
Há quase uma década a Globo não ficava tão feliz com números e com a repercussão de uma novela quanto com 'Êta Mundo Bom!'. Outras tramas fizeram sucesso no período -- como 'Avenida Brasil' -- mas na faixa das 18h não havia nada parecido em muitos anos.
Com média de 27 pontos no ibope da Grande SP, a comédia de Walcyr Carrasco registrou a melhor audiência desde 'O Profeta' (2006/2007), que também tinha o dramaturgo na equipe, assinando a supervisão de texto.
Colunistas do UOL apontaram desde o princípio motivos para tal sucesso, mas de longe o principal atrativo foi a simplicidade divertida dos personagens -- tanto mocinhos quanto vilões. Vale apontar que o melhor amigo do protagonista Candinho, vivido por Sérgio Guizé, é um burro chamado Policarpo.
'Êta Mundo Bom!' também reafirma Walcyr Carrasco como um dos mais importantes dramaturgos da TV brasileira. "Eu não sou analista. Quando eu escrevo, eu não penso em estratégia para conquistar o público. Eu não tento dissecar a novela porque eu pararia de escrever. Se eu pensasse no que faz sucesso, eu travaria. Eu uso a intuição", diz o escritor, que há menos de um ano emplacou no horário das 23h outro frisson, 'Verdades Secretas'. Em tempos de audiência da TV em queda, não é para qualquer um.
A intuição é um dos maiores guias de Walcyr Carrasco, autor de 'Êta Mundo Bom!', na hora de contar uma história. Para escrever a novela que daria uma guinada na audiência das 18h, ele buscou inspiração no cinema das décadas de 40, 50 e 60, nas chanchadas.
"O meu pai me levava ao cinema todo dia, quando criança. Eu vi todas as chanchadas da Atlântida, os filmes de Oscarito e Grande Otelo. Foi esse humor que eu quis homenagear nessa novela, que faz parte da memória cultural brasileiro. Reviver isso como eu vivi. Foi algo que o público queria reviver porque diz sobre a nossa cultura. O Pirulito (JP Rufino) é um pequeno Grande Otelo", contou ao UOL.
Para dar o tom do núcleo rural da trama, Carrasco também usou de suas referências pessoais. "Esse é o tom da minha infância, eu tinha primos que eram colonos de roça, minha mãe amanhecia ouvindo radionovela. Escrevo como me sai o personagem. Como um amigo que eu conheço ao me contar essa história."
A inauguração do poço de petróleo teve até discurso de Cunegundes. Ela estava tão empolgada com a chance de ficar rica que até ouvia o petróleo vindo à tona: "Cada vez que eu ovo os barulho do petróleo. Eu sinto como se fosse dentro deu, porque o petróleo já tá pronto pra jorrar!" Uma chuva de lama trocou a esperança por uma enorme frustração
Imagem: João Cotta/GloboInspirado no famoso conto popular, Walcyr Carrasco criou o 'marido' da cegonha. Mafalda acreditou que Romeu carregava um 'cegonho' no lugar de suas partes íntimas e até tentou espiá-lo para poder ver de perto a 'ave' que fez sucesso. Para conhecer o bicho, ela espera até o final da novela. Só que o encontro não é com o 'cegonho' de Romeu
Imagem: ReproduçãoEm suas expedições pelo interior do Brasil, Dom Pedro 2º teria passado uma noite na fazenda onde Cunegundes mora com sua família. Aflita em vender a decadente propriedade, a personagem de Elizabeth Savala inventa a história! Segundo ela conta, o imperador teria tomado um chá na varanda com seus antepassados
Imagem: DivulgaçãoToda vez que se empenhava em desvendar um mistério, Pancrácio lançava mão de algum disfarce. Ele se fantasiou de mendigo, freira, dama da alta sociedade, ex-miss e até na Marquesa de Santos. Na missão de encontrar alguma pista após o sumiço de Filomena (Débora Nascimento), por exemplo, o professor usou um espalhafatoso vestido de noiva
Imagem: Divulgação"Homem que é homem luta até o fim quando ama". As reflexões de Candinho com o burro Policarpo o enchem de esperanças e são a prova de que o animal foi autor dos melhores conselhos que recebeu. Basta Policarpo zurrar a uma de suas perguntas para Candinho voltar a ser o bom e velho caipiria otimista
Imagem: DivulgaçãoMauricio Stycer
Crítico do UOL
Nos últimos meses, Walcyr Carrasco foi questionado inúmeras vezes sobre as razões do extraordinário sucesso de “Êta Mundo Bom”. Muitas vezes disse que não sabia a resposta. Em outras ocasiões, buscou explicação nos valores que a história promoveu – o otimismo, a esperança, a bondade.
A enorme aceitação da novela passa por aí mesmo – pela mensagem positiva e pela simplicidade espantosa que exibiu do início ao fim. Mas muitos outros folhetins foram por este caminho sem o mesmo êxito.
Por isso, acho que há algo a mais. “Êta Mundo Bom” deve muito do seu extraordinário sucesso ao momento em que foi exibida – um período de crise política e econômica e, de certa forma, de muito desencanto.
Foi ainda no início de "Êta Mundo Bom!" que Mafalda (Camila Queiroz) cismou com um bicho que a intrigou até o final da trama, o cegonho! Elegendo Zé dos Porcos (Anderson de Rizzi) como primeiro alvo, a menina mandou um pedido que o caipira teve dificuldade para resistir: "Mostra seu cegonho?"
Walcyr Carrasco não tinha planejado todo esse voo para o animal.
Eu morri de rir quando eu escrevi essa cena. E a história só funciona pra mim se eu rio ou choro. Vou por intuição. Como eu me diverti, continuei com o cegonho.
O cegonho apareceu em um diálogo e levou o próprio autor aos risos. Então ganhou espaço na trama da fazenda Dom Pedro II.
Eu quero criar um cegonho, sim. Mas eu só hei de criar um cegonho despois do casamento, porque antes do casamento é só do pescoço pra cima.
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"Tem mulher que casa e o cegonho não é bem cegonho. É que nem quando a gente pega os ovo lá no galinheiro, e no meio deles tem um ovo choco. Por fora é tudo igual, mas por dentro é choco.
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Perdoe-me, mas ainda não entendi exatamente do que se trata esse cegonho de que tanto falam. Sei que a cegonha é um pássaro, tem pernas altas, um bico comprido, muito comprido, aliás
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Toda mulher quer um dia conhecer o cegonho, mesmo que diga que não.
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Se tem amor, o cegonho fica mais manso.
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Ricardo Feltrin
Colunista do UOL
Para Eriberto Leão, a morte de seu personagem Ernesto, ontem, em cena antológica em "Êta Mundo Bom", foi merecida. "Ele era um vaidoso imoral", diz o ator de 44 anos, 20 de carreira.
Em entrevista exclusiva, o ator comenta a morte repentina de seu personagem e avisa que Sandra (Flávia Alessandra), com quem Ernesto se envolveu "emocionalmente, sexualmente, profissionalmente", terá um fim ainda pior.