Virada certeira

Maicon Andrade largou a profissão de pedreiro há 3 anos para fazer uma trajetória de sucesso no taekwondo

Daniel Brito, José Ricardo Leite e Leandro Carneiro Do UOL, no Rio de Janeiro
AP Photo/Marcio Jose Sanchez
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De ex-pedreiro a medalhista de bronze

Em 2013, Maicon Andrade se dividia entre a profissão de pedreiro de segunda a sexta, bicos como garçom aos fins de semana e treinos do taekwondo só quando dava tempo. Três anos depois, o atleta ganha holofotes mundiais subindo ao pódio dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, com uma medalha de bronze no peito, na competição em casa. 

A mudança na vida do mineiro de Justinópolis aconteceu durante a disputa dos Jogos Abertos do Interior. Na ocasião, o lutador foi descoberto pelo técnico Reginaldo dos Santos, que ficou impressionado com o potencial de Maicon, na época um amador. Reginaldo o convenceu a largar as outras profissões e focar no taekwondo, largando a família em Minas Gerais para ir para São Caetano. 

Mesmo com o sofrimento de ficar longe de casa, a aposta se mostrou certeira. Azarão na seletiva nacional para Rio-2016, ele bateu os favoritos André Bilia e Guilherme Felix. No Rio, o atleta chegou com o mesmo descrédito da seletiva nacional, perdeu as quartas de final para o nigerino Abdoulrazak Issoufou Alfaga, mas se recuperou com duas vitórias para chegar ao bronze, igualando o feito de Natália Falavigna em Pequim-2008.

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O caminho do bronze

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Grande estreia e derrota nas quartas

Maicon Andrade estreou na Rio-2016 com vitória de virada sobre Stephen Lambdin, por 9 a 7, nas oitavas de final. O mineiro era encarado como zebra, já que ocupa a 51ª posição no ranking mundial, enquanto o norte-americano é o 19º colocado. Na sequência, nas quartas, ele perdeu para o nigerino Abdoulrazak Issoufou, que viria a ser fundamental para o bronze.

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Nigerino desde pequenininho

A partir de então, Maicon teve de torcer para o seu algoz: caso Abdoulrazak Issoufou chegasse à final, o brasileiro voltaria à repescagem, primeiro passo para tentar o terceiro lugar. O nigerino surpreendeu, foi à decisão e o brasileiro retornou ao tatame. Na repescagem, o ex-pedreiro não teve dificuldades para bater o francês Bar Diaye por 5 a 2 e se classificou à disputa do bronze.

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"É campeão" com o tema da vitória

Lotada, a Arena Carioca 3 empurrou Maicon durante toda a luta contra Mahana Cho. A primeira pontuação só veio no segundo round, quando o britânico abriu 3 a 1. Com uma sequência de golpes, Maicon virou o placar para 4 a 3. Restando um minuto, Cho empatou. Mas com um golpe a 4s do fim, o mineiro garantiu o bronze com gritos "é campeão" e o tema da vitória de Ayrton Senna.

#PintouMedalha: Maicon Andrade bate britânico e é bronze no taekwondo

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Câncer da mãe quase o fez desistir

Antes de conquistar a medalha de bronze na Rio-2016, em 2014, Maicon Andrade viveu momentos difíceis com a mãe. Pouco antes da seletiva para ir à seleção brasileira e disputar a Olimpíada, pensou em desistir do esporte por conta de câncer de mama da mãe, dona Vitória. 

Ao saber da doença da mãe, voltou de ônibus para Belo Horizonte ao receber a notícia que sua mãe, Vitória Andrade. Ao chegar no hospital em que sua mãe estava cuidando da doença, Maicon ficou chocado ao ver Vitória sem cabelo devido ao tratamento. 

Foi então que avisou sua mãe que ia desistir do taekwondo. Na hora, Vitória pediu para que Maicon continuasse brigando por seu sonho, que não iria ajudá-la abandonando tudo.  "Ele pensou em desistir uma época que eu tive câncer, mas  falei para ele: 'filho, vá em frente, você nasceu pra voar'", comentou dona Vitória Andrade na Arena Carioca 2 comemorando a medalha do filho. 

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'Como qualquer brasileiro, trabalhei para sustentar a família'

Como qualquer outro brasileiro, eu trabalhei para sustentar a família, realizar meu sonho. São oito irmãos, sete homens e uma mulher. Consegui me manter no taekwondo até entrar para o alto rendimento

Maicon Andrade

Maicon Andrade, bronze na Rio-2016

Ele pensou em desistir da carreira uma época que eu tive câncer, mas falei para ele: 'filho, vá em frente, você nasceu pra voar?

Vitória Andrade

Vitória Andrade, em relação ao filho

O cara do Niger é um atleta muito bom, e eu torci por ele para que me puxasse para a repescagem. Quando ele me puxou, eu sabia que eu seria medalhista olímpico

Maicon Andrade

Maicon Andrade, sobre o algoz nas quartas

Maicon Andrade é bronze e leva torcida à loucura na Arena Carioca 3

Caçula de nove irmãos e treino em saco de areias; veja curiosidades

  • Criado sem o pai

    Vitória Andrade, mãe de Maicon, teve 13 filhos, porém só nove continuam vivos. O lutador é o caçula da família. Quando recebeu o convite para sair do conforto do lar em Justinópolis, Minas Gerais, e mudar para São Caetano, sua mãe pediu para o atleta não ir embora. Tempos depois, foi ela quem o impediu de desistir.

  • Treino improvisado

    Quando tinha só 10 anos, Maicon já arriscava seus primeiros chutes. Ele enchia um saco com panos, amarrava na varanda e ficava dando chute e socos, como se fosse um saco de areia. O atleta começou em um projeto social e só conseguiu uma grande estrutura para treinar ao mudar para São Caetano, aos 17 anos.

  • De volta à sala de aula

    Não foi apenas a rotina de lutador que mudou em 2013. Ele chegou a São Caetano apenas com o primário de escolaridade. Fez um supletivo e depois disso iniciou a faculdade de Geografia. O atleta chegou a participar da Universíade em 2015, quando conquistou a medalha de bronze.

  • Pegou dicas com quem sabe

    Em sua preparação para os Jogos Olímpicos, Maicon Andrade foi por duas vezes nos últimos seis meses fazer treinamentos no Irã, para pegar dicas de novas técnicas e ganhar mais experiência no esporte. O país tem tradição no taekwondo, com seis medalhas olímpicas desde 2000.

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