Prestes a completar 24 anos, a Escola de Música da Rocinha teve pela primeira vez o esvaziamento de suas salas de aula. O som da música deu lugar ao medo.
De acordo com a escola, dos 35 alunos que integram a orquestra, apenas 15 têm conseguido frequentar os ensaios.
A coordenadora Simone Ferreira da Silva lamenta as ausências e aponta impactos na iniciativa. "Acabamos obrigados a cancelar as aulas. A segurança dos alunos está em primeiro lugar, mas isso tudo é muito triste. Não podemos deixar a peteca cair. Temos apresentações fora do Rio, temos um compromisso em formar cidadãos. Qualquer ausência compromete o trabalho de toda a orquestra. Se falta um timbre, acaba sendo um desfalque, compromete muito a apresentação e o trabalho que é feito", diz ela, que é ex-aluna da escola e relata nunca ter visto a situação tão "complicada".
Tentando diminuir a evasão, a escola criou um grupo de troca de mensagens com pais. "Quando começam os fogos, todo mundo fica em pânico. Perde-se a concentração. Fica todo mundo agitado. Os pais começam a ligar querendo saber se os filhos chegaram, se já saíram. Criamos um grupo de WhatsApp para trocar informações sobre segurança. A violência atrapalha muito nosso trabalho."
Simone diz que, em dias de confronto, a unidade já chegou a funcionar como abrigo para os estudantes que não tinham como voltar para casa.
"Tem gente que sai da escola e se refugia aqui. O prédio cancela as atividades e a gente continua para receber esses alunos que não têm como voltar para casa. Uma das alunas precisou dormir na casa da professora certa vez. Fizemos contato com os pais. Eles não tinham condições de buscá-la e autorizaram que a aluna fosse para a casa da professora em outro bairro."
Hoje, a Escola de Música atende 250 alunos entre 5 e 17 anos que vivem nas comunidades de Vidigal, Parque da Cidade, Vila Canoas e Rocinha.
Dos 24 professores engajados no projeto, 16 são ex-alunos da escola. Os demais são de projetos sociais de outras comunidades do Rio. Através da escola, os alunos se apresentam em outros estados. Uma apresentação está marcada para julho em Arapongas, no Paraná.
"A música serve de estímulo. Muitos andaram de avião pela primeira vez por causa da escola e se tornaram alunos melhores por conta da música", afirma Simone.