Relatos do horror

Depoimentos de mulheres rohingyas revelam prática generalizada e metódica de estupros

Kristen Gelineau Da Associated Press, em Ukhia (Bangladesh)
Wong Maye-E/ AP

Atenção

A reportagem traz descrição de violência que pode ser perturbadora para o leitor

Os recém-casados dormiam em sua casa no oeste de Mianmar em junho, quando sete soldados a invadiram.

A mulher, uma rohingya muçulmana que quis ser identificada apenas por sua inicial, F, sabia o suficiente para ficar aterrorizada. Sabia que o Exército estivera atacando aldeias rohingya, como parte do que a ONU qualificou de limpeza étnica no país de maioria budista. Dias antes, havia escutado que os militares mataram seus pais e que seu irmão estava desaparecido.

Agora vinham buscá-la. Os homens amarraram seu marido com uma corda e lhe puseram um pano na boca. Tiraram as joias dela, arrancaram sua roupa e a atiraram ao chão.

Então, segundo seu relato, o primeiro soldado começou a violentá-la.

Ela resistiu, mas quatro homens a seguraram e a agrediram com paus. Seu marido finalmente conseguiu retirar a mordaça e gritar.

E ela viu quando um soldado disparou uma bala no peito do homem com quem havia se casado um mês antes. Outro militar lhe rasgou a garganta.

As lembranças se tornam nebulosas. Quando os soldados terminaram, a arrastaram para fora e atearam fogo à sua casa de bambu.

Passaram dois meses até que ela percebeu que seu sofrimento estava longe de terminar: estava grávida.

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Os estupros de mulheres rohingya pelas forças de segurança de Mianmar foram generalizados e metódicos, segundo descobriu a agência de notícias Associated Press depois de entrevistar 29 mulheres e meninas que fugiram para Bangladesh, país vizinho. Essas sobreviventes de agressões sexuais que hoje moram em diversos campos de refugiados foram entrevistadas em separado e extensamente.

As mulheres deram seus nomes à AP, mas quiseram ser identificadas em público só por suas iniciais, alegando o medo de que elas ou suas famílias sejam assassinadas pelo Exército birmanês. Elas têm entre 13 e 35 anos, vêm de uma ampla zona de aldeias no Estado de Rakhine e descreveram ataques que ocorreram entre outubro de 2016 e meados de setembro de 2017.

Apesar disso, as histórias guardam uma perturbadora semelhança, com diferentes padrões em seus relatos, nos uniformes dos assaltantes e nos detalhes das agressões sexuais em si.

Os testemunhos reforçam a opinião da ONU de que as forças armadas birmanesas estão empregando sistematicamente a violação como uma "ferramenta calculada de terror", destinada a exterminar o povo rohingya. O Exército de Mianmar não respondeu a diversos pedidos de comentários feitos pela AP, mas uma investigação interna concluiu no mês passado que nenhuma dessas violações ocorreu.

Quando os jornalistas perguntaram sobre as denúncias de estupro durante uma visita organizada pelo governo a Rakhine em setembro, o responsável por assuntos fronteiriços do Estado, Phone Tint, respondeu:

Essas mulheres afirmam que foram violentadas, mas vejam sua aparência. Acreditam que são tão atraentes para ser violentadas?"

Phone Tint, Responsável por assuntos fronteiriços do Estado

Médicos e cooperantes, entretanto, dizem estar surpresos com o grande volume de casos e suspeitam que só uma parte das mulheres denunciou seus estupros. A Médicos Sem Fronteiras tratou 113 sobreviventes de violência sexual desde agosto, um terço delas menores de 18 anos. A mais jovem tinha 9.

Todas as entrevistadas pela AP descreveram ataques dos quais participaram grupos de homens, muitas vezes associados a outras formas de violência extrema. Todas menos uma disseram que os agressores vestiam uniformes de estilo militar, normalmente de cor verde-escura ou de camuflagem. A única que indicou que seus violadores usavam roupas civis explicou que seus vizinhos os identificaram como membros do posto militar da área.

