No início dos 1950, um Severino fugia da seca em uma viagem que partia da serra da Costela, no semiárido entre Pernambuco e Paraíba, até o litoral. Este Severino foi retratado em versos por João Cabral de Melo Neto, na obra "Morte e Vida Severina", publicada em 1955.
A serra da Costela, na verdade, não existe. Ela faz referência às serras que ficam no município de Poção, em Pernambuco, onde está a nascente do rio Capibaribe. E Severino segue o rio até o encontro com o mar, no Recife.
Mais de seis décadas depois, o UOL refez o roteiro de Severino para conhecer como funciona hoje a migração em busca do emprego na região do Nordeste. Em uma série que começa dando voz aos “protagonistas” do livro, vai contar --em vídeo, textos e fotos-- como vivem os novos Severinos em tempos de seca braba.
No segundo capítulo, a série trata de mortes e de violência, para em seguida relatar vidas e nascimentos, assim como fez o poeta pernambucano. No último capítulo, viajamos pelo próprio rio, que serve de fio condutor da história e de próprio percurso para aquele que no livro foi diferenciado como “aquele Severino que em vossa presença emigra”.
A reportagem revisita os locais por onde o retirante passou e retrata personagens, como parteiras e rezadeiras, que poderiam estar presentes nesta obra de João Cabral que se apresenta como um auto natalino. Seus históricos versos viraram música na voz de Chico Buarque e registraram de uma maneira única e lírica o sertanejo, ao mesmo tempo em que fala de vida, morte e migração.
Atualmente, os Severinos ainda fogem e buscam empregos na zona da mata e no litoral, onde chegam normalmente a plantações para o corte da cana de açúcar. Mas também encontram abrigo no meio do caminho, no agreste pernambucano, onde existe um polo de confecções que oferece trabalho a muitos fugitivos da seca.
No final do caminho, às margens do rio Capibaribe, no Recife, há o abrigo final --e persistente-- às pessoas que ainda lutam contra a miséria e a fome. São todos Severinos nessa história.