Opostos que se atraem

Força e altura de Alison se uniram à técnica do 'baixinho' Bruno Schmidt para levar Brasil ao ouro na praia

Leandro Carneiro e Roberto Oliveira Do UOL, no Rio de Janeiro
Arte Uol
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Diferenças dentro e fora de quadra levaram ao pódio

Os brasileiros Alison e Bruno Schmidt são o exemplo perfeito da expressão os "opostos se atraem". A dupla aproveitou com maestria o que cada um tem de melhor nestes Jogos Olímpicos. O resultado foi uma campanha dominante e a conquista da medalha de ouro após derrotarem os italianos Nicolai e Lupo, repetindo o feito de Ricardo e Emanuel, em Atenas-2004.

As diferenças começam fora de quadra. Alison é mais extrovertido e gosta de dar entrevistas; Bruno é tímido e foge dos microfones. Dentro da areia, Alison traz consigo a experiência de uma final em Londres-2012, a força física no ataque e a altura de 2,03m, que vira um "paredão" no bloqueio. 

Já Bruno compensa a baixa estatura para a modalidade com boa leitura de jogo para defender, um passe de muita qualidade e outros recursos técnicos, que lhe renderam o apelido de "mágico" pelos espaços que acha na quadra. O jogador, que sofreu com descrença no início de carreira e foi chamado de pequeno demais para o vôlei de praia, acabou com as incertezas sendo eleito o melhor jogador do mundo em 2015 e subindo ao topo do pódio nas areias de Copacabana.

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O caminho do ouro

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Susto e estratégia

Os campeões olímpicos sofreram na fase de grupos. Após uma vitória e uma derrota, chegaram na última rodada precisando vencer os italianos Ranghieri e Carambula. No duelo, Alison torceu o pé esquerdo e precisou de atendimento médico. Apreensão para torcida, agravada pelo fato do jogador usar uma proteção no local. Depois, Alison disse que a atadura era uma estratégia para os rivais sacarem nele.

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Sem vida fácil

Alison e Bruno também não tiveram vida fácil na fase eliminatória no Rio de Janeiro. Eles até começaram vencendo bem por 2 sets a 0 os espanhóis Herrera e Gavira, mas depois para passaram sufoco na vitória por 2 a 1 sobre os americanos Dalhausser/Lucena e os holandeses Brouwer/Meeuwsen nas quartas e semifinais, respectivamente. A dupla holandesa, inclusive, ficou com a medalha de bronze na Rio-2016.

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Para lavar a alma

Veio a decisão contra os italianos Nicolai e Lupo. Sob forte chuva em Copacabana, Alison começou errando muito e os rivais abriram 5 a 1 no primeiro set. Mas o "Mamute" se impôs no bloqueio, acertou a mão e contou com noite inspiradíssima de Bruno Schmidt, que provou de todos os modos por que é apelidado de mágico: destacou-se na defesa, deu aula de deixadinha e fez ponto até de manchete.

Um mamute e um mágico; veja curiosidades da vida a dupla

  • Era do Gelo

    Ruivo, com 102 kg e 2,03 m, Alison foi apelidado de Mamute - alcunha inspirada no Many, do filme Era do Gelo. O apelido, claro, só surgiu quando o filme foi lançado. Uma das coisas que mais o assusta é agulha. Mesmo assim, tomou coragem para tatuar um mamute. Mas ele foge o quanto pode de cirurgias e tomar pontos.

  • Um 'pequeno' mágico

    Com 1,85 m, Bruno é mais baixo que a maioria dos atletas de elite no vôlei de praia. Sua estatura sempre foi motivo de piada em sua carreira. Depois da vitória na semifinal, a ex-jogadora Shelda foi às lágrimas falando com ele sobre o tema, emparedando os críticos. Por superar a diferença de tamanho esbanjando habilidade, foi apelidado de mágico.

