Os 11 que não foram

No passado eles já colocaram os titulares de Tite no banco de reservas, e agora vão torcer pelo hexa na TV

Gabriel Carneiro Do UOL, em São Paulo
Arte UOL sobre Lucas Figueiredo/CBF

Douglas; Victor Costa, Neto Gaúcho, Reginaldo Nascimento e Jean Carlos; Elivelton; Ji-Paraná, Andreson, Enrico e Felipe Azevedo; Leandro Pereira. 

Este time nunca foi e jamais será escalado em uma partida de futebol. Ele é formado por jogadores de faixas etárias, níveis e experiências muito diferentes, mas existe pelo menos um ponto em comum: todos, em algum momento de suas carreiras, foram titulares de quem provavelmente iniciará a Copa do Mundo da Rússia pela seleção brasileira. O UOL Esporte reuniu as histórias destes 11 jogadores que já deixaram os homens de Tite, como Alisson, Thiago Silva, Philippe Coutinho e Neymar, no banco de reservas.

Aqui há histórias de orgulho e frustração, sorrisos e lágrimas, boas e más recordações. Há quem tenha desistido do futebol muito cedo, quem esteja realizado na profissão e também quem continue correndo atrás até hoje. Exército, plantação de eucaliptos, moda íntima, festa infantil, 9ª divisão da Suécia, ingressos para jogos da seleção, vídeo de aniversário para a cunhada, histórias e mais histórias.

Independentemente do cenário atual dos antigos titulares, uma coisa é certa: os homens de Tite carregam parte do sonho dos 11 que não foram.

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1- O titular de Alisson

O dia 5 de janeiro de 2011 podia ter mudado a história de Alisson, então titular do sub-20 do Internacional. Ele falhou na estreia da badalada Copa São Paulo de Futebol Júnior, em um frustrante empate por 2 a 2 com um time paulista chamado Primeira Camisa. O erro custou a titularidade, e o Colorado foi até o fim do torneio com outro jogador na vaga: Douglas Soares Palagi, hoje aos 25 anos. Há sete anos ele era titular de Alisson.

O Alisson era o melhor goleiro que o Internacional tinha, não tinha como não jogar. Mas quiseram mudar, não sei o motivo. Todo mundo fala que eu deixei o Alisson no banco e eu digo: 'Pô, nem eu sei como aconteceu

No entanto, Douglas não ascendeu ao profissional do Inter. Parou no "funil", enquanto Alisson subia para ser o que é hoje. Aos 19 anos, em 2013, seu ex-titular deixou o Rio Grande do Sul para defender o Maranhão Atlético Clube. Depois passou pelo Pesqueira-PE, Serrano-BA, Belo Jardim-PE, Glória-RS e por último o Cametá-PA, time de pior pontuação no Campeonato Paraense de 2018, que não venceu nenhuma de suas dez partidas. Depois do mês de março não apareceu mais nada. Hoje Douglas não tem clube, está "em casa esperando, procurando, vendo o que vai aparecer".

Ele se orgulha de já ter sido titular de Alisson, a quem considera um "irmão", acha que essa fama pode abrir portas, mas não nega que encerrar a carreira já passou por seus pensamentos. "Às vezes você se encontra em situações que isso passa na tua cabeça e não tem como tu evitar. É complicado. Mais ainda pelas pessoas à sua volta, que questionam: como o Alisson cresceu tanto e tu decaiu tanto? A verdade é que eu não sei dizer. Acho que as coisas simplesmente não acontecem, por mais que tu procure, se esforce. Pode chegar um momento em que vai acontecer, mas até o dia de hoje nada aconteceu, e não é por falta de tentativas."

O titular de Alisson não quer desistir. 

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14- O titular do Danilo

Torcedores do América-MG se irritam quando alguém diz que Danilo surgiu no Santos. Isso porque, antes de chegar ao clube em que foi campeão da Libertadores, a trajetória do atual titular da seleção brasileira contou com três anos no Coelho, quando foi campeão brasileiro da Série C de 2009 e revelação do Campeonato Mineiro de 2010. Durante a pausa da Copa do Mundo da África do Sul é que ele foi negociado com o Santos, depois com o Porto, com o Real Madrid e agora está no Manchester City. O que poucos sabem é que existe outro time de Minas Gerais na história do jogador: é o Tupynambás, de Juiz de Fora. Lá, Danilo foi reserva.

