Bolsonaro x Haddad

Direita ou esquerda? Projetos opostos de poder têm até 28 de outubro para conquistar a maioria do eleitorado

Gustavo Maia e Luciana Amaral Do UOL, no Rio e em Brasília
Reuters e UOL Reuters e UOL

Voto a voto

Após uma disputa voto a voto na reta final da apuração, os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) passaram ao segundo turno das eleições presidenciais, a ser realizado em 28 de outubro. Segundo a ministra Rosa Weber, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a realização do segundo turno foi matematicamente confirmada às 20h48 deste domingo.

Bolsonaro, representante da direita, fez uma transmissão ao vivo em suas redes sociais após o resultado. Ele reconheceu que teve votação menor no Nordeste e falou a esse eleitorado. "O que eu quero para o Nordeste é uma região que através do seu povo, humilde, conservador e trabalhador fique livre da mentira, fique livre da coação que sempre existe por parte do PT. (...) O outro candidato sabemos quem o cerca e com quem ele se aconselha. Não queremos a volta deste tipo de gente para ocupar o Palácio do Planalto", declarou.

O candidato agradeceu os "quase 50 milhões que sufragaram os votos hoje" e voltou a criticar as urnas eletrônicas, culpando-as por não ter vencido no primeiro turno.

Já o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, agora com a missão de unir a esquerda, disse, em pronunciamento após o resultado, que quer "unir os democratas do Brasil" no segundo turno. Segundo ele, a nova etapa da eleição é uma "oportunidade inestimável que o povo nos deu". O candidato também agradeceu PCdoB e Pros, que formam a coligação com o PT.

Favorito nas pesquisas de intenção de voto, o candidato do PSL votou na manhã deste domingo na zona oeste do Rio sob forte esquema de segurança. Ele chegou ao seu local de votação, a Escola Municipal Rosa da Fonseca, logo cedo e disse acreditar em vitória em primeiro turno. Haddad votou em uma escola na zona sul da cidade pela manhã, onde foi recebido com panelaço de alguns vizinhos do local. A militância reagiu cantando: "Bate panela, pode bater, quem tira o povo da miséria é o PT".

No Rio, durante todo o dia, apoiadores de Bolsonaro se aglomeraram diante de seu condomínio, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. No começo da noite, com o início da apuração e as pesquisas de boca de urna, o clima era de comemoração. 

O mesmo aconteceu no quartel-general do petista, em um hotel na zona sul em São Paulo. Com a divulgação da pesquisa boca de urna do Ibope, petistas gritaram e se abraçaram.

A confirmação do segundo turno fez os militantes petistas gritarem e exaltarem cânticos na sala em que acompanham a apuração. Primeiro, gritaram "Haddad é Lula". Depois, cantaram “eu vou com ele, eu vou com ela; eu vou com Lula, Haddad e Manuela”.

Bolsonaro, ao contrário de Haddad, não fez aparição pública para comentar o resultado. Segundo o presidente em exercício do PSL, o advogado Gustavo Bebianno, a ausência do presidenciável na entrevista coletiva deve-se ao seu "estado de recuperação" clínica e ao "esforço muito grande" feito por ele pela manhã, durante a votação.

O candidato Ciro Gomes, do PDT, consolidou-se no terceiro lugar. Em pronunciamento em Fortaleza, Ciro disse que, no segundo turno, ficará "ao lado da democracia" e lutará contra o fascismo. 

Ao ser indagada por jornalistas sobre as declarações de Bolsonaro, que afirmou não ter sido eleito em primeiro turno por causa do sistema eletrônico de votação, Rosa Weber, presidente do TSE, afirmou que falas desse tipo trazem "preocupação", mas devem ser tratadas com "tranquilidade".

"Preocupação sempre nós temos, mas nós temos que enfrentar nossas preocupações com tranquilidade. Num estado democrático de direito, o bom é isso, que as pessoas possam se expressar", disse. "As pessoas têm direito a ter suas opiniões", afirmou a ministra.

