Música e Resistência

Confira tudo o que aconteceu no último dia de Campus Party

patrocínio Selo Publieditorial

Mc Carol

"Eu sou tímida. O único lugar que eu me solto é no palco"

Quem vê MC Carol batendo de frente com o machismo e o racismo em seu funks não imagina quão tímida ela é. Acompanhada pela empresária que cuida de sua carreira, Ana Paula Teixeira Paulino, ela foi se soltando e, aos poucos, dividiu sua história com quem estava no TNT LAB. “Eu fui criada pelos meus bisavós. Meu avô era um homem muito forte e ele me preparou desde pequena. Quando fui pra escola, ele disse que eu ia sofrer muito preconceito, mas que eu só precisava me importar com eles”, contou. “Eu queria ser uma mulher como meu avô”.

Ao invés de fazer perguntas, boa parte da plateia aproveitou a interação com a MC para agradecer: tanto mulheres quanto homens disseram se inspirar no caminho percorrido por ela rumo ao empoderamento ou na quebra dos padrões de beleza. “É muito complicado ser negro, é complicado ser gordo, é complicada ser mulher. Eu não tô nem aí”, disse Carol.

Os desafios de viver de música independente na era da conectividade

Desde a queda da indústria de grandes gravadoras, os artistas ficaram perdidos em relação à cadeira produtiva da música. Os avanços tecnológicos permitem gravar com qualidade em praticamente qualquer estúdio, mas como fazer a impressão de discos, a produção de turnês, a agenda shows e, enfim, conseguir viver de música? O Selo Risco é uma resposta compartilhada para isso.

Montado a partir da necessidade de bandas independentes que já compartilhavam músicos e composições, o coletivo — que hoje conta com bandas como O Terno, Charlie e os Marretas e Mustache e os Apaches — passou por um período de estudos e imersão antes de passar a oferecer apoio em várias frentes, como a mineração de dados de plataformas de streaming. “A música é um universo de demandas infinitas em que se tem escolher prioridades e criar soluções”, diz o sócio e produtor musical João Bagdadi. “A gente pega muitas referências de outras áreas. Estar em rede, estar conectado, estar trocando é muito importante”.

Coletivo Sistema Negro

Coletivo une produtores, artistas, empreendedores e educadores negros no combate ao racismo

Para o Coletivo Sistema Negro, música, identidade, negritude e cidadania andam juntos. O grupo começou a partir de quatro negros que circulando e tocando pelo centro expandido de São Paulo, em áreas abastadas, viam pessoas com a mesma cor de pele que eles carregando equipamentos, na produção dos eventos, mas nunca em posição de destaque. Conversaram sobre o tema e se uniram para mudar o cenário. “Começamos a fazer o coletivo primeiro com festas e depois começamos a ver outras potências nisso. As ações que a gente promove têm o diferencial de que os negros são protagonistas”, diz Oga Mendonça.

Boa parte dessas ações acontecem hoje no digital e na área da cultura, mas visitas a ambientes corporativos com poucas pessoas negras em posições de destaque e um podcast para discutir com profundidade o racismo estrutural da sociedade estão nos planos para 2017. “O negro é enxergado como provedor de diversão: te dá música, te dá futebol, te dá sexo. Além da parte da cultura e da diversão, a gente também se coloca no espaço intelectual”, diz a publicitária Joana Mendes.

Música, negritude, identidade e resistência

“Ser negro e conseguir sobreviver é um ato de resistência. Queria ouvir de vocês quais foram as tretas pra chegarem onde chegaram”. Foi assim que o cientista social Márcio Black, mediador do debate entre a rapper Tássia Reis, MC Carol e Fábio Parteum, abriu a conversa sobre “Música e Resistência”. “Eu tenho uma equipe de mulheres negras, e a gente vive pensando em como contornar os obstáculos que estão postos e a gente não vai conseguir remover, como a invisibilidade”, disse Tássia.

Ao longo de um papo intenso, cada participante dividiu um pouco de sua história e dos desafios que ainda enfrentam. Questionada se não é cansativo precisar bater de frente com pessoas que lhe atacam apenas por cantar sobre quem é e a realidade em que vive, MC Carol deu uma das respostas mais aplaudidas no quarto dia do TNT LAB. “Eu não vou cansar nunca, porque que parece que o preconceito nunca cansa. Quando posto uma foto, tem sempre gente elogiando e gente ofendendo. Se eles não vão cansar, eu também não vou me cansar nunca”.

Emicida

"Ou as vitórias do Brasil são pra todos ou a gente vai viver enclausurado, com medo do nosso vizinho, pro resto da vida"

Rapper e idealizador do Laboratório Fantasma, Emicida compareceu ao TNT LAB para contar um pouco sobre como música, resiliência e negritude se entrelaçam em sua história. “As pessoas que descendem de espanhóis e italianos conseguem falar dos pais, dos avós, dos bisavós, dos tataravós. A gente não tem essa oportunidade. O nosso vínculo com a nossa ancestralidade foi destruída, e a gente passa a vida inteira tentando resgatar isso. Dentro da nossa cabeça a gente construiu a nossa própria África”, diz.

“Toda vez que eu viajo no bagulho de racismo, é uma ferida que se abre”, explicou. Até por isso, músicas como Amoras, em que fala sobre a aceitação da raça por sua filha pequena, são um importante recurso para evitar que as novas gerações passem por situações como as que ele contou ter vivido. “Se a gente conseguir chegar na vida das crianças e fazer elas se sentirem fortes e inteligentes, quando os racistas chegarem vão perder viagem”.

Assista ao vídeo para entender um pouco mais sobre o que Emicida aprendeu (e compartilhou no TNT LAB) sobre empreendedorismo, sociedade, música e resistência.

Celebrações

Castro Brothers

Os irmãos Matheus e Marcos Castro reúnem humor, música e games no projeto “Um joystick, um violão”, que mistura clássicos da mpb e do videogame. Na apresentação que encerrou as atividades do TNT Lab, eles tocaram desde músicas com trocadilhos infames envolvendo nomes de famosos até clássicos nerds compostos por eles, como “Geração Pokebola” e a interminável “Dragon Quest Caboclo”. Solte o som e libere o riso.

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