"Ele sempre foi excelente, mas na idade eu estava melhor", conta Victor Costa, o antigo titular da lateral direita do Tupynambás. Em 2005, no time infantil, Victor era titular e capitão e Danilo o reserva, um ano mais jovem, em busca de espaço ao longo do Campeonato Mineiro. A equipe não fez história e anunciou ao fim da temporada que não disputaria mais o Estadual na base. Cada um que seguisse seu caminho. Victor, conhecido na região, acertou com o Sport Club de Juiz de Fora para jogar o Mineiro de 2006. Danilo ficou no Tupynambás.

"Hoje eu vejo que fiz uma escolha errada", diz, entre risos tímidos. "Eu saí e o Danilo assumiu a posição, ganhou espaço. Então ele fez um amistoso contra o América-MG e o pessoal gostou e levou para lá. Daí começou toda a história". Enquanto isso, Victor Costa tentou continuar: após o Sport esteve no Ceres-RJ, no Tupi, no CTE Colatina-ES e até chegou a jogar profissionalmente. Tudo isso antes dos 20 anos. "Mas chega uma hora em que bate um desânimo. Responsabilidade aumentando, meus pais sem condições de manter...".

Victor deixou o futebol. Estudou e passou na prova da ESA, a Escola de Sargentos das Armas. Ele jogou futebol dentro do quartel, chegou a ser campeão das Forças Armadas, e hoje é sargento do Exército brasileiro servindo no 32º Batalhão de Infantaria Leve situado em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Da primeira companhia de fuzileiros do batalhão, esteve em algumas missões importantes recentes, como a segurança dos Jogos Olímpicos de 2016 e a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro deste ano. 

Estou feliz, satisfeito e realizado. E contente pelo Danilo. Ele tinha um potencial enorme e hoje está levando um pouco do meu sonho também. Querendo ou não eu estive ali, fiz parte da história dele. Só não gosto muito de falar que eu era titular e ele reserva, nem sei como descobriram essa história (risos)

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2- O titular do Thiago Silva

Antes de chamar atenção com a camisa do Fluminense e iniciar sua trajetória de alto nível por Milan, PSG e seleção brasileira, Thiago Silva precisou conquistar espaço na zaga do Juventude. Ele passou por lá em 2004, contratado aos 19 anos, mas não jogou logo de cara. No Gauchão foram apenas sete participações: três como titular da zaga, duas como reserva acionado e duas como titular na lateral direita, inclusive em um dos jogos das semifinais contra o Internacional. Qualquer oportunidade precisava ser aproveitada. 

"Ele chegou como aposta, ninguém conhecia. Mas dava para ver desde o início a qualidade. Era um menino de coração muito bom, muito humilde. Até porque não é só bola, é comportamento também. Ele não demorou para pedir passagem. Eu joguei o Gauchão todo como titular ao lado do Índio (que mais tarde seria ídolo do Internacional) e no Brasileiro o Ivo Wortmann colocou três zagueiros porque o Thiago Silva simplesmente não podia ficar fora. A fase de todos era ótima", relembra Neto Gaúcho. Por alguns meses, o titular de Thiago Silva.

Revelado pelo Juventude em 2003, Neto foi vendido ao São Caetano após dois anos - foi o primeiro reforço do clube para o setor desde a morte de Serginho, ocorrida durante uma partida em outubro de 2004. Ele acha que foi no Azulão que "atrasou uma época importante" para ele: quatro cirurgias de joelho durante os quatro anos de contrato. Em vez de explodir, como nos tempos em que interessou a Santos e Atlético-PR, caiu. Passou por Defensor, do Uruguai, depois Caxias, Arapongas, Vila Nova, Brasiliense e Brasília. Pendurou as chuteiras em maio de 2016, aos 33 anos. "Chega o momento em que não vale mais a pena viver aquilo. O futebol me deu muitas coisas, me trouxe até aqui, mas acabou". Uma das coisas que o futebol deu foi a amizade de Thiago Silva.

