O princípio de equidade do SUS (Sistema Único de Saúde) prevê que todos tenham direito à saúde pública e gratuita conforme sua necessidade. Isso significa ter, por exemplo, prevenção para quem está sadio, remédios eficientes para os doentes e também a possibilidade de uma operação neurológica ou um tratamento de câncer de alta tecnologia para quem precisa.
A proposta do SUS é diferente da de um plano de saúde. O SUS é um sistema de garantias para a saúde pública e também a do indivíduo. A vigilância em saúde tem que estar articulada com atendimento para ser efetiva e eficiente Maria Angélica Borges dos Santos, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz
Na prática, o sistema que inclui 400 milhões de vacinas aplicadas anualmente e que gasta R$ 4,4 milhões para transplante de órgãos do bebê Sofia é o mesmo dos hospitais em que faltam médicos, leitos e remédios. Segundo o DataSUS, 707 mil pessoas entre 5 e 74 anos morreram só em 2014 por causas consideradas evitáveis --como gripe, tuberculose ou infecções intestinais.
O SUS paga por 95% dos transplantes de órgãos realizados no país --o Brasil é o segundo no mundo em número de transplantes de rins e fígado. No entanto, a vigilância sanitária --parte da rede pública-- não consegue controlar o mosquito Aedes aegypti, transmissor de zika, dengue, chikungunya e febre amarela. Mais de 1,2 milhão de brasileiros foram infectados por dengue só em 2016.
Para quem pesquisa gestão do sistema, a desigualdade é resultado do subfinanciamento histórico da rede pública somado a problemas de administração.
A saúde nunca foi tratada como prioritária na política de Estado brasileira. Nos 28 anos do SUS, o financiamento nunca deixou de ser discutido como um tema problemático Áquila Mendes, professor de economia da saúde da USP
O dinheiro, que sempre foi insuficiente, ainda sofre cortes recorrentes pela indefinição de quanto municípios, Estados e governo federal devem obrigatoriamente investir, afirma Mendes.
Com a crise financeira dos governos, o investimento em saúde volta a entrar em discussão. Colocar um teto no aumento de gastos em saúde é uma das propostas do governo Temer.