Em live, Bolsonaro questiona TSE

Haddad vai ao 2º turno e defende democracia

Theo Marques/UOL e Raysa Leite/AFP Theo Marques/UOL e Raysa Leite/AFP

Da saída de Lula à facada: uma campanha dramática

Uma batalha nos tribunais e um ataque a faca ao líder das pesquisas deram o tom dramático das eleições deste ano.

A disputa pelo Planalto começou bem antes da campanha. O clima eleitoral já começou a esquentar com o imbróglio em torno da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Preso pela Operação Lava Jato desde abril, Lula pretendia concorrer ao Planalto e chegou a protocolar o pedido de registro de candidatura junto ao TSE. No entanto, em 1º de setembro, o tribunal rejeitou o pedido com base na Lei da Ficha Limpa. Lula foi condenado em janeiro a pena de 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito do processo do tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo.

O PT recorreu da decisão, mas, para não se ver fora da eleição presidencial, acabou indicando, no último dia do prazo eleitoral, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como substituto, o que ocorreu só no último dia 11 de setembro. A deputada estadual no Rio Grande do Sul Manuela D'Ávila (PCdoB) passou a compor a chapa como candidata a vice-presidente.

A escolha por Haddad não foi unânime no partido. Algumas das dúvidas no primeiro mês de campanha eram se Haddad conseguiria se viabilizar como um candidato forte por ter entrado mais tarde que os concorrentes na corrida e se Lula conseguiria transferir os votos ao pupilo. Uma das principais logomarcas da campanha petista trazia os dizeres “Haddad é Lula”.

Enquanto o PT se dividia entre a defesa de Lula e a entrada tardia de Haddad, Bolsonaro se estabeleceu em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. Haddad largou em desvantagem, mas conseguiu se isolar em segundo e, em uma semana, chegou a crescer 11 pontos percentuais, segundo o Ibope.

O curto período de campanha e os reles 8 segundos no horário eleitoral gratuito não atrapalharam o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas – o candidato usou e abusou das redes sociais para propagar suas ideias, muitas delas polêmicas.

Algumas dessas declarações, consideradas machistas, geraram um movimento de mulheres de todo o país, que foram às ruas gritar #elenão, em referência a Bolsonaro.

Os aliados do capitão também não ficaram atrás no quesito controvérsias. O candidato a vice-presidente na chapa, general Antônio Hamilton Mourão (PRTB), e o coordenador econômico de seu programa de governo, Paulo Guedes, apelidado por ele como seu “posto Ipiranga”, também deram o que falar.

O primeiro, por exemplo, criticou o pagamento do 13º salário e adicional de férias ao trabalhador, além de sugerir que lares pobres “sem pai e avô” são “fábricas de desajustados”. O segundo afirmou pretender criar um imposto nos moldes da extinta CPMF e modificar a alíquota do Imposto de Renda. Diante das declarações, Bolsonaro pediu que cancelassem a participação em eventos e ficassem quietos.

Na reta final da campanha, veículos de imprensa revelaram documentos que indicam que Bolsonaro teria ameaçado a ex-mulher – que nega as afirmações – durante disputa pela guarda do filho, furtado um cofre e ocultado bens. Há ainda relatos de "comportamento explosivo" e "desmedida agressividade" por parte do candidato. Bolsonaro nega todas as acusações.

Mas o maior abalo da campanha não viria da imprensa, e sim das ruas. No dia 6 de setembro, na cidade mineira de Juiz de Fora, quando Bolsonaro sofreu uma facada enquanto fazia uma passeata. Ele teve de suspender a campanha nas ruas e, após duas cirurgias, ficou internado em hospital de São Paulo por 23 dias. Hoje, o candidato se recupera em sua casa, no Rio de Janeiro.

Fábio Vieira/Fotorua/Estadão Conteúdo Fábio Vieira/Fotorua/Estadão Conteúdo

"Terceiras vias" ficam pelo caminho

Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Alvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB) e João Amoêdo (Novo): todos tentaram, em algum momento da campanha, se viabilizar como opção alternativa a Bolsonaro e ao PT.