Em 2005 sofri um sequestro relâmpago em São Paulo e o Thiago Silva me mandou um e-mail para perguntar como estava, demonstrar solidariedade. Achei muito legal. Merece estar onde está e é um orgulho ver o que aconteceu com ele. E também dizer que um dia ele foi meu reserva (risos)

Fora do futebol, Neto Gaúcho administra uma plantação de eucaliptos no Sul do país e tem uma distribuidora de moda íntima feminina em Goiânia. "Surgiu por acaso e está dando certo, o produto é muito bom", elogia. O ex-zagueiro também acompanha o início da carreira de Henrique, seu filho, no sub-11 do Goiás. "É zagueiro também, não teve jeito."

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3- O titular do Miranda

Revelado para o futebol no Coritiba, Miranda atuou pela equipe profissional nas temporadas de 2004 (do começo ao fim) e 2005 (até julho, quando foi vendido ao Sochaux, da França, por cerca de R$ 6 milhões). Foram 89 partidas e seis gols marcados ao todo, mas há poucos registros da estreia: 14 de dezembro de 2003, no Couto Pereira, contra o Platinense. Ou seja, na temporada anterior à consolidação o então jovem zagueiro já estava no elenco principal. Só não jogava.

"Em 2003 a gente se classificou para a Libertadores e em 2004 o Miranda já entrou no time. Aquela safra era muito boa e o Antônio Lopes subiu alguns garotos. Inicialmente era para compor o elenco mesmo, mas ele tinha uma personalidade tão forte que não demorou nada para virar titular. A Libertadores começou em fevereiro e ele já estava jogando. Dali em diante só cresceu porque era um menino muito focado, de qualidade e poder de liderança", relembra, anos depois, o então titular Reginaldo Nascimento.

Reginaldo formou dupla com Miranda a partir de 2004, mas até então tinha como companheiros jogadores como Odvan, Edinho Baiano, Pícolli e Danilo, todos rapidamente superados pelo garoto da base. Para jogar a Libertadores, aliás, o Coxa contratou um uruguaio chamado Esmerode. Aquela história de xerifão que fala a língua dos árbitros... Esmerode jogou só uma vez pelo Coritiba. Sucumbiu para o garoto, que depois defendeu Sochaux, São Paulo, Atlético de Madri e Inter de Milão - sem jamais ser reserva.

Tendo alguém próximo lá dentro, como eu tenho o Miranda, a gente se sente um pouquinho parte

O antigo titular, depois companheiro e hoje amigo de Miranda está trabalhando na área técnica do futebol. Reginaldo Nascimento já foi auxiliar de Paulo Bonamigo no Al Sharjah, dos Emirados Árabes, está estudando inglês e se especializando em futebol. "Não quero ser treinador, quero ser auxiliar de time bom. Toma menos xingo (risos)". 

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12- O titular do Marcelo

Marcelo teve as primeiras chances como profissional do Fluminense em 2005, sob o comando de Abel Braga. O potencial já era conhecido por todos, mas demorou até que ele virasse titular. Quem mais "atrasou" esse processo foi o também lateral-esquerdo Jean Carlos. Revelado pelo Atlético-PR, o antigo titular de Marcelo havia defendido seleção brasileira de base, Feyenoord e Hamburgo antes de chegar às Laranjeiras. Para ser titular, claro. Não fosse a presença de Marcelo...

"Em termos de momento, incrivelmente, eu estava à frente do Marcelo na minha época. Eu era titular e o reserva não era nem ele, era o Roger (Machado, hoje técnico do Palmeiras)", relembra Jean, que começou a temporada de 2006 escalado pelo técnico Ivo Wortmann. Ivo caiu e o interino Josué Teixeira escalou Marcelo naquela vaga. Depois veio Paulo Campos, que revezou Jean e Roger. O segundo treinador do ano também foi demitido após cinco jogos, Josué voltou como interino e repetiu a escalação de Marcelo, sua aposta pessoal - nesse período, Roger virou zagueiro. Então veio Oswaldo de Oliveira, que firmou o jovem da base como titular. Pouco depois Marcelo começou a ser convocado para a seleção e no fim do ano foi vendido ao Real Madrid.

