Bastou uma visita da reportagem a apenas cinco escolas estaduais de Belém, no Pará, para saber que não será tarefa fácil. Os problemas são muitos: de falta de aparelhos de ar condicionado a fios de eletricidade expostos, passando por pilhas de carteiras e entulhos em pátios ou salas sem iluminação, com janelas quebradas e espaços coletivos onde o mato tomou conta e quase chega à cintura de uma pessoa de estatura mediana.
"O ar-condicionado não presta, tem muita infiltração, a merenda não tem qualidade e muitas salas estão caindo aos pedaços também", resumiu o aluno Wesley Bruno, 17, morador de Ananindeua, que cursa o 2º ano do ensino médio no colégio Paes de Carvalho. Tradicional instituição educacional no Pará que tem quase 2.000 alunos matriculados, é o colégio mais antigo da região, fundado em 1841. Conhecido por ter educado diversos governadores do estado, hoje não reflete mais a glória do passado.
Na escola Marechal Cordeiro de Farias, que atende 920 alunos, o que encontramos é bem parecido: reformas inacabadas e mato alto. A vice-diretora da escola, Sonia Ferreira, diz que apenas 15 das 40 salas disponíveis estão em uso. "Foram trocadas cem lâmpadas e nós temos 40 salas. Então, na verdade, deveriam ter sido trocadas pelo menos de 500 a 900 lâmpadas para contemplar corredores e salas de aula", reclama.
"A educação no Pará, hoje, pede socorro", diz o coordenador geral do Sintepp (Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação Pública do Pará), Alberto Andrade Júnior. Em maio deste ano, os professores de toda a rede estadual de ensino paralisaram suas atividades. O principal motivo: o estado precário de conservação das escolas. Das mil escolas do estado, 50% precisam de reparos, admite a secretária de Educação do Pará, Ana Cláudia Hage.
Para tentar driblar isso --e os baixos indicadores educacionais do estado--, a secretaria vem trabalhando em parceria com os municípios em um pacto pela educação. De acordo com os dados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2017, o Pará tem os piores indicadores do ensino médio da região Norte e ocupa a penúltima posição no país. Em uma escala que vai de 0 a 10, a nota das escolas públicas e privadas foi de apenas 3,1, longe da meta de 4,2. Os demais estados do Norte também não se saíram muito bem: Rondônia (4,0), Acre (3,8), Tocantins (3,8), Amazonas (3,5), Roraima (3,5) e Amapá (3,2).
A precariedade das escolas se reflete nos números e na qualidade do ensino no país. O relatório "Um Olhar sobre a Educação", elaborado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), aponta que as taxas de matrículas têm caído entre os menores de 14 anos e que 69% dos jovens entre 15 e 19 anos estão matriculados nas instituições de ensino.