processo de formação é montado de acordo com a necessidade de cada um, que passa por uma avaliação prévia com o próprio Blener Maycom. A formação pode durar de um a seis meses, às vezes mais. Os talentos são avaliados semanalmente antes de partirem rumo ao sucesso.

"Eu tenho como saber quanto tempo o artista ficará comigo depois de um ou dois meses. Aí dou uma ideia. Tem gente que precisa ficar seis meses se dedicando muito para chegar lá. Agora se não se dedicar, não dá certo", diz o produtor. Ele chegou a cancelar várias vezes a gravação do DVD que revelaria a cantora Naiara Azevedo --o primeiro case de sucesso da oficina-- ao notar que ela não estava pronta ao cantar uma então desconhecida música: "50 Reais".

Para Blener, responsável por engatar a carreira de Naiara e de Felipe Araújo, irmão de Cristiano Araújo, o sucesso só não acontece para quem não quer.

Para mim, o grande segredo é a pessoa querer e se dedicar. Não acredito em sorte, 99% é dedicação. Assim como era o Cristiano e é a Naiara agora. Não dorme, não come direito, ainda acha tempo, vai pro Faustão e arrebenta. Aquele que não quer passar por esse sacrifício, dificilmente vai ser sucesso.

Com processos individualizados, Blener não abre os valores da preparação em sua oficina, já que os talentos têm diferentes demandas, mas gravar uma faixa com o produtor, por exemplo, não sai por menos de R$ 15 mil.

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Adeus, faculdade

Júlia Moratto, a menina cujos pais venderam um apartamento em Brasília para investir em sua carreira, é uma das alunas da Oficina LKS. Primeira artista da família, ela concluiu o ensino médio e, há seis meses, passou a frequentar a nova escola. "Tenho isso aqui como uma faculdade mesmo", diz ela sobre o local onde marca presença todos os dias da semana.

Segunda, quarta e sexta a gente foca mais no canto, composição, essas coisas. E terça e quinta a gente foca mais em dança, expressão facial, expressão no palco”

A jovem, apaixonada pela música sertaneja desde criança, quando ouvia em casa, quer conquistar seu lugar no mercado e, para isso, já tem sua própria fórmula: uma pitada brega, em uma estratégia para atingir o Nordeste, e suas influências pop: RBD, que a despertou para a música, Rihanna e Camila Cabello.

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Novas cabeças, novas ideias

Caminhando ao lado de um mercado tocado por grandes escritórios, uma galera jovem e empolgada leva novas ideias para a "Nashville brasileira". Blener Maycom (foto), músico e produtor de 35 anos, usou sua formação em música na UFG (Universidade Federal de Goiás) e especializações até em psicologia da música para empreender e criar a oficina que ele garante ser pioneira no Brasil.

"Na faculdade a gente tinha a ideia de que a pessoa precisava evoluir ao extremo para depois entrar no mercado", conta ele sobre o modelo que criou, baseado em uma academia. "Me apaixonei [pelo sertanejo] depois de estudar. Pela música, pela forma de fazer acontecer, pela parte empresarial, pela parte de evolução artística. É um dos poucos estilos que dá valor a evolução do artista."

Entre um café e outro, Blener conta sobre sua trajetória na ampla e luxuosa sala de seu escritório em frente a um paredão de vidro com vista para um salão onde antes funcionaram bares e boates (foi ali que ele, como músico, tocou pela primeira vez). Agora, passados alguns anos, o local recebe convidados para assistir às apresentações daqueles que estão sendo formados na Oficina LKS. 

Antigamente [o pólo do sertanejo] era São Paulo, por um tempo foi Campo Grande e agora é Goiânia. Em São Paulo já tinham estúdios grandes, produtores de renome, compositores. Com a migração de artistas e escritórios pra cá, começou uma nova geração [de produtores]. Aí resolvi implantar tudo aquilo que Goiânia não tinha.

