Cidade hackeada

Confira tudo o que aconteceu no terceiro dia de Campus Party

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Tim Neri

"Antes de mais nada, a cultura é resistência"

Artista, grafiteiro, educador, produtor cultural, Tim Neri é pesquisador e idealizador do projeto Imargem — que usa o tripé arte, meio ambiente e convivência para articular a cultura a partir do Grajaú, bairro às margens da represa Billings, na Zona Sul de São Paulo. “Grande parte da produção cultural inovadora é a produção cultural que se dá dentro dessas quebradas”, diz.

Tim acredita que artistas urbanos não são aqueles que apenas pintam ou pixam paredes. São pessoas que ocupam uma cidade. “Esse também é o papel da arte. São pequenos terrorismos poéticos que fazem as pessoas refletirem sobre os espaços”. Em um momento em que a administração da cidade de São Paulo declarou guerra ao pixo e aos grafites que considera mal cuidados, Mauro Neri — irmão de Tim e também grafiteiro — acredita que a investida pode acabar motivando quem tenta se fazer ouvir com tinta nas ruas. “Tem que colocar mais inteligência para cuidar desse assunto, e não força”.

Triciclo motorizado

Invenção brasileira transforma qualquer cadeira de rodas em triciclo motorizado

Com calçadas e ruas esburacadas e projetos urbanos que dificultam a locomoção, a mobilidade é um desafio constante para pessoas com deficiência motora. Pensando nisso, os gêmeos Júlio e Lúcio Oliveto desenvolveram o Kit Livre, sistema independente de roda e motor elétrico que, além de ser até 30% mais barato que uma cadeira motorizada, pode ser acoplado a qualquer cadeira de rodas para transformá-la em um veículo que pode alcançar até 40km/h (modelo esportivo).

“Quando peguei pela primeira vez estava no parque da cidade, e foi como se estivesse andando de bicicleta de novo. Fiquei com sorriso de orelha a orelha, que nem bobo” disse Victor Almeida, cadeirante que já testou a criação em condições radicais como pistas de skate ou de cross. “O Kit Livre transforma cadeira em triciclo elétrico, mas acima de tudo aumenta a autonomia de quem a utiliza”, diz Júlio.

BlinDJ

Ferramenta de discotecagem para deficientes visuais, BlinDJ une música e inclusão

Quando começou a trabalhar como DJ, o deficiente visual Anderson Farias marcava em braile os vinis e os CDs que pretendia usar e torcia para ninguém trocar a capa sem que ele soubesse. Depois de muitos anos na área (tocou durante o revezamento da tocha paralímpica) e atuando inclusive como professor —  formou 32 pessoas no primeiro curso de DJ voltado para cegos Brasil — Anderson realizou um sonho ao pegar um software padrão do mercado de música eletrônica e criar uma interface para cegos poderem utilizá-lo com autonomia.

“Quando os programadores fazem um programa ou hardware, nem sempre pensam que serão utilizados por um cego”. Primeira iniciativa do tipo acessível para usuários de PC, o BlinDJ estará disponível para download nas próximas semanas na página www.blindj.com.br. “Como eu estou introduzindo os meus pares na área digital, acho que é um bom primeiro passo”.

Cidade Hackeada

Muito mais do que tecnologia

Quando pensam em hackers, a maioria das pessoas pensam em sistemas eletrônicos e nas pessoas que se propõem a quebrá-los. Não é uma leitura errada, mas é reducionista.

No terceiro dia do TNT Lab, os participantes da mesa “Cidade Hackeada” foram além das dicas de e-mails confiáveis (Riseup e Protonmail), serviços de mensagens criptografados (Telegram e Signal), buscadores que não armazenam sua informação (Duckduckgo) e navegadores seguros (Tor). Explicaram que hackear também é provocar mudanças e romper com o que está estabelecido do seu círculo de amigos à sociedade como um todo.

Para Fernanda Monteiro, sócia do Infopreta, “hackear uma cidade também é pensar em pessoas, em processos, em embate crítico”. Para a consultora de comunicação e tecnologia digitais Carine Roos, “uma cidade hackeada é uma cidade inclusiva, mais participativa”, com mais canais de conversa e dados abertos para que as pessoas possam se equipar com conhecimento, acessar e até monitorar os dados do governo — não apenas o contrário.

Mauro Neri da Silva

A Veracidade do grafiteiro

Filho de migrantes baianos que se encontraram na periferia de São Paulo, Mauro Neri cresceu em uma região marcada por conflitos de moradia, meio ambiente e violência. Aprendeu a desenhar copiando histórias em quadrinhos e, graças ao apoio de uma professora (Maria Vilani, mãe do rapper Criolo), foi introduzido ao universo das artes. Apesar de ter se graduado em Licenciatura de Artes Visuais, considera que só se tornou um artista quando, sob a influência de “caras que nunca tinham feito faculdade”, os grafiteiros Niggaz e Jerry Batista, começou a expressar sua verdade nos muros.

“Me apaixonei perdidamente pela arte. Me apaixonei perdidamente pela rua. E a partir de então saí todos os dias pra grafitar”. Conhecido pelas casinhas amarelas que espalha por São Paulo e pelos jogos de palavras com conjugações da palavra “ver”, Mauro (@reveracidade) dividiu com a plateia do TNT Lab sua vivência nas ruas da cidade, que incluem episódios de violência policial e até uma detenção recente por conta do programa Cidade Linda. “A gente sente que é importante continuar a resistência”, diz.

Celebração

Dani Negra & Craca

A rapper que traz no sangue a música negra (mistura rap, soul, funk e samba) se uniu ao músico, produtor e artista visual que toca com um sintetizador preso no peito. Em sua apresentação Dani mandou a letra sobre negritude, apropriação cultural e sobre ser mulher — disparando nomes como Maria Bethânia, Elis Regina. Cora Coralina, Cecília Meireles e Maria Bonita. Som e mensagem de respeito!

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Afrohooligans

O trio formado por Marcos Felinto, Everton Andrade e Guilherme Henrique é um projeto de música espiralada, que une as pick-ups e os tambores de forma repetitiva como agentes provocadores para alteração da consciência. Ou, como eles resumiram na mensagem espalhada pelas telas do TNT Lab: um “projeto xamânico de música eletrônica”.

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