Marina Silva chegou a aparecer em segundo lugar, atrás somente de Bolsonaro, em cenários sem Lula nas pesquisas do Ibope, porém, foi encolhendo ao longo das semanas. Fatores que ajudaram a derreter sua candidatura foram a intensificação da polarização da disputa e a substituição de Lula por Haddad, para quem parte de seus votos migrou.

Na reta final do primeiro turno, em terceiro lugar, Ciro Gomes se vendeu como a única opção contra Bolsonaro e Haddad por ter condições de vencer os dois no segundo turno, de acordo com simulações de institutos de pesquisa. Ele pediu que os eleitores fizessem uso do voto útil e chegou a sugerir, indiretamente, que Alckmin e Marina desistissem de suas campanhas em seu favor para unir o centro.

Texto divulgado por sua assessoria de imprensa, mas apócrifo, afirma que os eleitores de Marina deveriam “migrar para o Ciro imediatamente, até porque há muita identidade programática entre os dois” e o mesmo se aplicaria aos eleitores do tucano.

Com a segunda campanha mais cara, declarada em mais de R$ 45 milhões do próprio bolso, perdendo em valores apenas para Alckmin, Henrique Meirelles não passou da faixa dos 2% de intenção de voto. Isolado politicamente e amarrado à figura impopular de Michel Temer, não comoveu os eleitores.

Quando Bolsonaro foi hospitalizado pelo ataque a faca, em respeito ao ocorrido e ao estado de saúde dele, os adversários deram uma trégua nos ataques ao concorrente. Cerca de uma semana depois, retomaram as críticas em propagandas eleitorais, debates e discursos uns contra os outros, com destaque ao pesselista. Tanto Ciro quanto Haddad chegaram a comparar Bolsonaro ao ditador austríaco Adolf Hitler. Dos postulantes à terceira via, somente Ciro conseguiu quebrar a barreira dos dois dígitos nas pesquisas de intenção de voto com a estratégia.

Agora, além dos eleitores fiéis aos dois candidatos classificados para o segundo turno, o restante da campanha deverá se polarizar entre os que não querem a volta do PT ao poder e os que recusam a retórica de Bolsonaro. As próximas pesquisas deverão apontar para onde migrarão os votos dos ex-concorrentes tidos como moderados: para o antipetismo ou para o #elenão.

Com quem Bolsonaro se aliou e quanto gastou na campanha

Arte UOL

Com quem Haddad se aliou e quanto gastou na campanha

Arte UOL
Walterson Rosa/Framephoto/Framephoto/Estadão Conteúdo

O que Bolsonaro promete

Leo Correa/AP Photo Leo Correa/AP Photo

Defesa da família

"Brasil acima de tudo, Deus acima de todos". O slogan, além de ter batizado a coligação com o PRTB do seu vice, o general Hamilton Mourão, da reserva do Exército, serviu para sintetizar o discurso nacionalista e religioso que pautou toda a campanha.

De criação católica, Bolsonaro atraiu a comunidade evangélica ao se apresentar como cristão e defendeu a moralização da sociedade brasileira em "defesa da família". Engajou-se no combate ao que chama de "ideologia de gênero", que, segundo ele, visaria "erotizar" crianças nas salas de aula.

O plano de governo da candidatura registrado na Justiça Eleitoral destaca que "os frutos de nossas escolhas afetivas têm nome: FAMÍLIA!". "Seja ela como for, é sagrada e o Estado não deve interferir em nossas vidas", aponta o documento.

Bolsonaro também empunhou a bandeira da flexibilização da posse e do porte de armas para a legítima defesa da população, principalmente no meio rural. O objetivo seria proteger fazendeiros contra integrantes do MST (Movimento Sem Terra), que ele considera um grupo "terrorista".

Reiteradamente, o presidenciável alardeou em discursos que a propriedade privada é "sagrada", em aceno aos ruralistas, que aderiram à campanha.

