Dois fatores em 2018 podem aproximar as trajetórias entre avô e neto. O primeiro já aconteceu: ACM Neto é presidente do Democratas, partido cuja liderança mais influente desde que possuía outro nome (PFL) foi seu avô, Antônio Carlos Magalhães, morto em 2007 aos 79 anos.
Com Magalhães, o PFL/Democratas participou de todos os governos desde José Sarney (MDB) até Fernando Henrique Cardoso (PSDB), tendo ocupado a posição de vice no governo do último com Marco Maciel.
Outro fator de aproximação seria uma eventual vitória de Neto na disputa pelo governo baiano. Seu avô, que também foi prefeito de Salvador (1967-1970, por nomeação), governou a Bahia em três mandatos (1971-1975 e 1979-1983 eleito por via indireta, e 1991-1994 em eleições diretas).
Com derrotas políticas na Bahia na primeira década do século 21, Magalhães vaticinou em 2006: “vocês verão a volta triunfal do carlismo”. Ele se referia a um tipo de governo conservador, calcado na personalidade de seu líder.
Aos 39 anos, ACM Neto tem sustentado o legado do avô desde que venceu sua primeira eleição, para a Câmara, em 2002. Mas o carlismo, como ficou conhecida a forma de Magalhães fazer política, não existe mais, acredita. “O carlismo, compreendido da forma como foi compreendido até ACM viver, ele não será reeditado nunca mais”.
A política, na época de Magalhães, era mais personalista, diz ACM Neto. Na trajetória de seu avô, seria impensável fazer alianças com pessoas que um dia foram adversárias na política. “Eu, por exemplo, tenho como aliados adversários de meu avô. Meus adversários têm como aliados ex-aliados de meu avô. Então, a política da Bahia passou por muitas mudanças”.
Um exemplo é o senador Otto Alencar (PSD), atualmente próximo ao grupo do ex-ministro Jaques Wagner (PT) e que foi secretário no governo de Magalhães. “Meu momento é outro. A política exige outro tipo de ferramentas, e de ações diferentes da que exigia no período em que ele se consolidou como uma grande liderança”, pontua ACM Neto.
Ele, porém, lembra que não concordava em tudo com o avô. “Eu tive que ajustar muito minha convivência com ele. Apesar de eu muitas vezes discordar, de questioná-lo num ambiente familiar, de ter opiniões bastante diferentes da dele, eu sabia que precisava manter o respeito em função de toda uma história que ele tinha construído”, recorda. “Me orgulho de poder dizer que ele faleceu sem que a gente tenha demonstrado uma mínima divergência em público. Todas as minhas divergências eram da porta de casa ou do gabinete para dentro”.
Se hoje ainda não é conhecida sua posição sobre o pleito para o governo da Bahia, ACM Neto indica que ir ao Planalto não deixa de ser um alvo. “É claro que qualquer jogador de futebol que ama sua profissão, que é vocacionado para isso, sonha um dia em chegar à Seleção Brasileira. Ora, para o político, se a gente for trazer para cá, o político que ama, que é vocacionado, sonha em um dia chegar à Presidência da República”.
Mas ele não quer pensar nisso hoje. Atualmente, diz desejar apenas estar “preparado para qualquer coisa”. Essa visão, em parte, é decorrente de um conselho do avô. “Aprendi com ACM que Presidência não é projeto, é destino. Então, não sei se um dia o destino vai me reservar o direito de ser candidato ou mesmo de ganhar uma eleição nacional”.