O produtor ainda destaca a localização privilegiada da capital de Goiás no mapa. "Estar no centro do Brasil favorece muito. Se você pensar um raio de 1.000 km, você está em quase todos os lugares. Para quem está 1.000 km abaixo da gente, já não favorece muito ir pra cima pensando em turnês. Então todo mundo começou a entender que Goiânia é um lugar que poderia absorver tudo e estruturar."

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Foi justamente a localização que fez com que o produtor e compositor Leo Targino (foto), 23, trocasse há dois anos Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, por Goiânia. "Daqui é mais fácil distribuir", resume ele, que é um dos autores de músicas como "Respeita os Caipiras" (Jads e Jadson), "Perfume" (Bruno e Marrone), "Um Beijo Pra Você" (Samyra Show) e "Mudou a Vibe" (Léo Santana), entre outras.

Quando eu vim pra Goiânia, botei os pés aqui e Deus falou: 'Vai'. Foi incrível. Em dois anos, fiz o que não tinha feito em dez

Junto com a irmã mais velha, a cantora Janaynna Targino, ele fundou a LT Music, que funciona como estúdio e casa de composição --e onde artistas, compositores e produtores se reúnem para "queimar uma carninha" e fazer a resenha tomando um tererê. É uma relação que mescla amizade e negócios. "A gente produz a música e aí tenta chegar no artista através de amigos, de conhecidos. Às vezes o cara tem um amigo que mostrou [a música] pra um outro amigo". 

Para Janaynna, Goiânia hoje é São Paulo de dez anos atrás. "Antigamente todo mundo queria ir pra São Paulo porque era lá que tudo acontecia. Hoje todos querem vir pra Goiânia. É aqui que está tudo acontecendo no mercado sertanejo", diz ela, que viveu por quatro anos na capital paulista. "Crescemos absurdamente. Foi um 360º muito grande na nossa vida", conta ela, que nasceu em Campo Grande e tem sete discos lançados, o último gravado ao vivo em Goiânia.

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Repaginados

Foi essa renovação do mercado sertanejo que levou Lincoln e Marcelo para o centro do país. "Viemos para atualizar a cabeça do que era antes para uma cabeça atual. Modernizar", resume Marcelo, que está há seis meses trabalhando na oficina de Blener Maycom.

"Antigamente, os produtos aqui de Goiânia eram feitos em São Paulo. Inverteu pra cá. A gente procura sempre fazer o melhor. Está todo mundo vindo para cá agora", diz Lincoln.

Após quatro discos lançados, "o primeiro ainda em vinil", como lembra Lincoln, eles agora preparam o primeiro DVD da carreira. "Antes levava três meses gravando só para sair um CD. Hoje está tudo muito mais fácil para gravar", diz Marcelo sobre o trabalho da dupla, que pretende contar ainda com a ajuda de um investidor baseado em Goiânia.

Os artistas "made in Goiânia"

Arquivo pessoal Arquivo pessoal

Beijo e tchau

Nos últimos seis anos de sua vida, Tayná Agazzi, 21, passou por três diferentes regiões do país atrás de seu sonho: cantar. "Eu vou para onde o vento me levar, né?", diz. Depois de sair de Toledo, no Paraná, Tayná foi do sul do Brasil ao nordeste. Tentou a carreira por três anos em bares de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, formou uma dupla, desfez a parceria, partiu para Salvador, e - depois de um ano - resolveu tentar o Centro-Oeste: "Quero ir embora para Goiânia".

A vida de shows em bares e em cidades pelo interior da Bahia e a tentativa fracassada da dupla pesaram na decisão da mudança. Os pensamentos musicais do parceiro dez anos mais velho não afinavam com as ideias de uma Tayná que estava saindo da adolescência. "Cada um seguiu o seu caminho".

Foi seguindo seu caminho solo em Goiânia, e decidida a investir no sertanejo depois de algumas tentativas na MPB, que ela encontrou Naiara Azevedo, a conterrânea que daria um gás na batalha dela que começou aos 15 anos. A música "Beijo e Tchau", parceria de Tayná Agazzi com a cantora paranaense, soma hoje quase 10 milhões de visualizações só no YouTube.

