As novas regras impostas desde 2006 permitem que o jornalista carioca Fábio Bastos, 36, estampe nas embalagens de sua Sediña o slogan “la marca de la legalización”. As sedas já são vendidas no Brasil, embora fabricadas no Uruguai, onde a maconha é legalizada desde 2013.
A lei que proíbe o comércio, a produção e o uso das variedades sativa e indica da Cannabis no Brasil é de 25 de novembro de 1938. No artigo 2º, da “produção, do tráfico e do consumo”, o presidente Getúlio Vargas proibia, no território nacional, “o plantio, a cultura, a colheita e a exploração” do ópio, da cocaína e do “cânhamo Cannabis sativa e sua variedade indica”. Na época, o país vivia a ditadura do Estado Novo: o Congresso estava fechado, e a proibição não foi submetida à apreciação parlamentar.
Bastos --que diz lutar globalmente pela legalização da maconha-- não esperou que a legislação arrefecesse e partiu para o Uruguai há quatro anos para plantar cânhamo. De lá, migrou para Bangcoc, onde vive em uma intensa ponte aérea com a China, local de sua fazenda de 300 hectares destinada à produção da erva, com incentivos do governo local (na foto, ele abraça sua plantação na Ásia). Mais do que as sedas, extrai tudo o que a Cannabis sativa puder proporcionar: tecidos, material para a indústria, óleos medicinais e sementes comestíveis. Espera a oportunidade para plantar o cânhamo, a planta da maconha, no Brasil.
O faturamento global da empresa é de cerca de US$ 5 milhões anuais (equivalentes a R$ 17 milhões). “No Brasil, o faturamento é vergonhoso ainda”, diz. “Há uma grande hipocrisia. Já fui procurado por dois deputados e um senador querendo botar dinheiro na parada, mas eles fazem militância contra [a legalização da planta]. No Brasil, todo mundo quer [faturar], mas não quer botar a cara a tapa.”
Bastos nomeou um representante no Brasil, Jorge Morenno, 26. Ele atende à reportagem em um edifício de Alphaville. De boné de aba reta, com o nome Kingston, a capital da Jamaica, estampado nos dois lados, Morenno foi nomeado diretor-executivo da companhia no Brasil e trabalha com mais seis pessoas na sede brasileira da Sediña.
“Nem todos fumam [maconha], mas respeitam a causa”, diz. Ele divaga sobre o mercado: é extenso, mas ainda restrito às tabacarias e aos recentes headshops --uma espécie de supermercado para usuários de maconha, licenciado também como tabacaria. “Nosso trabalho vem de maneira lenta. O Nordeste e o Centro-Oeste mostraram-se mais interessados. O consumidor se identifica com a nossa ideia pró-legalização. E evitamos nos associar ao tabaco --nunca a Sediña vai atrelar nada ao consumo de tabaco.”
No Brasil, existem headshops que vendem produtos para fumar maconha em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campinas (SP) e Londrina (PR). “Não temos um nicho pequeno. O uso não é modismo. Muita gente fuma. A legalização do seu uso é importantíssima em termos econômicos. A maconha é um mercado quente”, afirma o publicitário Rodrigo Oliveira Martins, 34, do headshop Sr. Haxi, de Salvador.
O mais antigo dos headshops, o Ultra 420, que funciona desde 1996 em São Paulo, tornou-se franquia. Em 2007, foi aberta uma filial no Rio e, neste ano, uma em Barão Geraldo, em Campinas (98 km de São Paulo). “A margem de lucro para acessórios de maconha é alta: gira em torno de 100%”, diz Alexandre Perroud, dono da rede. A maior parte dos acessórios para fumar maconha no país ainda é importada, diz. “Em torno de 70% a 80% dos produtos são estrangeiros. Já foi pior, houve uma ampliação da fabricação nacional de alguns itens, como as sedas.”