Muitas contaram que os uniformes tinham vários galões com estrelas ou, em alguns casos, flechas. Esses distintivos representam as diversas unidades do Exército de Mianmar.

Embora a magnitude desses ataques seja nova, o uso da violência sexual por parte das forças de segurança birmanesas não o é. Antes de se transformar na líder do país, Aung San Suu Kyi disse que o Exército usava a violação como arma para intimidar as nacionalidades étnicas.

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Mas o governo de Suu Kyi não só não condenou as recentes acusações de estupro, como as qualificou de mentiras. Em dezembro de 2016, as autoridades emitiram um comunicado pondo em dúvida os relatos de agressões sexuais a mulheres rohingya, acompanhado de uma imagem que dizia "violações falsas".

Mais de três meses depois que os homens irromperam na casa de F, a mulher morava com seus vizinhos, um casal com um filho de 5 anos. O momento de sua violação deixou poucas dúvidas de que o bebê que crescia dentro dela era de um dos homens que causaram seu sofrimento.

Só podia rezar para que as coisas não piorassem. Então, numa noite em meados de setembro, isso aconteceu.

Os homens arrebentaram a porta. Eram cinco dessa vez, segundo recorda F. E seu pesadelo recomeçou.

Arrancaram as roupas das duas mulheres e as jogaram ao chão. A amiga de F resistiu e os homens lhe bateram com tanta força que a pele de seus músculos começou a cair.

Mas a vontade de lutar de F tinha terminado. Ela sentiu que seu corpo amolecia, sentiu o sangue escorrer entre suas pernas quando o primeiro homem a forçou, e depois o segundo. Três homens agrediram sua amiga.

Quando tudo terminou, as mulheres ficaram estendidas no chão durante dias.

Finalmente F conseguiu se levantar e ajudou sua amiga. De mãos dadas, cambalearam até chegar à próxima aldeia e começaram uma viagem de dez dias até Bangladesh.

É aí que F vive agora, em um pequeno refúgio de bambu entre duas latrinas imundas. É aí que F reza para que seu filho seja um menino, porque este mundo não é lugar para uma menina.

O bebê será a única família que restará a F. Para ela, a pior recordação da agonia que passou representa de algum modo sua última oportunidade de ser feliz.

Todo mundo morreu. Não tenho ninguém para cuidar de mim. Se eu entregar esse bebê, o que me restará? Não terei nenhum motivo para viver."

F.

F.

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Depoimentos

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Ela tem 13 anos

Ela tem só 13 anos, mas já tinha aprendido a temer os militares. No ano passado, diz R, soldados esfaquearam seu pai, matando-o. Um dia, no final de agosto, dez soldados invadiram a casa de R. Agarraram seus dois irmãos pequenos, os amarraram a uma árvore e os espancaram. R tentou fugir pela porta da frente, mas os homens a pegaram. Amarraram seus braços a duas árvores, arrancaram seus brincos e pulseiras e suas roupas. R gritou para que parassem. Eles cuspiram nela. Então o primeiro homem começou a violentá-la. A dor foi terrível. Os dez homens a curraram até que ela desmaiou. Os irmãos mais velhos de R a carregaram até a fronteira. Em Bangladesh, um médico lhe deu anticoncepcionais de emergência. R sente muita falta dos irmãos menores, e seu sono é cheio de pesadelos. Ela se esforça para comer. Antes do estupro, explica em voz baixa, era bonita.

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Duas vezes

F e seu marido dormiam em casa em junho, quando sete soldados entraram no quarto. Os homens amarraram o marido com uma corda e o amordaçaram com um lenço que tiraram da cabeça de F. Eles arrancaram as joias da moça e suas roupas. Jogaram-na ao chão, onde o primeiro soldado começou a violentá-la. O marido conseguiu tirar o pano da boca e gritar. Um soldado atirou nele e outro cortou sua garganta. Depois do ataque, os homens jogaram o corpo nu de F fora da casa e a incendiaram. Os vizinhos a salvaram. Dois meses depois, ela percebeu que estava grávida. Em setembro, seu pesadelo recomeçou. F dormia na casa de uma vizinha quando cinco soldados derrubaram a porta. Eles cortaram a garganta do menino de 5 anos que vivia lá e mataram seu pai. Arrancaram as roupas das mulheres. Dois homens violentaram F e três à sua amiga. Depois que eles foram embora, as mulheres ficaram deitadas no chão durante dias, antes de fugirem para Bangladesh. Apesar de tudo, F está decidida a amar a criança.

