Se a maioria dos brasileiros não lembra em quem votou para deputado federal ou senador, isso é necessariamente ruim? Os especialistas ouvidos pelo UOL divergem em relação ao tema.
Para Maurício Moura, esquecer em quem votou dificulta o trabalho de fiscalização sobre os eleitos. "Eu acho que isso é ruim para a democracia. Se a gente não lembra, é quase impossível fiscalizar", afirma.
O cientista político e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Carlos Pereira discorda. Para ele, o fato de o eleitor brasileiro não lembrar não é necessariamente ruim.
"Isso não é algo que acontece apenas no Brasil. Acontece na maioria dos países com democracias sofisticadas como a brasileira", afirma. "Além disso, o eleitor não tem como ficar fiscalizando seu parlamentar o tempo todo, como se fosse uma patrulha policial. O eleitor tem uma agenda lotada, ele trabalha, namora, se diverte. Não tem como exigir isso dele", diz Pereira.
"Há instituições que fazem o trabalho de fiscalização da vida parlamentar em nome do eleitor. Entre elas, está a mídia, e o que a gente chama de grupos de interesse. Em geral, o eleitorado só faz esse acompanhamento de forma mais próxima quando há algum tema muito sensível na agenda do Parlamento. No dia a dia, isso não acontece. E não é só no Brasil. É no mundo inteiro", opina.
Na avaliação de Pereira, os chamados grupos de interesse estão cada vez mais ativos e usando ferramentas como a internet para pressionar os parlamentares e cobrar posicionamentos. "Durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, a gente via diversos grupos fazendo esse movimento. De uma certa forma, é assim que as coisas funcionam em uma democracia sofisticada como a nossa", diz o professor da FGV.
Os grupos de interesse, segundo Pereira, são entidades da sociedade civil como ONGs (organizações não governamentais), associações, sindicatos, comunidades religiosas, entre outras, que têm mais ou menos capacidade ou recursos para atuar junto aos parlamentares e favorecer suas agendas.
Moura concorda parcialmente com Pereira sobre o papel da mídia e dos grupos de interesse como mecanismos de monitoramento do comportamento parlamentar. Mas avalia que a participação ativa da população nesse trabalho também é importante.
“Eu concordo que essas entidades podem exercer esse papel, mas, se o eleitor não acompanha, fica muito difícil punir ou premiar aqueles parlamentares que exerceram bem ou mal os seus papéis. Essa falta de acompanhamento coloca o cidadão ainda mais longe do parlamentar", conclui o pesquisador.