Jean Carlos ficou pelo caminho. Tantos anos depois, o jogador que já valeu 2 milhões de euros se arma com algumas teorias para explicar porque não triunfou: acumulava traumas psicológicos e físicos porque saiu do Brasil cedo demais e teria sido sabotado no Flu por Petkovic, que não ajudava o lateral na marcação. "Eu mandava ele para aquele lugar. Isso não acontecia com o Marcelo porque ele era jovem, fã do Pet, então acatava tudo e baixava a cabeça". 

Depois da temporada no Rio de Janeiro, Jean Carlos foi para a Grécia, voltou ao Atlético-PR, foi cedido ao Paraná, parou na Coreia do Sul, recusou ser submetido a um teste para jogar no Vitória de Setúbal, em Portugal, e voltou ao Brasil para o Juazeirense, da Bahia. Ele ainda esteve em um clube semi-amador dos Estados Unidos e na segunda divisão de Santa Catarina antes de pendurar as chuteiras em 2016, aos 33 anos.

"Sei que fiz tudo o que podia dentro do meu limite", reflete Jean Carlos, que hoje vive de aluguéis de imóveis comprados na fase boa, como um sítio para festas infantis. "Não tenho luxo, mas tenho qualidade de vida e estou naquela linha dos 2% de ex-jogadores que acabam a carreira e têm casa, carro e um dinheirinho para sobreviver".

Quando fui para o Mundial sub-20 meu reserva era o Adriano (ex-Barcelona, hoje no Besiktas). Quando fui para o Fluminense meu reserva era o Marcelo. Depois virei reserva dos dois e minha história ficou marcada por eu estar à frente dos melhores, mas por um ou outro motivo acabou que não fui eu. Eu sei que fui um bom jogador, mas muita gente não sabe. Eu estive na frente deles, mas escorreguei e eles não. Teve vários momentos em que eu concluí: não era para eu vencer, não era para eu chegar nesse nível mesmo

Jean Carlos, Ex-lateral

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5- O titular do Casemiro

A história de altos e baixos da carreira de Casemiro já é bem conhecida no Brasil. Ele saiu da reserva do São Paulo para o Real Madrid e ainda passou pelo time B espanhol e pelo Porto antes de confirmar o potencial anunciado na base. O que poucos sabem é que até nas categorias menores o atual volante titular da seleção demorou para ser considerado unanimidade. Quem lembra bem disso é Elivelton, que há poucos anos estava à frente de Casemiro.

Elivelton era o camisa 5 e Casemiro o 16 da seleção brasileira no Mundial sub-17 de 2009, disputado na Nigéria. De todos os jogadores que estiveram com o Brasil neste torneio de base, "sobreviveram" e disputarão a Copa do Mundo da Rússia após nove temporadas, só Casemiro era reserva: Alisson, Philippe Coutinho e Neymar já atuavam como titulares. Em 2009, o Brasil foi eliminado na primeira fase, com derrotas para México e Suíça. O número 5, que mostrou com orgulho à reportagem uma foto que tem ao lado do volante do Real Madrid de 2013, quando visitou o amigo na Espanha, atuou em todos os jogos do torneio e o 16 foi titular só no jogo da eliminação.

Sempre que éramos convocados para a seleção brasileira sub-17 eu era o titular e o Casemiro ficava no banco. Mas era uma briga sadia, tanto que tínhamos uma convivência muito boa e somos amigos até hoje

Volante de boa marcação, Elivelton estava no Santos na época de sub-17. Ele foi promovido ao time profissional em janeiro de 2011 pelo técnico Adilson Batista, que foi demitido em fevereiro. Sem o treinador que lhe deu confiança, a promessa ficou até 2014 no Peixe sem jogar. Foi convencido a viajar à Espanha pela possibilidade de um acerto com o Atlético de Madri que nunca rolou. Na volta ao Brasil defendeu Boa Esporte, Portuguesa Santista, Uberlândia e Oeste até chegar ao Esporte Clube Taubaté, onde disputou a Série A2 do Paulista e se prepara para a Copa Paulista em 2018. É titular e planeja um futuro mais próximo do que Casemiro construiu, mesmo que não seja na Europa.

"Quero fazer um campeonato bom, arrumar um empresário que corra comigo e quem sabe um time de maior expressão."

