Comícios de campanha são os momentos de maior proximidade do candidato com o eleitorado. Por isso mesmo, são o palco perfeito para aquele tipo de promessa que carrega votos: grandes obras de infraestrutura. De pontes a refinarias, de aeroportos a linhas de metrô, rodovias que cruzam o país e até a transposição de um rio, no discurso tudo cabe. As promessas são mais voltadas à infraestrutura porque obras são fáceis de inaugurar e mostrar para a população, diz o cientista político Sérgio Praça, da FGV-RJ. "Remédio você não inaugura”, resume.
Seja porque podem ser concluídas no tempo de um mandato, porque enchem os olhos da população ou porque podem ser inauguradas com festa, elas estão espalhadas de norte a sul em diferentes estágios.
Por outro lado, obras de infraestrutura são as primeiras a serem atingidas por cortes orçamentários. Ao fazer promessas em campanha, o gestor não sabe quanto terá de orçamento no ano seguinte, tampouco se preocupa em saber a previsão do valor, diz Glauco Silva, da FGV-SP. Ao longo do mandato, ao deparar-se com diversos gastos, é mais fácil fazer cortes em obras do que em outras áreas. Assim surgem os atrasos e aditamentos de contratos para retomada. “São obras relativamente complexas. Não é tão difícil de fazer, mas requer dinheiro, capacidade e planejamento, e os governos não têm sido muito eficazes nisso”, diz Praça.
Com o ponto alto das grandes obras concentrado entre 2007 e 2013, de olho na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos do Rio, a conta começou a chegar a partir de 2014. A Operação Lava Jato foi deixando claro que as obras foram feitas com muita corrupção, observa Praça. Com o déficit público estadual na casa dos R$ 159 bilhões, não há dinheiro para os gastos básicos com a população, menos ainda para grandes projetos de infraestrutura. Por isso, completa, as promessas nas eleições deste ano devem se voltar para outras áreas, como segurança pública, por exemplo. “É provável que vá nesse sentido, até porque o público sabe que não tem como prometer obra sem dinheiro.”