O encontro com Naiara foi possível com o apoio de Blener Maycom, que ela já conhecia de nome e procurou para gravar apenas uma música. Foi quando Tayná investiu três meses em um treinamento intensivo na escola em Goiânia e gravou seu primeiro DVD. Além de Naiara, ela também gravou uma faixa com Felipe Araújo. O vídeo de "Doutor (Tarja Preta)" já foi visto 1,5 milhão de vezes.

Apesar de ter se encontrado no sertanejo, Tayná não vê problemas de mudar de estilo novamente se necessário. "A música é uma mudança constante. É um ciclo, vai passar por tudo. Pra onde o vento me levar, eu tô indo. Amo a música, não tenho uma limitação de questão de estilos, gosto de tudo e me abriria pra cantar outro estilo facilmente", diz ela, que se inspira em Anitta e na britânica Jessie J.

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Do Raul Gil para Goiânia

Camila e Thiago é uma dupla planejada desde a barriga dos pais. Os irmãos de 29 e 30 anos cantam desde que eram crianças, mas ficaram conhecidos depois de ganharem destaque em 2007 em um concurso do programa Raul Gil. Nascidos em Firminópolis (GO), cidade a 126 km de Goiânia, a dupla começou a cantar em festinhas de escola e se mudaram para a capital em 2005.

Dois anos depois de chegarem na cidade, o pai inscreveu os filhos em um concurso do Programa Raul Gil, gravado em São Paulo. Foram necessários apenas oito programas de exibição nacional para que eles começassem a ser reconhecidos. "Andava no shopping em São Paulo, o povo olhava, tirava foto", lembra Thiago, que conta ter tido até a roupa rasgada em contato com os fãs. "A gente era mais conhecido em São Paulo do que aqui em Goiânia, na época".

De volta a Goiânia, ganharam o apoio de um vizinho famoso, João Reis, pai de Cristiano Araújo. A dupla tocava em bares da cidade e cobria a demanda de shows que o cantor não podia atender depois de estourar. Camila e Thiago chegaram a gravar com ele o clipe da música "Por Trás de um Grande Amor", em 2013, dois anos antes da trágica morte do sertanejo.

Com 19 anos de carreira, a dupla segue fazendo shows em Goiás e estados como Pará, Roraima, Tocantins e Minas Gerais. A ideia agora, segundo Camila, é intensificar o nome da dupla na cidade. "A gente quer dar uma massificada bacana em Goiás, aí depois nós vamos descambar". 

Antigamente, se você queria gravar um trabalho muito top, você tinha que ir pra São Paulo. Agora, não. Os produtores tops estão vindo pra cá. Toda a classe que envolve o sertanejo está concentrada em Goiânia.

A dupla, que começou cantando covers de Sandy & Júnior e Mamonas Assassinas nos anos 90, e já dividiu cachê de R$ 50, trabalha hoje com cachês na casa dos R$ 4.000, a média para shows em bares de Goiânia. Eles estão trabalhando também um single ,"Tá Esperando o Quê?", parceria com a dupla Cleber & Cauan. O próximo passo é um disco completo, previsto ainda para 2018.

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Arquitetura é plano B

Conhecida antes como Thauana Gabriela, a cantora de 21 anos já teve dupla com um primo até os 12 anos, um disco gravado e uma música resposta que viralizou na internet ("Sou Foda", de Carlos e Jader). Aos 15, estourou nas rádios locais com as músicas "Além da Vida" e "Amor Perfeito", e chegou a abrir um show para Cristiano Araújo com um público de 10 mil pessoas.

Agora chamada estrategicamente apenas de Thauana, ela divide seu tempo entre o escritório de arquitetura, a faculdade e a música. Foi a decisão de fazer faculdade, afinal, que a permitiu sair de Morrinhos, no interior de Goiás, e partir para a capital.