  • Sonho de criança

    Que criança nunca sonhou em ser um jogador de futebol? Alison não foge à regra. Curiosamente, ele não gostava de vôlei. Só começou a treinar o esporte em que fez fama porque a mãe o matriculou numa escolinha. O medalhista fez administração, mas trancou o curso e chegou a ser office boy na empresa do seu pai. Ele é um apaixonado por carros antigos e faz ioga.

  • Surfe com jazz

    Bruno Schmidt é músico e gosta de tocar saxofone no tempo livre. O estilo de música que mais gosta é o jazz. Além disso, é fã de esportes radicais, mas não abre mão da praia: surfe e kitesurfe. Bruno começou no vôlei graças ao tio Tadeu Schmidt, que jogava vôlei e o introduziu à modalidade. O apresentador foi presença em todas as partidas da dupla brasileira na Rio-2016.

#PintouMedalha: Alison e Bruno faturam ouro em Copacabana

Todo dia, eu ia deitar 3h e acordava às 5h, cansado, ansioso. Era muita pressão. Tentei esconder isso o tempo todo, mas nunca senti tanta pressão na minha vida. Estou tão cansado, exausto

Bruno Schmidt

Bruno Schmidt, após a medalha de ouro

Eu sou campeão olímpico. Nós somos campeões olímpicos, o Brasil é campeão olímpico. Superamos muita coisa. A gente nunca deixou de acreditar um no outro. Isso é o time Alison e Bruno

Alison Cerutti

Alison Cerutti, em relação à parceria

É difícil para um jogador do meu porte permanecer neste esporte. Cada dia foi uma luta. Sentindo que não sou bem-vindo, ninguém me quer aqui. Ele (pai) nunca deixou eu desistir, parar. Dedico muito a ele.

Bruno Schmidt

Bruno Schmidt, sobre incentivo do pai

Murad Sezer/Reuters Murad Sezer/Reuters

Um pódio de superação

O título olímpico no Brasil vem para coroar uma dupla que passou por muitas dificuldades nos últimos anos, mas que acima de tudo não deixou de acreditar em si. Se Bruno revelou após a partida que seu pai o impediu de abandonar a carreira três vezes, Alison teve de lidar com lesões que insistiram em atrapalhá-lo após o vice-campeonato ao lado de Emanuel em Londres-2012.

Em 2014, Mamute teve diagnosticada uma microrruptura no tendão patelar do joelho direito e precisou passar por cirurgia. Depois, quando estava pronto para voltar, sofreu com uma apendicite.

Superamos grandes dificuldades. Classificatória no Brasil é muito forte. Começamos atrás, tive de parar para operar. Quando ia reestrear, tive apendicite. Nenhum momento Bruno deixou de acreditar no Alison e Alison no Bruno. Derrotas ensinam muito, às vezes até mais

Reprodução Reprodução

Bruno, o orgulho da família Schmidt

A família de Bruno Schmidt marcou presença em peso na decisão. Tio de Bruno, Tadeu Schmidt, apresentador da “TV Globo”, não conseguiu se conter e chorou nas três partidas finais do sobrinho. "Melhor coisa do mundo. Imaginar que meu sobrinho é campeão olímpico. É um sonho, está vivendo um sonho. Vai curtir para o resto da vida", falou Tadeu, antes de comentar que chorou muito durante a disputa do ouro.

“Pela primeira vez, está no regulamento que quem chora três vezes com sobrinho campeão olímpico, pode pedir música no Fantástico. Já pedi aquela música da Tina Turner, que ela cantava com Ayrton Senna. Quero ouvir Simply the Best, porque eles são os melhores do mundo”.

Assim como Tadeu, Oscar Schmidt também estava na Arena de Copacabana para acompanhar a partida do sobrinho. Após a partida, o ex-jogador de basquete passou correndo pela zona mista, com os olhos marejados, sem dar entrevista. Mãe, pai, namorada e avó de Bruno reforçaram a torcida na decisão.

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