O estádio mais parece uma carcaça secando sob o sol e a maresia do Caribe. A última demão de tinta branca foi em 2008. Sem refletores, o local só é usado de dia. Já o placar eletrônico quebrou e foi coberto por um outdoor com a imagem de Che Guevara e sua frase “Hasta La Victoria Siempre”. A pista de atletismo está totalmente descascada. Lá, pisando em placas soltas de borracha, treinam três favoritos ao pódio do Rio-2016, e mais três dezenas de atletas da delegação olímpica.
O estádio Pan-Americano de Havana é só uma metáfora de um país em ruínas. Cuba vive ainda uma economia de guerra. No caso, de uma Guerra Fria, que só não acabou por lá. Nos livros de história, o conflito teve fim em 1991, mesmo ano que Cuba inaugurava seu estádio durante o Pan. Depois de 25 anos, o único país comunista das Américas resiste, apesar do embargo do vizinho EUA que estrangula sua economia. E continua uma força olímpica, colhendo medalhas no boxe, judô, luta, atletismo e várias modalidades.
Tudo aqui está obsoleto, mas eu estou acostumado. E isso ainda nos motiva porque lutamos de igual para igual com todos”
Pedro Pichardo, promessa de glória no salto triplo, resume assim o espírito de “time pequeno” para enfrentar potências. Duas datas são decisivas em 2016 para o esporte cubano. Em 21 de agosto, o país vai contabilizar as medalhas e comparar com as edições anteriores. No dia 8 de novembro, é eleito o sucessor de Barack Obama, presidente dos EUA que vai deixar como maior legado a reaproximação com Cuba. O país está às margens de uma grande mudança, mas tudo é incerteza e expectativa na ilha mais imprevisível do planeta.