
Nos escombros do passado, a esperança de um futuro melhor. O presente, para muitos mexicanos, é incerto e transitório --está congelado naquele dia 19 de setembro, quando um terremoto de magnitude 7,1 devastou a região central do país, deixando um saldo de 369 mortes e um rastro de destruição que há décadas não se via.
Próximo ao epicentro do terremoto, no sudeste da Cidade do México e nos Estados de Puebla e Morelos, muitas casas e prédios foram ao chão, causando mortes e deixando famílias inteiras desabrigadas.
Enquanto alguns esperam pela reconstrução de suas casas, outros vivem com vizinhos, familiares ou amigos. Há também quem não arrede pé do local que um dia foi chamado de lar, improvisando moradia em meio a ruínas.
Uma equipe de reportagem da Reuters percorreu alguns dos locais mais atingidos pelo terremoto e registrou histórias de quem teve sua casa destruída.
Maria Guzman é uma dona de casa de 70 anos que vive em San José El Platanar, um pequeno povoado localizado na cidade de Chiautla, em Puebla, a poucos quilômetros do epicentro do terremoto.
Das ruínas daquilo que um dia foi seu lar, ela conseguiu, com a ajuda de sua família, recuperar pouca coisa, como alguns móveis. Um tesouro particular, no entanto, ficou intacto.
"A coisa mais valiosa que eu recuperei foi a foto do dia do meu casamento", disse Guzman a Reuters.
À espera da reconstrução de sua casa, ela vive com a família em um abrigo.
Juan Sánchez, 53, é paroquiano da igreja de San Juan Bautista, de San Juan Pilcaya, um dos povoados mexicanos mais afetados pelo terremoto do dia 19 de setembro --85% das construções desta localidade tiveram danos estruturais por conta do sismo.
Estamos celebrando a missa sob uma tenda. É uma grande tristeza, estamos esperando a ajuda do governo para reconstruir nossa igreja."
Uma dessas construções que não foram danificadas no povoado, localizado na cidade de Chiautla, foi a casa de Sánchez.
Com isso, ele ofereceu abrigo a algumas famílias locais em seu quintal. A igreja, no entanto, não teve a mesma sorte, tendo sofrido grandes abalos.
A dona de casa Veronica Dircio, 34, vive com os três filhos em uma barraca instalada no quintal de um vizinho, em San Juan Pilcaya, na zona do epicentro do terremoto --o sismo deixou sua casa gravemente danificada.
"Nós ficamos na rua", relata ela à Reuters. "Esperamos a demolição da nossa casa e a ajuda das autoridades".
Dircio afirma que não sabe como será a nova casa que um dia irá abrigar sua família.
Não nos disseram se poderemos ter de volta um pouco do que um dia foi nossa casa."
Após o terremoto, Catalina Martinez vive no quintal de sua casa, que ficou quase totalmente destruída. A dona de casa de 78 anos disse que, com a ajuda da família, conseguiu resgatar alguns móveis.
Ela espera que sua casa, em San José El Platanar, possa ser reconstruída e não precise constituir um lar em um outro local.
"Espero que as autoridades não nos enganem com promessas", disse ela. "Não sei o que vai acontecer conosco".
O lar de Prudencio Gutierrez, trabalhador rural de 66 anos, não tem mais teto. Mesmo assim, ele organiza alguns enfeites na parede do lugar que um dia o abrigou, em San Francisco Xochiteopan.
Sua relíquia está em suas mãos. "A coisa mais valiosa que eu recuperei foi o meu chapéu", disse ele, que também afirmou à Reuters ter conseguido resgatar sua cama e algumas roupas.
"As autoridades disseram que vão nos ajudar a construir uma casa, mas não sei se é verdade", desabafou.
A dona de casa Tomasa Mozo, 69s, continua vivendo em sua casa apesar dos estragos. Em um dos cômodos, não há mais teto e a iluminação é feita pelo próprio sol --ela mora em outro cômodo da casa e espera que os danos sejam reparados o mais breve possível.
"Tenho medo de sair, não consigo dormir", disse à Reuters.
Com a ajuda de sua família, Mozo conseguiu resgatar alguns móveis e isso deu a ela mais esperanças de permanecer no local que há tempos é seu lar.
Tesouros particulares são resgatados em meio às ruínas em casas destruídas pelo terremoto.
Com a ajuda de sua família, a dona de casa Maria Trinidad González, de 41 anos, conseguiu recuperar alguns móveis dos escombros de sua casa, em Tepalcingo. "A coisa mais valiosa que eu recuperei foi o meu utensílio de cozinha", disse Gonzalez.
Hoje, ela vive no quintal e espera que um dia a casa toda seja reconstruída, de modo a poder viver como vivia antes do dia 19 de setembro.
A dona de casa Elena Zapata, de 69 anos, posa para foto com sua neta Mariana, de 3 anos, dentro das ruínas de sua casa, em Tepalcingo. "O mais valioso que tenho é a vida da minha neta", disse ela à Reuters.
A casa está gravemente danificada e elas vivem no quintal. Zapata conta que alguns móveis foram recuperados com a ajuda de familiares e que espera poder voltar aos tempos do passado, com a casa totalmente reconstruída.
O trabalhador rural Jaime Delgado, 21, colocou um retrato de uma santa na parede da casa em ruínas, em Jojutla de Juarez, onde ele recolhe peças de ferro para vender --sua casa não foi danificada pelo sismo.
Neste mesmo local, ele ajudou a resgatar moradores dos escombros no dia 19 de setembro, quando o terremoto de magnitude 7.1 atingiu o local.
Uma senhora morreu aqui, esmagada pelos escombros. Tudo isso acabou, agora busco peças de ferro para vender"