O programa de governo do PSL fala em "aprofundar a integração com irmãos latino-americanos" e priorizar laços bilaterais em vez de blocos econômicos. Bolsonaro também falou em "dar a devida estatura" ao Mercosul.
Devido ao esperado realinhamento ideológico, Hirst diz que o Brasil pode adiar a entrada da Bolívia, governada pelo presidente de esquerda Evo Morales, na organização. E a Venezuela, suspensa do bloco desde agosto de 2017, deverá ser definitivamente vetada.
O acordo comercial entre Mercosul e a Europa, em negociação há duas décadas, também está em xeque. Maior investidora do bloco sul-americano, "a União Europeia vai ser a primeira a questionar se houver uma onda de violações aos direitos humanos e controle da livre expressão da sociedade”, avalia Hirst.
Ao mesmo tempo que endurecerá contra governos de esquerda no continente, Bolsonaro poderá revisitar o passado e elogiar ditaduras latino-americanas de décadas atrás --assim como fez com a brasileira.
"Pode haver um certo espelhamento no Chile, na Argentina e no Uruguai, onde existem segmentos e atores do passado que podem se sentir fortalecidos no discurso de violação aos direitos humanos relacionados ao período militar", diz.
Bolsonaro já fez um gesto de aproximação com o presidente argentino, Maurício Macri, em 16 de outubro. De iniciativa própria, a Presidência argentina divulgou um comunicado dizendo que Bolsonaro e Macri mantiveram uma "conversa cordial no marco do processo eleitoral do Brasil".
No dia seguinte, o então candidato recebeu em casa, no Rio, senadores chilenos da UDI (União Democrata Independente), partido da base do presidente conservador Sebastián Piñera. A legenda é conhecida no Chile por ter defendido a ditadura de Augusto Pinochet entre 1973 e 1990, quando aproximadamente 3.200 pessoas morreram ou desapareceram.
"Um abraço especial para Piñera. O admiro desde seu primeiro mandato (2010-2014), quando o conheci, e sei que juntos, no bilateralismo e com acordos, temos tudo para trazer progresso e felicidade para nossos povos", disse Bolsonaro na ocasião. "Quero um Brasil grande e um Chile grande."
Outra mudança deve ocorrer no âmbito do programa Mais Médicos. Bolsonaro diz que romperá o acordo com o governo de Cuba, que retém cerca de 26% dos R$ 11.520 pagos aos profissionais. Os médicos cubanos recebem apenas cerca de R$ 3 mil.
“Nossos irmãos cubanos serão libertados”, diz o documento apresentando ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). “Suas famílias poderão imigrar para o Brasil. Caso sejam aprovados no Revalida [exame para a validação de diplomas médicos emitidos no exterior], receberão integralmente o valor que lhes é roubado pelos ditadores de Cuba!”
A medida pode fazer Cuba interromper o envio de profissionais, o que traria impacto na alocação de médicos em áreas do país onde faltam médicos.
Após a confirmação da vitória, Bolsonaro recebeu felicitações do presidente da Argentina, Maurício Macri, que defendeu a continuidade do trabalho entre as duas nações. Sebastian Piñera, presidente chileno, convidou Bolsonaro para ir ao Chile. Empossado recentemente, o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, parabenizou o povo brasileiro e o candidato eleito pelas eleições de hoje. Enrique Peña Nieto, presidente do México que deixará o cargo em dezembro, elogiou o processo eleitoral que culminou na vitória de Bolsonaro.
O presidente da Bolívia, Evo Morales, saudou "o povo irmão do Brasil por sua participação democrática no segundo turno das eleições" e disse "reconhecer" a vitória de Bolsonaro. "Bolívia e Brasil são povos irmãos com laços profundos de integração", acrescentou.