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Marido a culpou

K e sua família se preparavam para o desjejum certa manhã, no final de agosto, quando ouviram gritos de outros aldeões lá fora. Seu marido e três filhos mais velhos dispararam pela porta. Mas K estava com quase nove meses de gravidez e tinha dois bebês para cuidar. Não podia correr para lugar nenhum. Os homens entraram, jogaram-na sobre a cama, arrancaram suas joias e roubaram o dinheiro que ela guardava na blusa. Eles arrancaram suas roupas e amarraram suas mãos e pernas com cordas. Quando ela resistiu, a sufocaram. Então começaram a estuprá-la. Ela estava aterrorizada demais para se mexer. Um homem segurava uma faca encostada em seu olho, outro uma arma em seu peito. Outro a violentou. Depois trocaram de lugar. Os três a estupraram. Ela começou a sangrar e teve certeza de que seu bebê ia morrer. K desmaiou. Quando despertou, os homens tinham partido. Seu marido a culpou pelo ataque, criticando-a por não ter corrido. A família fugiu para Bangladesh. Duas semanas depois, K teve um filho.

"Não suporto mais essa dor"

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Dor enorme

R estava em casa no final de agosto com seu marido e cinco de seus seis filhos, quando ouviram uma comoção do lado de fora. Ela viu casas da aldeia incendiadas. Seu marido correu, mas ela tinha os filhos para cuidar. Cinco soldados invadiram sua casa. As crianças gritaram e correram para fora. Os homens a despiram, tiraram seu colar e lhe deram golpes de joelho nas costas. Então um homem começou a estuprá-la, enquanto os outros quatro a seguravam e batiam com suas armas. Quando terminou, eles pegaram o dinheiro e as roupas de seu marido do guarda-roupa. Ela fugiu com a família para Bangladesh no dia seguinte. Lutava para se mover por causa dos ferimentos, e teve de usar uma bengala. "Senti uma dor enorme", diz ela, pausando para respirar fundo ao lembrar. "Doía muito caminhar pelas montanhas." Quatro dias depois ela chegou a Bangladesh.

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Allah nos salvou

A estava em casa rezando com seus quatro filhos no final de agosto, quando cerca de 50 soldados cercaram sua aldeia e abriram fogo contra os homens. A começou a tremer; tinha ouvido falar que soldados estupraram as mulheres de outras aldeias. Três homens entraram em sua casa e lhe disseram para sair. Ela se recusou e eles a agrediram. Seus filhos gritaram. Os soldados bateram neles, depois os jogaram para fora da casa. Dois soldados a atingiram até que ela caiu. Um pisou em seu peito com a bota, imobilizando-a. Tiraram suas joias e suas roupas. Então os três a violentaram, dando-lhe socos e pontapés quando ela gritava. Um pressionou uma faca em sua nuca, fazendo-a sangrar. Ela ainda tem uma leve cicatriz. Depois do ataque, ela sangrou tanto que pensou que fosse morrer. Um agricultor lhe disse que seu marido tinha sido morto a tiros, por isso seu irmão, sua mãe e a filha a ajudaram a fazer a dolorosa viagem até Bangladesh. "Eles queriam nos apagar do mundo", diz ela sobre os militares. "Eles tentaram muito, mas Allah nos salvou." Nos primeiros dias depois do ataque, ela chorava o tempo todo. Agora chora em silêncio, mentalmente.