O deputado federal também defende a redução da maioridade penal e o endurecimento do Código de Processo Penal, além do projeto "Escola sem Partido", para combater a suposta "doutrinação ideológica" nas escolas.

Sob o lema de que a bandeira brasileira é verde e amarela, e não vermelha, cor identificada com o PT e com o comunismo, Bolsonaro defendeu a libertação do "marxismo cultural", que teria se unido "às oligarquias corruptas para minar os valores da Nação e da família brasileira".

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Silvia Constanti/Valor/Agência O Globo Silvia Constanti/Valor/Agência O Globo

Conversão ao liberalismo na economia

Bolsonaro se apresentou como defensor do liberalismo econômico e favorável ao enxugamento do Estado, à redução da carga tributária e ao ajuste fiscal, além da privatização de parte das estatais. Ele prometeu preservar pelo menos a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil.

No entanto, o histórico de votações do presidenciável na Câmara é, em parte, contraditório em relação ao atual discurso liberal.

Como parlamentar, votou contra as principais tentativas de reforma da Previdência e contra as grandes privatizações, como o fim do monopólio do petróleo e o das telecomunicações nos anos 1990. Ele também se opôs à criação do Plano Real, que estabilizou a moeda brasileira há 24 anos.

Comandado pelo economista Paulo Guedes, o programa do candidato prevê a criação do Ministério da Economia, que deve ser chefiado por ele. A pasta deve abarcar as funções hoje desempenhadas pelos ministérios da Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio.

No governo Bolsonaro, o Banco Central deve atuar de forma "independente", mas alinhado com o ministério, ao qual ficarão subordinadas as instituições financeiras federais.

Umas das propostas de Guedes é a unificação do Imposto de Renda para 20% para aqueles que recebem acima de cinco salários mínimos, aproximadamente R$ 5 mil. Os que estiverem abaixo desse piso ficarão isentos. A ideia provocou polêmica quando veio a público.

O presidenciável costuma dizer que o dinheiro para colocar em prática o seu plano virá do corte de gastos públicos e do combate à corrupção "tolerância ZERO com o crime, com a corrupção e com os privilégios". Segundo o programa de governo, segurança, saúde e educação serão prioridades.

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Marlene Bergamo/Folhapress

O que Haddad promete

Reprodução/Facebook Reprodução/Facebook

Revogação de reformas

Na economia, Fernando Haddad voltou seu discurso à socialdemocracia, com foco no fim das desigualdades sociais e no Estado como indutor do crescimento econômico. Uma das principais vitrines de Haddad é prometer revogar reformas promovidas pelo governo de Michel Temer (MDB).

Entre as reformas a serem revogadas, caso seja eleito, estão a do ensino médio e a trabalhista. Ele também propõe enviar ao Congresso Nacional uma proposta de emenda constitucional para revogar o teto de gastos públicos, que limita despesas da União à inflação do ano anterior. Durante a campanha, Haddad declarou que, com o teto hoje em vigor, cobra-se "a execução de uma medida que nenhum país adotou, nem na mais aguda crise, a Grécia, a Argentina. A Argentina está em crise agora. Nem o FMI [Fundo Monetário Internacional] ousou impor à Argentina aquilo que o governo Temer se autoimpôs e impôs ao país".

Por outro lado, ele defende a promoção de reformas tributária e previdenciária. Quanto à primeira, ele afirma ser preciso uma tributação direta sobre lucros e dividendos e a implementação gradual do IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que reuniria uma série de tributos existentes. Essa última proposta é similar à defendida por Temer e discutida há anos no Congresso, sem consenso. 

Ainda no âmbito tributário, Haddad pretende reestruturar a tabela do imposto de renda de pessoa física, isentar quem ganha até cinco salários mínimos (atualmente, o equivalente a R$ 4.770) e aumentar alíquotas para o que chama de "super ricos".

Quanto à reforma da Previdência, Haddad já disse que o tema não pode ser tabu e se mostrou aberto a negociações, embora não constem propostas de alterações na área em seu plano de governo e critique a desenvolvida pelo governo Temer. Pontos que podem ser discutidos pelo petista, mais flexível do que correligionários, são idade mínima e valores de contribuição.

