O Mar Morto perto do fim

Sob o risco de sumir, lago bíblico vira refúgio de quem cansou da vida moderna

Maayan Lubell e Ronen Zvulun Da Reuters
Ronen Zvulun/Reuters
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Um homem nu coberto de lama descansa em uma praia. Perto dali, um rapaz com dreadlock nos cabelos lê, recluso, o Livro do Êxodo. Mais adiante, uma mulher faz soar uma nota calma de uma típica tigela de canto tibetano.

É pôr do sol no Mar Morto, onde a Nova Era se funde a uma visão bíblica que parece entrar em extinção, segundo reportagem da Reuters. Suas águas ricas em sal estão desaparecendo enquanto suas costas são devoradas por sumidouros (uma espécie de erosão), tornando a praia de Metzoke  Dragot uma das últimas manchas intocadas naquele que é o ponto mais baixo do planeta, a 400 metros abaixo do nível do mar.

Ao longo dos séculos, o antigo lago atraiu monges, eremitas, pequenas seitas judaicas e cristãos primitivos que viajavam em busca de alegria espiritual. Também virou destino de turistas que gostam de flutuar em suas águas densas e de se cobrir com lama mineral.

O dano ecológico nas últimas décadas, no entanto, tem sido devastador. O Mar Morto está desaparecendo a uma taxa de mais de um metro por ano, principalmente porque suas fontes de água naturais, que fluem para o sul através do vale do rio Jordão, no Líbano e Síria, foram desviadas para o cultivo e para beber água.

A mineração de potássio por israelenses e jordanos é responsável por danos adicionais. Nos últimos anos, algumas praias chegaram a fechar quando sinais de alerta foram dados sobre o perigo do aparecimento de novos sumidouros ao longo do litoral.

A partir de uma estrada no deserto, uma trilha rochosa conduz para Metzoke Dragot, uma praia no norte do Mar Morto que faz fronteira com Israel, a Cisjordânia ocupada e a Jordânia. Um punhado de campos improvisados, conhecidos como "zulas", pontilham a praia. Eles são construídos principalmente com ramos, lonas e lençóis antigos, usados para proteger as pessoas do sol escaldante.

Ali, a alta temporada é durante o inverno, quando o calor é suportável para a maioria. Mas também existem aqueles que optam por ficar nas zulas por tempo indeterminado. O que eles buscam: Refúgio da vida moderna.

A metade do mundo é feita de alta tecnologia. Eu estou na outra metade"

Mark, há dez anos sem eletricidade ou celular

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Mark, que preferiu não informar seu sobrenome, disse à Reuters que tinha em torno de 60 anos. É naquela praia que ele viveu pelos últimos dez anos sem eletricidade ou telefone celular. Para comer, conta com a bondade de estranhos.

Muitos turistas procuram no Mar Morto as propriedades terapêuticas associadas a seus minerais. Jade, uma ex-bombeira de Nova York, também não quis falar o sobrenome. Há mais de um ano na região, ela disse que foi até a praia porque precisa de uma cura e que não pensa em voltar a morar em sua casa, em Jerusalém.

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Sua zula está alinhada com cristais e ervas crescem em vasos de plantas. Dentro da cabana, ela guarda livros e pacotes de comida que traz uma vez por semana em um ônibus que sai de Jerusalém.

"Eu encontrei aqui a mais profunda e surpreendente cura e paz; a energia mais incrível", diz. "Esta é a minha vida, não vou embora."

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