Aqueles que trabalharam no Projeto Manhattan, para o desenvolvimento da bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial, viam claramente que as armas nucleares criavam um risco compartilhado que nos levava a trabalhar até mesmo com Estados considerados inimigos.
Robert Oppenheimer, o diretor do laboratório que desenvolveu as bombas, tentou capturar esse destino compartilhado quando comparou os Estados Unidos e a União Soviética a dois escorpiões em uma garrafa, "cada um capaz de matar o outro, mas apenas colocando em risco sua própria vida". Muitos soviéticos também notaram isso. Foi um projetista de armas nucleares soviético que refletiu pesarosamente que os dois países estavam "condenados" a cooperar.
Mas sempre houve muitos outros americanos que não aceitavam a ideia de que os Estados Unidos viviam em um estado de vulnerabilidade às armas nucleares soviéticas. Nos anos 60, esses americanos pressionaram por medidas de defesa civil. Nos anos 80, o foco dos esforços deles se voltou para as defesas antimísseis. Eles imaginaram que o que passou a ser chamado de "Guerra nas Estrelas" de alguma forma protegeria os Estados Unidos do mundo da mesma forma que os oceanos fizeram no passado.
Essa escola de pensamento foi com frequência caracterizada como irremediavelmente ingênua, mas 1991 mudou tudo isso. A guerra no Golfo pareceu validar as esperanças mais loucas dos fantasistas tecnológicos, quando Israel, aparentemente, conseguiu se defender com sucesso de ataques com mísseis.
E o colapso da União Soviética pareceu sinalizar que o custo de manter os avanços técnicos americanos faliriam qualquer adversário. O fato de as defesas antimísseis israelenses não terem realmente funcionado só se tornaria de conhecimento muito depois. E os vários motivos para o colapso da União Soviética eram complicados demais para observadores casuais. Muitos americanos chegaram à conclusão simplista e sedutora de que havia uma saída tecnológica da garrafa de Oppenheimer.
Ao mesmo tempo, entretanto, líderes políticos e militares hostis ao redor do mundo estavam chegando a conclusões diferentes a respeito de sua vulnerabilidade ao poder americano e a respeito das rotas certas de fuga. Muitos observadores por todo o mundo concordavam com a posição, geralmente atribuída a um general indiano chamado Sundarji, de que a lição era simples: "Nunca enfrente os Estados Unidos sem armas nucleares".
Kim Il-sung não discordou. Já nos anos 60, muito antes do fim da Guerra Fria, a Coreia do Norte expressava interesse por armas nucleares. A Coreia do Sul também deu início a um programa de armas nucleares durante seu período de ditadura militar. Mas enquanto a Coreia do Sul se democratizou e voltou sua atenção para o desenvolvimento de sua economia, Pyongyang seguiu em frente, construindo com sucesso um reator de gás-grafite para produção de plutônio para armas nucleares nos anos 80, juntamente com uma usina radioquímica para recuperação desse plutônio.
Os Estados Unidos e outros países pressionaram a Coreia do Norte a assinar o Acordo de Não Proliferação Nuclear como um "Estado de armas não nucleares" e que aceitasse inspeções pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). Mas em 1992 e 1993, os inspetores da AIEA descobriram uma série de inconsistências e mentiras nas declarações da Coreia do Norte a respeito de suas atividades nucleares, provocando uma crise, uma que aprofundou assim que a Coreia do Norte apresentou um lote de barras de combustível contendo plutônio suficiente para várias armas nucleares.
A Coreia do Norte e o governo Clinton tentaram desarmar o impasse com um acordo diplomático assinado em 1994, chamado Acordo de Bases. Segundo seus termos, a Coreia do Norte desativaria suas instalações conhecidas para produção de plutônio para armas nucleares em troca do fornecimento de assistência em energia, incluindo dois reatores nucleares de água leve, além promessas de melhora nas relações. Os norte-coreanos, isolados após a perda de seus protetores soviéticos e sem saber se seu programa nuclear no final seria bem-sucedido, aparentemente calcularam que o Acordo de Bases removia o risco de guerra e oferecia um caminho para um relacionamento menos hostil com os Estados Unidos.
Muitos daqueles que acreditavam que os Estados Unidos poderiam escapar de risco por meio do uso de força ficaram chocados com o acordo diplomático que parecia recompensar a Coreia do Norte por abrir mão de armas nucleares. O senador John McCain comparou desfavoravelmente o acordo a Munique, dizendo:
Se grasna como pato e anda como pato, é apaziguamento"
Nos triunfalistas anos 90, muitos tinham dificuldade em entender por que os Estados Unidos deveriam fazer concessões ou compensar um país pequeno e bizarro como a Coreia do Norte.