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19- O titular do Willian

Com só 16 anos de idade, em 2005, Willian foi campeão da Copa São Paulo de Juniores pelo Corinthians. Poucos dias depois foi convocado para a seleção brasileira sub-17, iniciou a trajetória vencedora por todas as categorias de base do país e também passou a ter as primeiras oportunidades como profissional. Depois vieram Shakhtar Donetsk, Anzhi, Chelsea e a Copa do Mundo. Em todo esse percurso são poucas manchas ou fracassos.

Um deles foi no Canadá, sede do Mundial sub-20 de 2007. Willian foi titular em apenas uma partida da péssima campanha do Brasil, que avançou no sufoco, como terceiro colocado, e caiu logo nas oitavas de final. O trio titular do meio-campo na ocasião foi formado por Renato Augusto, hoje parceiro de Willian na Copa do Mundo, Leandro Lima, que atualmente defende o Juventude na Série B do Campeonato Brasileiro, e Ji-Paraná, capitão daquela geração, que ainda tinha Marcelo, Jô, Renato Augusto e David Luiz.

Ji-Paraná está sem clube atualmente. Ele passou pelo Corinthians na base, mas chamou atenção no Internacional e depois não conseguiu se firmar. Teve empréstimos a Brasiliense e Grêmio Prudente na época em que os times frequentavam a elite do Brasileirão, mas depois rodou o mundo em países muito alternativos: Hungria, Emirados Árabes, Áustria e Iraque. De volta ao Brasil em 2017 atuou pelo Cascaval e nesta temporada jogou o Campeonato Rondoniense pelo time da cidade que carrega no nome: Ji-Paraná.

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15- O titular do Paulinho

Não é bem que eu tenha sido titular do Paulinho. É que eu era mais velho, então ele jogava menos por causa da idade

Andreson não quer admitir, mas já esteve à frente do atual titular da seleção brasileira no início da carreira de ambos. Na Copa São Paulo de Juniores de 2006, por exemplo, era ele quem iniciava as partidas pelo Juventus, enquanto o companheiro de 17 anos esperava chances nos últimos minutos. O time foi semifinalista da competição e perdeu nos pênaltis para o Comercial, vice-campeão na final diante do América-SP. Andreson e Paulinho estavam emprestados ao Juventus pelo Pão de Açúcar (o atual Audax), e tiveram parceria de muitos anos em mais dois lugares: FC Vilnius, da Lituânia, e Lodz, da Polônia. 

"Na Europa nós começamos a jogar juntos, formar dupla. Seríamos campeões na Lituânia, mas o clube decidiu fazer amistosos na Alemanha e perdemos algumas rodadas do campeonato. Aí depois um time da Polônia gostou de mim e dele. Lá é um país meio racista. Eu não tive esse problema, mas o Paulinho sofreu. Foi uma época complicada, mas esportivamente nos encaixamos. Eu ficava mais na defensiva e ele mais avançado, mas o Paulinho jogou até de lateral-direito, sempre foi muito bom jogador."

Andreson e Paulinho voltaram ao Brasil e foram campeões da Quarta Divisão do Campeonato Paulista pelo Pão de Açúcar. Depois, subiram para a Segunda. E Paulinho despertou o interesse do Bragantino, negociado em junho de 2009. O parceiro ficou e se lembra de ter tido lesões que complicaram a carreira. Teve atritos com a diretoria e saiu. Aí rodou: Barueri, Osvaldo Cruz, Marcílio Dias, Grêmio Maringá, uma experiência de um ano em Macau, na China, Comercial-MS e Novoperário-MS, em que disputou Copa do Brasil e Estadual em 2018. O próximo desafio do zagueiro de 33 anos ainda é uma incógnita.

"Parei um pouco. Minha esposa perdeu pai e mãe há pouco tempo e decidi ficar um pouco com ela. Estou em casa, não sei o que vai aparecer. Meu segundo semestre está nas mãos de Deus mesmo. Infelizmente o que o povo vê do futebol é o que passa na TV, mas a realidade é muito diferente. A história de cada um está escrita, e a minha é essa", desabafa.

