A nova terceira idade

Independentes e ligadas na beleza: conheça a nova geração de mais de 60

Edson Lopes Jr./UOL
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Nova geração de idosas começa a tomar forma

Mais livres, independentes, críticas e vaidosas, elas moldam uma identidade social que se concretizará nos próximos anos quando o país terá mais idosos que jovens menores de 15 anos, segundo dados do IBGE.

Mas, não espere uma imagem típica da vovó das antigas. "Esta geração é a mesma que passou pelas mudanças culturais da segunda metade do século 20 e é mais empoderada. Essas mulheres não serão passivas", diz Beltrina Corte, professora da PUC de São Paulo. 

Além da emancipação, emocional e financeira, as mulheres acima dos 60 são cada vez mais vaidosas. "Elas são da geração Baby Boomers (nascidas entre 1946 e 1964) e estão acostumadas a cuidar do corpo e da aparência", diz Cristina Helena de Mello Pinto, professora da ESPM.

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Os cuidados com a aparência na idade madura não significam, porém, um desejo desenfreado de parecer sempre mais jovem. "Há 10 anos, a mulher envelhecia e queria se vestir como uma menina de 20. Hoje, há uma maior aceitação do tempo", lembra Jô Souza, professora de Comunicação e Cultura de Moda na Belas Artes de São Paulo.

É um envelhecimento consciente e uma valorização da imagem que condiz com a maturidade Jô Souza

Para especialistas em consumo, o papel da mídia neste processo é de grande importância. Para Cristina, especialista em padrões de consumo, a publicidade deve retratar mulheres mais velhas para que elas se aceitem através da identificação.

Estudiosa do envelhecimento humano, Beltrina afirma que "a mídia vem possibilitando a liberação da velhice como um horizonte possível, muito além de um hospital, uma farmácia, uma casa de repouso ou o aposento da casa". A coordenadora do mestrado em Gerontologia da PUC destaca ainda a importância do movimento feminista no processo de valorização da idade. "O orgulho de ser mulher aos poucos está se incorporando em cada mulher que envelhece", diz.

Existe uma tendência crescente de aceitação da idade, da valorização do cabelo branco e das linhas de expressão que contam uma história

Cristina Helena de Mello Pinto, professora da ESPM

O orgulho de ser mulher aos poucos está se incorporando em cada mulher que envelhece. Com o tempo, ela também se orgulhará de ser velha

Beltrina Corte, professora da PUC

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Elas dão nova cara à maturidade

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Ela virou modelo aos 63 anos

Prestes a fazer 64 anos, Adriana Eboli nem pensa em parar de trabalhar. A arquiteta de traços marcantes e postura elegante, conta que, aos 60, sentiu o peso da idade chegando, mas não se abateu. "Não sinto mais tanta energia como antes, mas procuro cada vez mais me manter sempre ativa, trabalhando e me divertindo".

O desejo de se manter em atividade é tanto que ela acaba de descobrir uma nova profissão: tornou-se modelo. Sua nova faceta foi descoberta no início de 2016, quando as fotos de uma viagem fizeram sucesso entre amigos e familiares que a incentivaram a procurar uma agência especializada.

Foi então que, assim como jovens aspirantes, fez seu primeiro book e agora participa de testes e pequenos trabalhos fotográficos. Sua nova carreira em frente às câmeras combina com seu perfil vaidoso, porém nada exagerado.

Gosto de me cuidar. Estou sempre em busca de novos tratamentos que estejam ao meu alcance, como a limpeza de pele que faço regularmente

Além dos cuidados de beleza, a busca pelo bem-estar é uma constante na rotina de Adriana. "Ao fazer 60 anos, comecei a praticar pilates, que me livrou das dores que tinha pela manhã". Além dos exercícios de alongamento e fortalecimento muscular, ela pratica natação e RPG e se orgulha da disposição para sair com as amigas e viajar.

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Bullying por assumir os fios brancos

Para Lucy Saadi, a maior decisão de seus sessenta anos foi assumir os fios brancos. "Nunca gostei de seguir padrões, sempre tive os cabelos vermelhos enquanto todo mundo tingia de loiro, por isso resolvi assumir os brancos de forma radical. Cortei bem curtinho, fiz reflexos para eliminar a cor anterior e, em pouco tempo, já estava com os cabelos completamente brancos".

A mudança, porém, não foi bem recebida por todos ao seu redor, que a criticavam por "querer parecer mais velha". Cheia de personalidade, ela ri ao lembrar do "bullying", diz que não se abalou com as críticas e seguiu em frente.

Hoje, aos 67 anos, chama a atenção na rua pelo visual: ela diz que vez ou outra é abordada por jovens que tecem elogios às suas madeixas.

Eu me cuido bastante, acho que é possível ser vaidosa e elegante sem precisar tingir os cabelos

Ativa, ela conta que prefere não seguir uma rotina: pratica exercícios físicos regularmente, cuida de animais abandonados e viaja Brasil afora. Sua meta, quase completa, é conhecer ao menos uma cidade de cada um dos Estados do país.

Além de viajar, ela destaca sua maior realização recente: participou de um concurso de beleza e ganhou. Um sonho que nutria desde muito jovem, mas nunca havia colocado em prática devido à proibição do pai. "Hoje eu sou muito mais feliz por poder fazer o que eu quiser", acredita.

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