Os cantores aqui circulam tranquilamente. Quando os bares estão no auge, acaba que todo mundo vai aos mesmos lugares. É fácil encontrar.

Mas, mesmo estando no centro do ritmo que escolheu, nem tudo acontece tão fácil. "Tem uma dificuldade querer investir na música sertaneja. Precisa ter uma entrega maior, e também precisa de alguém pra ajudar. É um pouco complicado. Não é só cantar."

A ideia agora é se graduar no final do ano, guardar seu diploma de arquitetura em um baú e transformar os shows que faz aos finais de semana em bares em uma carreira que ocupe 100% de seu tempo.

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Tocando em frente

Brunna Assis, a cantora mineira engavetada por um investidor que não cumpriu com os acordos, enfrentou um "transtorno", como ela chama os primeiros meses em que ficou sob a tutela do empresário. "É um pouco difícil, né? Esse meio é muito, assim, como que eu falo? Muito traiçoeiro. Você nunca sabe quando você pode acreditar, confiar em alguém. Mas a gente acaba pegando o rumo da carreira com fé em Deus e vai".

Ela está em Goiânia há cerca de um ano e meio e hoje toca a carreira sozinha com a ajuda de seu pai. 

Eu passei em duas faculdades em Minas Gerais, mas eu amo a música de paixão. Acho que é por isso que estou aqui. Pensei: 'Vou tentar a música. Estou nova ainda'. Aí vim embora, na cara e na coragem

Aos poucos, a cantora foi conhecendo a cena da cidade e hoje, mesmo independente, conseguiu gravar um DVD com produção de Thiago Centurião, que já trabalhou com Paula Mattos, Gabriel Gava e Gulherme e Santiago.

"São duas músicas inéditas e quatro pot-pourri de regravações", conta. Uma delas é "Contato Bloqueado", música que está tocando nas rádios de Minas Gerais e de Goiás. "O sertanejo universitário e as mulheres estão aí abrindo as porteiras aí pra gente", comemora.

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Um funkeiro entre sertanejos

O funk, o arrocha e o axé já não são mais vistos como concorrentes e se aproximam dos artistas e do sistema de trabalho quase perfeito do sertanejo. É nessa onda que surfa Jeninho, filho de Jenner Melo, conhecido produtor musical de Goiânia.

Aos 17 anos, ele desistiu da carreira no futebol para investir no meio que convive desde criança. Mas em vez de sertanejo, Jeninho quer apostar no funk, unindo sua habilidade em fazer rimas e letras e inspirado por Jerry Smith, voz do hit "Bumbum Granada" que tem circulado pela cidade.

Estou buscando criar uma identidade que não fuja do comercial, mas ao mesmo tempo não quero ser mais um Kevinho, mais um Livinho. Quero ter meu diferencial

Jeninho é um dos alunos da Oficina LKS, onde começou a frequentar em janeiro. "Prezo muito a questão da dança. É difícil um funkeiro que dança, que tem aquela presença de palco, que impressiona, como um Léo Santana tem", explica, citando outro nome fora do circuito sertanejo que assinou com um escritório de Goiânia recentemente.

"Aqui que está chegando o funk em Goiânia. Meu pai produziu uma música do Israel Novaes, que tem ele, que é um cantor sertanejo, tem o Psirico, que é do axé, e tem o Jerry Smith, que é um funkeiro. Os três numa música só", observa Jeninho, confiante que a mistura de ritmos só vai crescer.

Ciente da cobrança que vai enfrentar pelo contato privilegiado com produtores e artistas, ele diz não ter pressa. "Foi por isso que eu vim para a oficina. Não quero fazer de qualquer jeito."

Onde ver e ser visto

Reprodução/Facebook/Santafé Hall Reprodução/Facebook/Santafé Hall

Santafé Hall

Uma das principais boates da cidade, recebe shows de nomes que estão estourados na cena local e nacional. O UOL visitou a casa e viu o show de Dan Lellis, cantor goiano que trocou a música sertaneja pelo rap. Independente do gênero, o público tinha as letras na ponta da língua.

