
A terceira medalha de ouro do Brasil na história do vôlei masculino foi a mais difícil. Depois dos tropeços ainda na fase de grupos que deixou o time entre a “vida e a morte”, a equipe de Bernardinho conseguiu chegar ao lugar mais alto do pódio. A conquista veio contra a Itália, mesma adversária da final de Atenas-2004. Dessa vez, a vitória veio por 3 a 0 (25-22, 28-26 e 26-24).
O elenco de 12 jogadores mesclou atletas inexperientes, como Douglas e Lucarelli, e os mais rodados, como Serginho, Lucão e Bruninho. Sidão e Murilo foram deixados de fora.
O Brasil perdeu para Estados Unidos e Itália na fase de grupos e ficou contra a parede. Foi hora de reunir o grupo e conversar. Para passar em quarto e avançar no limite às quartas de final, Bernardinho fez o grupo assistir a um filme Um Domingo Qualquer, do Oliver Stone, com Al Pacino e Dennis Quaid. O roteiro de Hollywood que mostra brigas internas entre um time de futebol americano ajudou a seleção a renascer. Foi a volta por cima. Os rivais não podiam se arrepender mais por isso.
Bernardinho é, pela segunda vez na carreira, campeão olímpico. A vitória da seleção brasileira sobre a Itália neste domingo, no Maracanãzinho, rendeu ao treinador sua sétima conquista nos Jogos, só que a vitória não veio como as outras. No comando de uma geração jovem e pressionada pelos maus resultados, ele se adaptou, trocou broncas e socos no ar por um estilo mais light e foi premiado por isso.
A mudança foi visível. Quem se acostumou a ver Bernardinho fazendo caretas, aos berros e quase rasgando a própria camisa à beira da quadra deve ter estranhado. A posição padrão do técnico na final foi contemplativa, com uma mão no queixo ou os dois braços para trás, gesticulando menos e maneirando nas broncas.
O vôlei me deu grandes amizades. Fui campeão olímpico com Nalbert, Tande. A geração de 92 é um espelho para mim. Amanhã é segunda-feira e volto à minha vida normal
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Tenho que pensar no que vou fazer. Esses rapazes, certamente, têm chance de brilhar no próximo ciclo olímpico. Maurício Souza vai ser dominante no próximo ciclo e Lucarelli também
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Tivemos uma trajetória difícil, sofremos muito, mas eu posso falar que a torcida ajudou a sair dessa ansiedade. Nada é dado para nós.
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A amizade entre Bruninho e Lucão vai para fora da quadra. Além de jogarem juntos algumas vezes, o levantador é padrinho do filho do central. Ao explicar a escolha, Lucão disse que o companheiro de seleção teve de salvá-lo algumas vezes nos médicos na Itália.
Quando não está em uma quadra de vôlei, Serginho gosta de cuidar de seus cavalos. Ele construiu um haras no interior de São Paulo para tratar. Antes dos Jogos, já na fase de preparação com a seleção, ele tomou um susto com uma ventania que destelhou.
O levantador Bruninho tem uma vida cheia de "parças" fora de quadra. Em seus momentos de lazer, o jogador se acostumou a curtir baladas com nomes como Neymar e Thiaguinho.
Destaque do Brasil na Olimpíada, Wallace tem uma relação com carros. Apesar de ter sofrido um grave acidente há cinco anos, quando capotou um veículo, ele é apaixonado por carros e velocidade.
Lucarelli, um dos principais jogadores dessa seleção e eleito o novo líder do time, já custou apenas 250 bolas. Foi isso que o Minas pagou para que o Meritus liberasse o ponteiro.
O levantador William não é só bom com a bola de vôlei. Ele também segue outra modalidade fora das quadras. O mago, como é conhecido, é fã de golfe.
Mauricio Souza tem o estilo caipira e não se faz de rogado quando precisa vestir o chapéu de palha e levar a vida tranquila do interior.
Esqueça sertanejo ou pagode se o negócio for um papo com o central Eder. O negócio do atleta é rock pesado.
Quem encerrou sua passagem vitoriosa pela seleção brasileira foi Serginho. O líbero se tornou o maior medalhista de um esporte coletivo da história do Brasil. Foram quatro medalhas no total.
Desde o início dos Jogos do Rio de Janeiro, o líbero ressaltou que tinha intenção de largar a seleção depois da Olimpíada. “Quero ter vida, quero descansar, quero cuidar dos meus filhos. Quero poder ir no aniversário de alguém. Nem no casamento da minha irmã eu fui”, falou.
“Eles não estavam correndo. Só que o carro girou na estrada. Foi por Deus, porque o carro capotou na ribanceira", conta Levi, pai de Wallace, sobre o acidente que o filho sofreu quando viajava com a prima de MG para SP. A capotagem de cinco anos atrás não passou de um grande susto. "Numa das viradas que o carro deu, acertou um toco de árvore em cheio e ele entrou pelo assoalho do caro. Foi o que segurou o carro para ele não rolar mais", explicou. Mas nem o acidente arrancou de Wallace, oposto da seleção de Bernardinho que teve 147 pontos no torneio, a paixão por carros que cultiva desde criança.
Se Wallace tem “só” quatro carros, muito se deve a Mariana Schuster, mulher do jogador. “Eu freio. Como ele é muito apaixonado, se deixar ele troca de carro todo ano”, diz aos risos.
A paixão por carros - ou perigo por ela - não se compara com que Wallace sofreu em 2015. Na Liga Mundial, o jogador acusou fortes dores nas costas. “Eu vi que ele não estava conseguindo andar direito. Ele começou a sentir muita dor à noite. Acordei com ele virando na cama. Antecipamos a viagem de volta”, conta a espoca. Na chegada a Belo Horizonte, a notícia: uma hérnia estava comprimindo nervos da coluna do jogador. Wallace estava perdendo sensibilidade do lado esquerdo do corpo e precisava operar. “Aquilo lá é um baque pra gente. O Wallace nunca teve uma contusão séria. Eu estava longe, não dá para dar colo. Eu chorava com ele”, lembra a mãe Gleci. A um ano da Olimpíada, não dava para saber nem se ele voltaria a jogar vôlei em alto nível. A resposta veio pintada de ouro.