Crescer na favela não é fácil. Onde ter um par de chinelos é um luxo, Rafaela Silva apanhou quando perdeu os seus. Um dia, foi brincar e, quando voltou, eles não estavam mais lá. Chorou para o pai por muito tempo. Ganhou um par novo. No mesmo dia eles desapareceram. Foram levados por garotos na rua, explicou. Ao voltar para casa, Rafaela apanhou. "Naquele dia aprendi a ser esperta na rua".
Imagem: Kai Pfaffenbach/ReutersA nova medalhista olímpica do Brasil não parava. Nas ruas, brigava com meninas e meninos. Quando uma academia foi aberta na sua rua, foi perguntar se podia lutar. Foi então que conheceu Geraldo Bernardes, técnico de Flávio Canto, bronze em Atenas-2004 e que hoje comanda o núcleo de alto rendimento do Instituto Reação, ONG que ele e Canto criaram para levar o judô para comunidades carentes. Ele viu potencial naquela menina briguenta e pediu ao pai que ela continuasse no esporte.
Imagem: REUTERS/Toru HanaiDescobridor do talento de Rafaela, o técnico Geraldo Bernardes lamenta até hoje o que aconteceu com a irmã mais velha da medalhista, Raquel. Aos 15 anos, a então adolescente engravidou. Todos que conheciam as irmãs Silva viam potencial. Mas, para o treinador, o maior espaço de crescimento era com Raquel. Quando Ana Carolina nasceu, porém, o posto de destaque da família ficou com Rafaela, mesmo.
Imagem: André Mourão/Nopp