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Bebê morta

M estava em casa alimentando seu filho com arroz no final de agosto, quando uma bala dos militares arrebentou a parede de bambu de sua casa e atingiu seu irmão adolescente. Seu marido e os filhos saíram correndo da casa. Mas M estava no oitavo mês de gravidez e não quis deixar seu irmão para trás. Durante dois dias ela ficou ao lado dele, até que o rapaz morreu. Pouco depois quatro soldados invadiram sua casa. Começaram a lhe dar tapas e empurrões. Três homens a arrastaram para fora da casa, a despiram e espancaram. Quando ela gritou, colocaram uma arma em sua boca. O primeiro homem começou a violentá-la, enquanto os outros dois a seguravam, socavam e chutavam sua barriga grávida. Depois do segundo estupro, ela os chutou com ferocidade e eles foram embora. M sentiu dores intensas no ventre e deu à luz naquela noite, em casa. A bebê estava morta. M enterrou a criança em uma cova ao lado da casa. Seu marido voltou e eles fizeram a caminhada de três dias pelas montanhas até Bangladesh. "Eles nos humilharam, destruíram nossa terra e nossa fazenda, levaram nossas vacas, nossos legumes", diz ela. "Como eu poderia voltar? Eles destruíram nosso ganha-pão."

"Quatro ou cinco deles me agarraram"

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Quando terei paz?

H estava fazendo a oração do amanhecer em casa no final de agosto, com seu marido e seis filhos, quando ouviu um ruído lá fora. Mais de dez soldados arrombaram sua porta e começaram a bater em seu marido. Eles agarraram três das crianças pelos pés, as levaram para fora e as bateram contra árvores, matando-as. Seu marido gritou e H saiu da casa correndo. Enquanto fugia, ouviu tiros às suas costas. Nunca mais viu seu marido. Ela conseguiu chegar com as outras três crianças aos morros próximos, onde outras mulheres da aldeia estavam escondidas. Mas os soldados as encontraram e as arrastaram para estuprá-las. Eles arrancaram as roupas e as joias de H, amarraram suas mãos nas costas com seu lenço de cabeça. Um homem segurava sua cabeça e as mãos para trás, enquanto outro agarrou suas pernas. O terceiro a violentou. Depois se revezaram na agressão. Seus três filhos, chorando, se recusaram a sair de seu lado durante o ataque. Os soldados lhes batiam, chutavam, tentavam afastá-los. Mas eles não se mexeram. Quando os soldados terminaram, sua filha de 8 anos tentou cobrir o corpo nu com as roupas rasgadas. A mãe e as crianças levaram quatro dias para chegar a Bangladesh. "Perdi meu marido, perdi meus filhos, perdi meu país. Quando Deus me levará de volta ao meu país?", diz H. "Quando eu terei paz?"

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Eu queimo por dentro

Quando sete soldados invadiram a casa em outubro de 2016, o marido de S fugiu. Os soldados começaram a espancar os pais dela. Um soldado bateu em S com sua arma, arrancou dois bebês de seus braços e os jogou ao chão. Eles rasgaram as roupas de S, de sua mãe e várias outras jovens que havia na casa, e levaram os brincos e o dinheiro que S tinha escondido nas roupas. Dois soldados levaram S até um campo, taparam sua boca com as mãos para impedir que gritasse, a seguraram e violentaram. Quando tudo terminou, ela se escondeu nos morros, mas acabou voltando para casa. Em agosto, S estava em casa com sua família quando militares começaram a disparar foguetes contra as casas, incendiando-as. Seu marido e dois filhos mais velhos fugiram, mas ela ficou para arranjar suas duas bebês e alguns pertences. Uma bebê estava num balanço, a outra dormia no chão. Um foguete atingiu a casa, e as bebês queimaram diante de seus olhos. Não havia nada que ela pudesse fazer. Então correu. Escondeu-se com o resto da família nos morros durante vários dias, antes de fazerem a viagem de três dias a pé até Bangladesh. "Eu queimo por dentro por minhas filhas, mas o que posso fazer?", pergunta ela. "Elas queimaram até a morte. Acho que era meu destino."