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11- O titular do Philippe Coutinho

Philippe Coutinho é daqueles jogadores que todo mundo sabia que ia dar certo. Ele já brilhava com a camisa da seleção brasileira desde a categoria sub-15 e foi vendido pelo Vasco à Inter de Milão (ITA) aos 16 anos de idade. Como só poderia seguir para a Europa quando completasse a maioridade, o meia ainda jogou um tempo pelo primeiro clube. Foi promovido aos 17, durante a Série B de 2009, com o técnico Dorival Júnior. Mas não foi nada fácil entrar no time logo de cara. Muito por causa da presença do também meia Enrico, então aos 25 anos, que foi quem mais jogou depois da estrela Carlos Alberto. 

Acredito que apesar de toda a qualidade ele não foi titular tantas vezes por conta da parte física e da falta de malícia. Mas desde sempre se notava, tecnicamente, um jogador muito acima de todos os outros ali

Enrico teve contrato com o Vasco até 2014, mas nunca mais conseguiu a sequência de jogos que viveu quando disputava posição com Philippe Coutinho. Foi emprestado a times como Coritiba, Ceará e Ponte Preta, teve passagem por dois clubes da Grécia e pendurou as chuteiras em 2017, com a camisa do Elkistuna City, da Suécia. Ele já tinha jogado três anos no país nórdico antes do Vasco e voltou no fim da carreira. Marido e pai de mulheres suecas, Stella e Valentina, Enrico fala português até enrolado. Vive no país, tem uma empresa de agenciamento de jogadores em que planeja levar brasileiros à Suécia e até joga futebol recreativamente.

"Eu parei cedo, aos 32 anos, porque fiz no total quatro cirurgias no joelho direito e uma no joelho esquerdo, sentia muita dor e não conseguia manter um ritmo de treinamento profissional. Hoje jogo numa turma de amigos, mas é uma pelada organizada em que treinamos uma vez por semana e jogamos um campeonato autorizado pela Federação Sueca. Eu jogo hoje como se fosse a Nona Divisão da Suécia, mas nosso foco lá não é ganhar, é bater uma bola e se divertir", diz Enrico, de 34 anos.

Ele torcerá pelo Brasil na Copa do Mundo da Rússia, mas já está com coração dividido pela chance de um duelo com a Suécia nas oitavas de final.

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10- O titular do Neymar

"Lembro de nossos treinos de finalização, em que todos os atacantes do elenco apostavam entre si. Quem fizesse menos gols tinha que servir o outro na concentração. O Neymar tinha 17 para 18 anos e já despontava, dificilmente ele pagava a aposta. Sempre foi servido", relembra, aos risos, o atacante Felipe Azevedo, hoje no Ceará. Em 2009, a então revelação do Paulista de Jundiaí foi para o Santos com o objetivo de disputar posição com o garoto recém-promovido das categorias de base. Neymar estreou como profissional em março daquele ano, teve bom desempenho no vice-campeonato paulista do Peixe, mas pouco jogou no segundo semestre. Culpa de quem? Felipe Azevedo. Ou melhor, Vanderlei Luxemburgo.

Contratado em julho, Luxa dirigiu o Santos em 26 partidas na temporada 2009. Neymar foi titular em apenas dez. Geralmente escalado no 4-3-3, o time jogava com Madson pela direita, Kléber Pereira centralizado e mais um do lado esquerdo: Neymar, Robson (o Robinho, hoje no Cruzeiro), Jean (ex-Flamengo, Fluminense e Vasco) ou, principalmente, Felipe Azevedo. "Foi uma experiência espetacular para mim, porque vim de clube pequeno e tive essa grande oportunidade. Às vezes fica a sensação de que eu poderia ter feito algo a mais, feito um jogo melhor para dar sequência dentro do clube, mas foi algo marcante na minha vida e guardo com muito carinho."

Felipe Azevedo não seguiu no Santos em 2010, quando Neymar começou a brilhar. Seu antigo titular rodou o mundo: passou pela Eslováquia e pela Coréia do Sul, depois Ceará, Sport, Ponte Preta, Chiangrai United, na Tailândia, e novamente o Ceará a partir do início deste ano.