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Fátima Meira/FuturaPress/Estadão Conteúdo Fátima Meira/FuturaPress/Estadão Conteúdo

Contrapontos a Bolsonaro

No plano de governo, Fernando Haddad apresentou contrapontos às propostas de Bolsonaro. Enquanto este se diz convertido ao liberalismo econômico e foca em costumes sociais, Haddad propõe forte presença do governo federal no desenvolvimento de políticas públicas e na afirmação de direitos.

Na educação, parte das bandeiras defendidas pelo petista são investir, de forma progressiva, 10% do PIB na área, criar a "Escola com Ciência e Cultura" em oposição à "Escola Sem Partido", expandir matrículas no ensino superior e nos ensinos técnico e profissional, interiorizar universidades e institutos federais, e promover alterações na Base Nacional Comum Curricular do ensino fundamental.

Na saúde, propõe criar a rede de clínicas de especialidades médicas, implantar o prontuário eletrônico em todo o país, intensificar mutirões de cirurgias e fortalecer programas como Mais Médicos, Saúde da Família e Farmácia Popular.

O programa de governo petista pretende modificar a legislação penal, reservando a privação de liberdade para condutas violentas e promovendo a eficácia das alternativas penais. Também afirma ser preciso analisar experiências de resultados positivos da descriminalização e regulação do comércio de drogas. Ao mesmo tempo, promete investir na Polícia Federal para o combate ao tráfico e ao consumo de entorpecentes, além de federalizar o combate ao crime organizado.

A proposta de política econômica inclui ainda a revisão do acordo entre Embraer e Boeing, dar duplo mandato ao Banco Central (inflação e emprego), instituir o programa "Meu Emprego de Novo" -- com a retomada de obras paralisadas, por exemplo --, e implementar a renda básica de cidadania -- aprovada, mas nunca regulamentada.

Em uma das afirmações mais polêmicas, Haddad afirmou querer criar condições para elaborar uma nova Constituição com a convocação de uma Assembleia Constituinte exclusiva, sem dar mais detalhes.

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Quem é Jair Bolsonaro

  • Negócio de família

    Jair Bolsonaro nasceu em Glicério (SP) no dia 21 de março de 1955, mas foi registrado em Campinas, também no interior de São Paulo. Depois que a família se mudou, foi criado no Vale do Ribeira, na região sul do estado. Pai de cinco filhos, ele está no terceiro relacionamento e é casado há 11 anos com Michelle, com quem mora em um condomínio na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro. Três de seus herdeiros são políticos. O primogênito, Flávio (PSL-RJ), 37, é deputado estadual e se candidatou ao Senado nas eleições desse ano. Em 2016, ele ficou em 4º lugar na disputa pela prefeitura da capital fluminense. O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), 36, foi eleito para o primeiro mandato na Câmara quando tinha 17 anos, no ano 2000. No último pleito, ele foi o parlamentar mais votado da cidade. Aos 34 anos, Eduardo (PSL-SP) cumpre o primeiro mandato como deputado federal. Ele é escrivão concursado da Polícia Federal e busca a reeleição. Os três são filhos de Rogéria Nantes, que foi vereadora do Rio por dois mandatos. A segunda mulher do presidenciável, Ana Cristina Valle, se candidatou a deputada federal em 2018, com o nome de urna de Cristina Bolsonaro.