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Não contou a ninguém

Os militares cercaram a aldeia de N de manhã cedo, no final de agosto. Cerca de 18 soldados irromperam em sua casa e arrastaram N para fora com sua cunhada e sua mãe. As mulheres foram levadas ao centro da aldeia, onde os soldados roubaram suas joias. Três homens levaram N aos morros e a deixaram nua. Dois deles seguraram suas mãos enquanto um terceiro a estuprava. Depois trocaram de posições. Os três a violentaram. Durante o ataque, eles mostravam suas facas e a agrediam. Ela ficou assustada demais para reagir. Quando terminou, eles a deixaram lá. N voltou para casa e não contou a ninguém sobre o estupro. Ela sentiu fortes dores depois da agressão e sangrou durante oito dias.

"Fizeram tudo que queriam"

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Aldeia em chamas

Não houve advertência antes que os cinco soldados invadissem a casa de S, 16 anos, numa manhã no início de agosto. Eles vasculharam a casa em busca de dinheiro e objetos de valor. Então cortaram o pescoço de seu marido, matando-o. Os homens saíram brevemente para saquear outras casas próximas, então voltaram. Dois homens a empurraram para um quarto, arrancaram seu filho de 3 meses de seus braços e o colocaram no chão. Procuraram nas roupas dela algo de valor e tiraram seus brincos. Outros três homens entraram e começaram a espancá-la com as armas, enquanto os outros tiravam suas roupas. Um soldado segurou suas mãos e outro colocou a arma em sua boca. Os cinco a estupraram. Quando ela reagia, eles a agrediam. Ela podia ouvir o bebê chorar e ficou aterrorizada de que eles o matassem. Quando eles terminaram, deixaram que ela se vestisse e arrastaram seu corpo sangrando até o centro da aldeia. Os soldados arrastavam outras mulheres que tinham atacado para fora das casas próximas. Os homens espancaram de novo S e as outras mulheres e então foram embora. S voltou correndo para casa, agarrou seu bebê e fugiu. Então viu que os soldados punham os homens e meninos em fila e os matavam a tiros. Quando ela chegou à montanha, olhou para baixo e viu sua aldeia queimando.

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Filho desapareceu

Os soldados estavam assediando a família de T fazia dias. Apareciam e roubavam sua comida, urinavam em seu arroz, batiam em T e certa vez arrancaram suas roupas. Então em uma manhã em meados de agosto cinco homens arrastaram seu marido para fora da casa e cortaram seu pescoço. Seu filho de 10 anos também foi arrastado e ela nunca mais o viu. Sua filha de 12 anos conseguiu fugir. Os soldados tiraram os brincos de T, depois arrancaram suas roupas. Quando ela gritou, a chutaram. Então a prenderam no chão, com dois homens segurando-a enquanto o terceiro a estuprava. Depois se revezaram. Um homem colocou uma arma em sua boca para que parasse de gritar. Depois ela sangrou durante dias. Meses após, suas costas ainda doem pela agressão. Quando eles acabaram, comeram o que havia em sua cozinha e roubaram uma galinha e um pato. Também arrastaram o corpo de seu marido. Ela fugiu para a montanha e encontrou sua filha e seu pai. Tentaram encontrar segurança nas aldeias vizinhas, mas os militares continuavam a aparecer. Sem ter para onde ir, eles rumaram para Bangladesh.

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Só restam palavras

O marido de N estava andando por uma estrada no final de agosto, quando vários aldeões viram soldados agarrá-lo e levá-lo para os morros. Mais tarde naquele dia, crianças dos morros encontraram a cabeça dele, junto com vários outros cadáveres. Soldados se movimentavam ao redor dos corpos. N ficou em casa com sua filha de 8 anos nos dias seguintes, sem conseguir parar de chorar. Então, de repente, 80 soldados apareceram na aldeia. Cinco deles se aproximaram de sua porta e gritaram: "Quem está aí dentro?" N ficou aterrorizada. Os homens entraram. Um deles a segurou enquanto ela lutava e gritava. Cobriram seus olhos com fita adesiva e bateram em sua cabeça com uma arma. Dois a seguraram enquanto outros três começaram a revistar suas roupas. Não havia nada para roubarem; ela já tinha escondido seus bens de valor. Eles arrancaram sua roupa e lhe bateram na cabeça com uma arma até que ela apagou. Quando despertou, sua vagina estava inchada, sangrando e cheia de feridas. Claramente tinha sido estuprada, mas não sabe por quantos homens. Ela sentiu muita dor naquele dia para sair de casa. No dia seguinte, N e a filha fugiram para Bangladesh. Ela sangrou durante oito dias, e três meses depois ainda tem problemas para urinar. "Não tenho mais nada", diz ela, contendo as lágrimas. "Tudo o que me resta são minhas palavras."