Neymar meu ex-reserva soa até engraçado pela dimensão que ele tem. Espero que seja o cara da Copa e fico orgulhoso de falar para os outros que joguei com ele

Há dois anos, o antigo titular se correspondeu com Neymar para pedir que ele gravasse um vídeo no celular em homenagem à sua esposa e cunhada. Ele correu atrás do telefone do craque do PSG com contatos do futebol e conseguiu o presente para a família: "Ele mandou o vídeo e elas ficaram muito felizes. Isso mostra humildade e por isso ele está onde está", diz o jogador de 31 anos, bem humorado quanto à lembrança inusitada. 

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9- O titular do Gabriel Jesus

Foi tudo muito rápido para Gabriel Jesus: marcou 37 gols em 22 jogos do Campeonato Paulista sub-17 de 2014, estabelecendo um recorde ainda não superado, mais cinco gols na badalada Copa São Paulo de Juniores de 2015, em que o Palmeiras chegou às semifinais, e logo depois foi promovido ao time principal. Do juvenil ao profissional em dois meses. Entre os mais velhos esperava-se que o caminho fosse mais árduo. Bobagem! Sob coro da torcida pela entrada da promessa, o camisa 33 estreou na oitava rodada do Campeonato Paulista, acionado aos 24 minutos do segundo tempo no lugar de Leandro Pereira.

"O Oswaldo (de Oliveira, técnico) tinha um cuidado muito grande em relação a ele. Quando surgiu em 2015 ele não estava totalmente preparado. A gente via que tinha que ser lapidado e a torcida pedia porque tinha a esperança que todos nós tínhamos, de que ele fosse um grande jogador e fizesse grandes coisas. Todos estavam certos", conta Leandro, titular do ataque palmeirense na época em que Gabriel Jesus estava surgindo entre os profissionais.

Leandro Pereira não só deu vaga naquele jogo contra o Bragantino como abriu ainda mais espaço para Gabriel Jesus em agosto de 2015, quando foi vendido pelo Palmeiras ao Club Brugge, da Bélgica. Ele retornou ao clube por empréstimo menos de um ano depois.

A evolução que ele teve de 2015 para 2016, quando fomos campeões brasileiros, foi uma coisa assustadora. Fui para a Bélgica e quando voltei ele era outro jogador, tinha evoluído na parte física, técnica, tática, tudo. O Gabe é um menino do bem, estava sempre querendo buscar mais, ouvir e aprender

Campeão brasileiro em 2016 ao lado de Gabriel Jesus, Leandro acertou transferência para o Sport no ano seguinte. Em julho sofreu uma lesão no ligamento cruzado do joelho direito que o tirou de ação até 2018. Neste ano não conseguiu se firmar e foi cedido à Chapecoense. Foi lá que ele chamou a atenção do país em sua primeira passagem. E lá que recomeçou a trajetória. "Foi um ano e meio de muita luta no Sport. Agora estou na Chapecoense, um lugar que gosto, acolhido, totalmente recuperado, focado e conseguindo jogar sem dor", diz o antigo titular de Gabriel Jesus.

"Espero que eu possa retomar minha carreira de uma vez."

Lucas Figueiredo/CBF

Bônus: os titulares de quem perdeu a posição antes da Copa

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13 - O titular do Marquinhos

A história de dez anos do zagueiro Marquinhos no Corinthians teve um importante ponto de virada entre 2011 e 2012. Recém-promovido do time juvenil ainda aos 17 anos de idade, ele treinava como reserva da dupla formada por Antônio Carlos e Nick sob o comando do técnico Narciso na categoria sub-20. Os titulares atuavam em todas as competições do segundo semestre de 2011 com objetivo de atingir o auge na Copa São Paulo de 2012, quando o Corinthians entraria com uma geração forte e na briga pelo título. O time de fato terminou campeão, mas a dupla de zaga era outra: Antônio Carlos e... Marquinhos.

"Eu tive uma lesão no púbis durante o Paulista sub-20. Aí o Narciso colocou o Marquinhos como titular e eu não voltei mais. Era questão de tempo para isso acontecer, né?", reflete Nick, bem humorado, anos depois.

"Ele tinha muita qualidade, posicionamento bom, impulsão boa, jogo de cabeça. A gente sabia que ele ia jogar. Falavam muito sobre a estatura baixa, mas isso nunca foi um problema para ele", diz o antigo titular de Marquinhos na base do Corinthians.

