Os sete hospitais regionais de Mato Grosso entraram em situação de emergência em junho de 2017 e não saíram mais. O resultado é a superlotação permanente do Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá, o único da capital. “Ele atende tudo. É a grande mãe do estado, atende também pessoas do Acre, Rondônia, de cidades de fronteira com a Bolívia”, diz o secretário-adjunto da Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá, Milton Corrêa da Costa Neto.
Com população estimada em 3,3 milhões de habitantes pelo IBGE, Cuiabá precisa de mais hospitais públicos. “Não temos hospital estadual. O que estava sendo construído deu problema e está abandonado”, diz o diretor de imprensa do Sindicato dos Médicos do Mato Grosso, Adeildo Martins de Lucena.
É uma referência ao Hospital Central, cujas obras começaram em 1984 e foram abandonadas em 1991. As instalações abrigariam 300 leitos. Entregue na primeira semana de julho de 2018 ainda inacabada, a obra não vai aumentar a oferta de leitos em Cuiabá. O prédio vai abrigar consultórios e piscinas aquecidas para tratamento de hidroterapia do Centro de Reabilitação Integral Dom Aquino Correa, que atende cerca de 2.000 pessoas por mês.
Em Goiás, com quase 7 milhões de habitantes, o governo estadual iniciou um processo de regionalização de hospitais para atender os pacientes do interior. Desde 2010, três unidades municipais já foram estadualizadas e outras três estão em análise. Segundo o ex-superintendente executivo da Secretaria da Saúde Deusdedith Vaz, o estado tem mapeado as regiões carentes de serviços de alta complexidade para reduzir o fluxo para a capital. Foi isso que orientou a construção do Hospital de Uruaçu, no norte goiano, e os hospitais de Águas Lindas e Santo Antônio do Descoberto, no entorno do Distrito Federal. Em obras desde 2001, o Hospital de Urgências de Santo Antônio do Descoberto estava sendo construído pelo município e foi assumido pelo estado em 2014.
Mais do que hospitais, faltam médicos pediatras nas unidades de saúde pública na capital e no interior de Goiás. Com quase dois médicos por habitante - acima da média nacional, segundo o Conselho Federal de Medicina - o estado sofre para contratar pediatras. Eles são apenas 445 num universo de 9 mil médicos registrados na capital. Segundo a assessora técnica da Secretaria de Saúde de Goiânia, Ana Lúcia Leão, foram quatro processos seletivos com vaga para pediatria desde o ano passado. Nenhum teve sucesso. "Chamamos todos que passaram, mas a maioria não foi assinar o contrato. O problema é o salário", diz Ana Lúcia. Como há um teto salarial máximo que a prefeitura tem de cumprir, a saúde pública não consegue concorrer com a iniciativa privada. "Existe um déficit de profissionais, mas estamos tentando suprir de todas as formas", afirma.
No Mato Grosso do Sul, faltam médicos especialistas. A fila de pedidos de consulta se aproxima de 5 mil solicitações apenas na capital. "Tudo tem que ir à Justiça", diz o defensor público da área de saúde de Campo Grande, Hiram Nascimento Cabrita de Santana, que ajuiza ações com frequência para pacientes que precisam de uma simples consulta médica com especialista. Grande parte dessas ações envolve cirurgias eletivas - entre elas, cirurgias ortopédicas. "O quadro da pessoa vai piorando e ela só consegue realizar determinadas cirurgias com ordem judicial, e olhe lá", diz ele. Em maio, a fila para realização de procedimento cirúrgico em ortopedia em Campo Grande tinha mais de 450 pacientes.