"Levaram as garotas jovens"

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Pais obrigados a ver

N, 17, estava em casa com seus pais e irmãos no final de agosto, quando ouviu o pipocar de armas de fogo. De repente, dez homens irromperam na casa e começaram a cortar os sacos de arroz à procura de bens de valor. Então os soldados amarraram as mãos dela nas costas com cordas e colocaram fita adesiva em sua boca. Cinco homens contiveram sua família frenética, agredindo-os com suas armas. Eles rasgaram as roupas de N, arrancaram seus brincos e pegaram o dinheiro que ela tinha escondido na blusa. Quando ela tentou protestar, eles lhe bateram com as armas. Jogaram-na ao chão. Cinco homens se revezaram estuprando-a, enquanto os outros a seguravam. Seus pais foram obrigados a assistir. Quando eles gritavam, os soldados os agrediam. Afinal eles ficaram em silêncio enquanto sua filha era atacada. Depois que os homens se foram, os pais de N a desamarraram e lavaram. Ela sangrou durante seis dias. A família partiu para Bangladesh no dia seguinte. N sentia dor demais para caminhar, então seu pai a carregou e cruzaram a fronteira.

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Tudo era dor

Aproximadamente cem soldados cercaram a aldeia de A numa tarde no final de agosto. O marido de A fugiu, deixando-a sozinha na casa com o filho de 2 anos. Dois soldados entraram na casa. Um deles atirou o bebê ao chão, então agarrou A pelo pescoço. Os dois a agrediram e lhe apontaram armas. Eles rasgaram suas roupas. Ela chorou e suplicou que parassem. Um dos homens arrancou seus brincos. Então a atiraram ao chão, rindo dela. Um soldado encostou a faca em seu quadril direito e cortou a carne. Os dois a esbofetearam no rosto. Os homens se revezaram no estupro. Ela podia ouvir seu filho chorando. Rezou para Allah, aterrorizada de que os homens matassem a ela e ao menino. "Tudo era simplesmente dor", diz ela hoje. Quando os soldados saíram, dispararam suas armas em direção ao céu. Depois do estupro, A não conseguiu comer durante dias e teve dificuldade para andar. Ela se escondeu nos morros próximos com seu filho até que encontrou o marido. Juntos, caminharam durante 14 dias até que finalmente cruzaram a fronteira para Bangladesh.

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Como eles morreram?

D estava em casa certa tarde no final de agosto, quando ouviu barulho do lado de fora. Seus dois filhos mais velhos e o marido correram, deixando-a só com seu menino de 3 anos. Três homens entraram na casa. Ela gritou e o filho começou a chorar. Eles tiraram seus brincos do nariz e das orelhas, depois rasgaram sua roupa. Um homem conteve seus braços e segurou uma faca junto de seu quadril, enquanto os outros dois a estupravam. Ela temeu que eles a matassem, por isso abafou os gritos. Depois de duas horas, os homens finalmente foram embora,. Quando seu marido voltou, encontrou-a nua. Mas ela estava envergonhada demais para lhe contar o que havia acontecido. Ela estava tão inchada e sangrava tanto que achou difícil caminhar durante quase três semanas depois da violação. Eles fugiram para outra aldeia. Lá, ficou sabendo que sua casa tinha sido queimada e que tinham visto os corpos de seus filhos mais velhos. Ela não sabe como eles morreram. D e sua família chegaram a Bangladesh em outubro.

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