    Imagem: Pedro Ladeira - 9.dez.2014/Folhapress
  • Baixo clero presente

    O próprio deputado se define publicamente como membro "baixo clero" da Câmara, como é conhecido o grupo de parlamentares de pouca influência política no Parlamento. Ao longo das sete legislaturas, Bolsonaro conseguiu aprovar apenas dois projetos de sua autoria. Viraram lei uma proposta que estendeu a isenção do IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) para bens de informática e outro que autorizava o uso da chamada "pílula do câncer" -- a fosfoetanolamina sintética. Ele se notabilizou pelas declarações inflamadas em defesa do regime militar e pelos embates com deputados de partidos de esquerda, principalmente do PT. Um confronto, em particular, marcou pelas consequências jurídicas. Em 2003, ele discutia com a deputada petista Maria do Rosário (RS) quando disse que ela não merecia ser estuprada por ser ?muito feia?. Por conta da fala, repetida 2014, ele foi denunciado e se tornou réu em duas ações penais que tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal), por injúria e apologia ao crime de estupro. O presidenciável tem afirmado que suas declarações estão resguardadas pela imunidade garantida a manifestações de parlamentares. Durante a votação do impeachment de Dilma, ele voltou a causar polêmica ao homenagear ao coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-Codi de São Paulo, um dos principais centros de tortura e repressão durante a ditadura militar. Na ocasião, o deputado federal disse ter votado "pela memória" de Ustra, "o pavor" da petista. No mês passado, o STF rejeitou uma denúncia por racismo apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) por conta de declarações em palestra no ano passado.

    Imagem: Sérgio Lima - 4.ago.1995/Folhapress
  • Do Exército para a política

    Jair Bolsonaro estreou na vida pública nas eleições municipais de 1988, quando entrou para a reserva do Exército ao se eleger vereador do Rio de Janeiro, onde se estabeleceu politicamente. Dois anos depois, ele foi eleito pela primeira vez deputado federal, cargo que exerce há quase 28 anos. Bolsonaro está na sétima legislatura consecutiva. Em três décadas como político, está no oitavo partido, para o qual migrou em março deste ano, para disputar a eleição presidencial. Antes de se filiar ao PSL, ele passou por PDC (de 1989 a 1993), PP (1993 e 2005 a 2016), PPR (1993 a 1995), PPB 1995-2003; PTB, 2003-2005; PFL (2005) e PSC (2016 a 2018). Destes, apenas PP, PTB e PSC continuam a funcionar sob as mesmas siglas.

    Imagem: Wilson Dias - 16.dez.2014/Agência Brasil
  • Capitão e paraquedista

    A formação de Bolsonaro como oficial do Exército ocorreu na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), em 1977, mesmo ano em que se tornou paraquedista. Nove anos depois, ele escreveu artigo para a revista Veja em que pedia aumento salarial para a categoria sem consultar os superiores. Pelo ato, foi preso por 15 dias. Também de acordo com a Veja, em 1987, Bolsonaro disse estar envolvido em um plano para explodir bombas-relógio dentro de quartéis no Rio de Janeiro. Considerado culpado por um conselho do Exército, o militar foi absolvido em recurso pelo STM (Superior Tribunal Militar). O candidato nega as acusações e costuma dizer que a publicação viabilizou sua entrada na política, por torná-lo mais conhecido.

    Imagem: Ricardo Moraes - 22.jul.2018/Reuters

Quem é Fernando Haddad

  • Um professor universitário na política

    Fernando Haddad tem 55 anos e nasceu na cidade de São Paulo. Ele é casado há 30 anos com Ana Estela, com quem tem um filho e uma filha. É formado em Direito, com mestrado em Economia e doutorado em Filosofia pela USP(Universidade de São Paulo). Enquanto universitário, trabalhava na loja de tecidos do pai no centro da capital paulista. Sua atuação política começou no centro acadêmico do curso de Direito da universidade. Formado, trabalhou como analista de investimento do então Unibanco, hoje fundido ao Itaú, e consultor da Fipe (Fundação de Pesquisas Econômicas). O candidato é professor concursado do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP desde 1997, mas licenciou-se ao longo dos anos para dedicar-se à carreira política. Em março de 2015, voltou a lecionar na universidade. Em maio de 2017, pediu nova licença para dar aulas no Insper, instituto privado em São Paulo.