Reprodução/Facebook/Alabama Choperia e Restaurante Reprodução/Facebook/Alabama Choperia e Restaurante

Alabama

A choperia de nome sugestivo privilegia o repertório sertanejo. É lá o local para quem quer ver duplas tocando ao vivo enquanto prova um rodízio de petiscos ou uma feijoada. As próximas apostas estão no palco, mas o público também tem a chance de ver um cantor famoso na mesa vizinha.

Reprodução/Instagram/@velho_texas Reprodução/Instagram/@velho_texas

Velho Texas

Inaugurado no meio deste ano, o bar e restaurante chama a atenção pela jabuticabeira no meio do salão e o clima faroeste que inspira a decoração e o cardápio. O repertório musical também privilegia o sertanejo. Thiago Brava é um dos que já tocaram na casa em um palco 360º.

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Futuro

Que Goiânia vive um bom momento para quem quer respirar música sertaneja, não há dúvidas. Mas o que será desse mercado daqui alguns anos? Para os que estão vivendo a nova fase da capital do sertanejo, a música seguirá passando por ciclos, mas resistente. O que deve mudar mesmo é a forma de trabalho nos bastidores.

"Acho que os escritórios vão se dividir mais. Eles juntaram muito, hoje um escritório tem muitos artistas", opina o produtor Leo Targino. Pensando na música, ele acredita que a sofrência sobreviverá. "Às vezes fica um pouco mais pop, um pouco mais funk, um pouco mais diferente, mas sempre volta pro brega, pro sofrimento."

Apesar de acreditar que nada é para sempre, Marcus Vinicius, diretor de marketing da ÁudioMix, ainda vê espaço para o ritmo crescer em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. "O que ainda nos preocupa um pouco é com o preconceito que, às vezes, existe dentro dos grandes centros. Mesmo com o crescimento das plataformas digitais, a gente continua tendo menos penetração nesses lugares do que poderia ser."

Representante de um dos maiores escritórios do gênero, ele defende que a estrutura deve se manter, já que só proporcionou bons resultados aos artistas. "A música brasileira vive de ciclos. Esse ciclo do sertanejo já vem durando bastante por causa de talentos, dos escritórios se profissionalizando nos últimos anos, ter aprendido como se faz as coisas, ter saído do interior e visto como se trabalha, como se faz marketing, como você lança e cuida de um produto."

Outra mudança que já começa a aparecer e deve ganhar ainda mais força é o maior reconhecimento dos compositores, que hoje trabalham em um ritmo frenético para atender a demanda. Os nomes deles já começam a aparecer mais, ainda que com certa dificuldade. No Spotify, por exemplo, desde fevereiro existe um campo que disponibiliza o nome do autor da música. Entre as dez funções que o serviço de streaming disponibiliza, "créditos da música" surge na última posição, mas está lá.

"O autor não aparecia em lugar nenhum. Hoje a gente quer o nosso nome no YouTube. Hoje a gente quer que fale o nosso nome na internet, na televisão", defende Waléria Leão, compositora de hits como "50 Reais" (Naiara Azevedo), "Cadeira de Aço" (Zé Neto e Cristiano), "Nada, Nada" (Henrique e Juliano) e "Amor da Sua Cama" (Felipe Araújo), entre outros.

Filha de Fátima Leão, premiada por músicas gravadas por duplas como Zezé Di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó e Leandro e Leonardo, Waléria carrega no sangue a facilidade em criar hits e acompanhou as mudanças no mercado. "Antigamente não pagavam a liberação, não pagavam a exclusividade, não pagavam nada. Tinha que fazer de graça. Isso quando não tinha que dar parceria pro cantor. Se não ele não gravava. Hoje já entendemos que sem a música não tem artista."

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