Marquinhos foi vendido pelo Corinthians à Roma (ITA) aos 18 anos. Depois, Paris Saint-Germain (FRA) e seleção brasileira. Nick continuou no Corinthians até os 22 anos. Ele foi promovido ao elenco profissional por Tite, hoje técnico da seleção brasileira, trabalhou com Mano Menezes e foi acompanhado de perto pelo então auxiliar deles, Fábio Carille. Não teve chances como profissional, mas conseguiu um contrato de um ano no Vasco onde também não jogou. Esteve no Oliveirense, em Portugal, por alguns meses, mas voltou ao país decidido a parar. Até que a ligação de um técnico chamado João Vallim o levou à Inter de Limeira, tradicional clube do interior de São Paulo, em novembro de 2016. Ele continua por lá, já foi capitão, tem moral e um contrato até novembro.

Fiquei nove meses sem nem treinar, só brincando em fim de semana. Uma hora você pensa em parar de jogar, não tem como. Mas tinha a família do lado dando força e minha carreira voltou. Tivemos acesso (da Série A3 à Série A2 do Paulista em 2017), apareceram propostas... Futebol é o que sei fazer e sei que tenho condições, posso voltar a um time grande, disputar as primeiras divisões e quem sabe ainda sonhar com uma seleção.

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17- O titular do Fernandinho

Fernandinho tem lugar de destaque entre as maiores revelações da história do Atlético-PR. Mas o primeiro momento em que ele mostrou capacidade para atingir o nível atual foi em 2003, na Copa do Mundo sub-20 disputada nos Emirados Árabes. Foi dele o gol do título na vitória por 1 a 0 sobre a Espanha de Iniesta e Juanfran a três minutos do apito final. O que não é muito mencionado é o fato de que o atleticano não foi titular em nenhuma partida daquele torneio. Na final, inclusive, saiu do banco aos 25 do segundo tempo. O titular era Juninho Arcanjo.

"Só tenho lembranças maravilhosas daquela seleção, eram grandes jogadores. Fernandinho, Daniel Alves, o Adriano lateral-esquerdo, Jefferson, Nilmar, Dagoberto... Eu ganhei a posição nas oitavas de final, aí na final o Fernandinho entrou no meu lugar para fazer o gol do título. Essa geração toda ficou marcada. Faz 15 anos isso. O tempo voa. Foi fantástico", se derrete o meia, naquela época revelação do Atlético-MG. 

Juninho já era profissional do Galo desde 2002, promovido por Geninho. Aí jogou Sul-americano e Mundial sub-20 e ganhou moral no clube. Atuou em 2003 e 2004 e no ano seguinte foi emprestado ao Fluminense, onde foi campeão estadual. Em novembro rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito e ficou oito meses parado. "Foi o que atrapalhou minha caminhada, mas faz parte do futebol", reflete. Em 2007 ele voltou ao Atlético-MG, mas não teve chances e começou a rodar: esteve no Nacional da Ilha da Madeira, em Portugal, no Daegu, da Coréia do Sul, daí Rio Branco, Guaratinguetá, Anápolis, Parauapebas, Remo, Tricordiano, Macaé, Uberlândia, Patrocinense e por fim o ASA-AL, onde disputou a Série D do Campeonato Brasileiro em 2018.

O ASA não se classificou e já encerrou atividades na temporada. Juninho tem contrato até agosto, mas espera novas oportunidades em outro clube. 

Estou na luta, com 35 anos, mas graças a Deus com saúde e força para jogar. Por onde passei eu joguei, ajudei e consegui títulos, é o que fica marcado. Enquanto eu tiver forças vou continuar. Alguns jogadores da minha geração tiveram oportunidades melhores. Eu poderia estar em outro patamar, mas não tenho arrependimento. Futebol não é fácil, nunca foi. Se eu não me machuco em 2005 eu poderia ter sido vendido e a história que você está contando seria diferente. Mas tudo bem. Ficam as lembranças boas e a gratidão

Juninho Arcanjo e Fernandinho se viram depois de muito tempo em 2017, quando a seleção estava em Belo Horizonte para um amistoso contra a Polônia. Ele foi ao hotel da seleção e lembra de ter sido bem recebido. "Conversamos muito. Ele continua muito humilde, a mesma pessoa".

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