    Imagem: Marlene Bergamo - 21.dez.2016/Folhapress
  • Bandeira do Fies como ministro da Educação

    Entre funções anteriores como assessor especial em governos petistas, ele foi ministro da Educação de 2005 a 2012 nas gestões de Lula e Dilma Rousseff. No cargo, sua principal bandeira foi a ampliação do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e o lançamento do Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais). Quando titular da pasta, também estimulou a expansão de institutos federais voltados a cursos profissionalizantes e técnicos. Críticos levantam o fato de que o Fies hoje tem inadimplência em mais de 50% dos contratos, segundo dados do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento à Educação), e teria sido responsável por aumentar de maneira considerável o lucro de empresários de educação.

    Imagem: Sergio Lima/Folhapress
  • Ciclovias e marginais: Haddad na prefeitura

    Haddad foi eleito prefeito da cidade de São Paulo em 2012, vencendo o tucano José Serra. Ele governou de 2013 a 2016. A passagem pela prefeitura ficou marcada pela abertura da avenida Paulista a pedestres aos domingos e feriados, implantação de faixas exclusivas de ônibus à direita das vias, redução dos limites de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros e pelo estímulo à criação e ao uso de ciclovias pela cidade. Ele tentou a reeleição para o executivo municipal, porém, perdeu para João Doria (PSDB) no primeiro turno.

    Imagem: Avener Prado - 28.jun.2015/Folhapress
  • Petista longe da unanimidade

    Haddad se filiou ao PT em 1983. Na vida partidária interna, identificava-se com uma corrente minoritária (Mensagem ao Partido) até meados deste ano, quando ingressou na corrente majoritária da sigla (Construindo um Novo Brasil), de olho em obter apoio para se firmar como sucessor de Lula. O ex-presidente e petistas históricos, como José Dirceu, fazem parte desta ala. Enquanto prefeito de São Paulo, enfrentou críticas internas que diziam que diziam que ele não se voltou à periferia da cidade e saía pouco às ruas. Nem quando especulado como plano B do PT obteve unanimidade. Haddad disputou o cargo de "segundo poste de Lula", conforme falam adversários, como o ex-governador da Bahia Jacques Wagner, o ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa Celso Amorim e a senadora Gleisi Hoffmann, atual presidente do partido. Após Haddad ser oficializado como substituto de Lula, Manuela D'Ávila (PCdoB) desistiu da candidatura própria e foi anunciada como vice na chapa. Fernando Haddad é réu em uma ação de improbidade administrativa que apura supostas irregularidades na construção de ciclovia em São Paulo e foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por suposto enriquecimento ilícito de maneira indireta ao ter dívidas de campanha eleitoral de 2012 pagas pela empreiteira UTC. Ele nega qualquer irregularidade.

    Imagem: Jorge Araújo - 2.jun.2012/Folhapress

Frases que marcaram a campanha do PSL

Pelo que eu vejo nas ruas, não aceito resultado das eleições diferente da minha eleição

Jair Bolsonaro, em entrevista em 28 de setembro. Ele depois minimizou a declaração justificando

Já tá feito, já pegou fogo, quer que eu faça o quê? O meu nome é Messias, mas eu não tenho como fazer milagre

Jair Bolsonaro, ao ser indagado sobre qual é a sua proposta para a manutenção do patrimônio histórico brasileiro, em 4 de setembro, após incêndio no Museu Nacional

É melhor 'Jair' se acostumando

apoiadores de Bolsonaro, em frase que acabou se tornando slogan da campanha

Frases que marcaram a campanha petista

É hora de sair de casa com cabeça erguida e ganhar esta eleição por Lula e pelo Brasil

Fernando Haddad, ao ser oficializado como candidato do PT à Presidência em substituição a Lula, em 11 de setembro

Ele [Lula] imaginava uma situação em que nós poderíamos criar as condições para que nós pudéssemos, no futuro, criar as condições para que nós tivéssemos uma Constituição mais moderna, mais enxuta, com princípios e valores bem constituídos

Fernando Haddad, ao falar sobre convocação de nova Constituinte em debate da TV Record, em 30 de setembro

Haddad é Lula

campanha do PT, tentando colar a imagem do ex-presidente à do ex-prefeito

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