Eles lutam pelo verde em SP

Moradores se unem para defender áreas verdes e por novos parques na maior cidade do país

Wellington Ramalhoso Do UOL, em São Paulo
Arte/UOL

O duelo do verde contra o cinza

São Paulo, metrópole cinza de pedra e poluição, viu surgir nos últimos anos um movimento em defesa de áreas verdes e pela criação de mais parques. Moradores de vários pontos da maior cidade do país conseguiram se articular para realizar uma luta em conjunto que vai colhendo vitórias e derrotas.

Fundada como vila há 463 anos em uma área de Mata Atlântica, a maior cidade do país tem hoje um grande deficit de áreas verdes. São 4m² de área verde por morador, mas a ONU (Organização das Nações Unidas) estima que o ideal é que uma cidade tenha 12m² de verde por habitante.

Fundamental para o equilíbrio do clima local, o verde ameniza o calor e melhora a qualidade do ar, entre outros benefícios que proporciona.

A luta por novos parques reúne gente de todas as idades e profissionais de diversas áreas, mas esbarra nos interesses e no poder do mercado imobiliário e na luta dos movimentos por moradia, patina nos meandros da legislação e da Justiça e empaca no baixo orçamento público para a preservação de áreas verdes.

Veja as histórias de moradores de São Paulo que, em cenários adversos, desafiam a lógica da cidade e tentam impedir que ela se torne ainda menos verde.

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Augusto pela Augusta

Os pais dele se conheceram em uma antiga cantina italiana da rua Augusta, bem em frente à mais famosa área verde reivindicada como parque em São Paulo. A luta pelo parque homônimo à rua paulistana já existia, mas com pouca força, no começo da década de 1980, quando ele nasceu e recebeu o nome de... Augusto.

Formado em arquitetura e urbanismo, Augusto Aneas morou, estudou e trabalha no centro da cidade. Conheceu o movimento em defesa do parque no começo dos anos 2000 e parece ter cumprido um destino quando se uniu a ele em 2013.

Naquele ano, a Prefeitura de São Paulo determinou a criação do parque, mas a questão não se resolveu. O parque Augusta é um terreno arborizado, com espécies remanescentes de Mata Atlântica, situado na região central. Ele pertence às construtoras Cyrela e Setin, que têm planos de construir prédios no local.

As empresas fecharam os portões do terreno em 2014. Depois de um período de ocupação por ativistas, no começo de 2015, elas colocaram tapumes ao redor de toda a área.

Os defensores do parque dizem que as construtoras descumprem uma cláusula da escritura do terreno que prevê o acesso público ao bosque com cerca de 700 árvores e querem que elas, as empresas, sejam multadas. Lembram também que o Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) proíbe a derrubada de espécies que lá existem.

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Pressionadas, Cyrela e Setin passaram a aceitar a preservação de parte da área remanescente de Mata Atlântica como parque, mas não desistiram do empreendimento imobiliário.

O movimento do qual Augusto faz parte rejeita o projeto com torres e quer a implantação do parque em todo o terreno. Também reivindica que a administração municipal não gaste nenhum centavo para tornar a área de uso público.

Augusto diz que o parque é importante “por ser a última área verde remanescente do centro, região carente de verde”, mas também “por ser um símbolo contra a especulação imobiliária”.

Criado no meio da Serra da Cantareira, uma das principais áreas de preservação ambiental de São Paulo, na zona norte, o arquiteto sente falta de áreas verdes no centro da cidade. A relação entre o verde e a metrópole provocou questionamentos no decorrer de sua formação universitária e, depois, no exercício da profissão. Augusto não acredita no desenvolvimento urbano sem o verde. Assim, ingressar no grupo de defesa do parque foi um caminho natural.

Em 2013, uma nova geração começou a se encontrar no parque por causa da ameaça de construção de prédios [no terreno]. Fui me conectando, e começou um novo movimento, o Organismo Parque Augusta. A gente sentia a necessidade de se oficializar como movimento social porque a disputa [pela criação do parque] era muito mais difícil do que a gente estava imaginando.

Daniel Guimarães/Folhapress Daniel Guimarães/Folhapress

O Ministério Público tem tentado negociar um acordo entre a prefeitura e as construtoras nos últimos dois anos, mas a situação ainda é de impasse. As empresas estariam pedindo R$ 120 milhões pelo terreno.

Um estudo feito pelo LabCidade (Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) concluiu, levando em consideração as restrições legais do terreno, que ele vale R$ 14 milhões.

Em nota, Cyrela e Setin disseram que “o projeto [dos prédios] segue em tramitação nos diversos órgãos responsáveis e, assim que forem cumpridas todas as etapas e a aprovação for homologada junto à prefeitura, serão iniciadas as obras do parque [em uma parte do terreno] e a subsequente entrega à população”.

Da época da ocupação do parque em 2015, Augusto ressalta a lembrança da participação de centenas de pessoas nas assembleias e atividades organizadas pelo movimento. Para ele, “estar imerso na disputa” pelo parque Augusta lhe dá a chance de pensar o espaço público com menos limites do que no meio acadêmico e no mercado da arquitetura.

“A melhor coisa [de fazer parte do movimento] é participar de novas formas de organização coletiva, mais horizontais, sem liderança e centralização, que acolhem diferentes pontos de vista e ideologias, mas guiado pela pauta comum que é o parque. Poder fazer parte dessa experiência tem sido enriquecedor.”

"Pequeno Cidadão" lança o "hino" do parque Augusta

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Bisavó de 83 anos inspira jovens

Ela é bisavó, tem 83 anos e participou de inúmeros atos pela criação do parque Augusta. Em 2015, quando ativistas reabriram o terreno do parque, assumiu, diante da Polícia Militar, a responsabilidade pela ocupação. Foi levada à delegacia, fichada e ainda responde a um processo.

“A polícia estava exigindo que alguém ou mais de uma pessoa desse a identidade para ficar como responsável pela entrada lá, que eles consideravam ilegal. Eu já tinha 81 anos. Então eu disse: o negócio vai ser comigo. Porque é mais complicado para os jovens. Acabei ficando como ré”, conta a professora aposentada Ana Dulce Maraschin.

Partiu dela a sugestão para a articulação do movimento pelo parque Augusta, de maior visibilidade, com outros movimentos que lutam por novos parques na cidade. Ela diz que a ideia surgiu em uma conversa que teve com o genro e um neto em casa. A iniciativa resultou em uma união que fortaleceu a defesa do verde na capital paulista. “A Rede Novos Parques é uma aliança de todos os parques de São Paulo que estão ameaçados de destruição, principalmente pela especulação imobiliária.”

Dona Ana não se abala diante das dificuldades.

Tenho vontade de que o parque [Augusta] esteja aberto em breve, mas não sei se não vamos ter de lutar bastante ainda. E se for preciso, vamos lutar. Enquanto a gente não conseguir, não vamos desistir. É a única área verde dessa região, não dá para deixar destruir.

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Gaúcha de Bagé, mudou-se pequena para Porto Alegre. “Em Porto Alegre, a gente foi morar numa casa que tinha um quintal muito grande. A gente foi acostumada a subir em árvores, a comer legumes arrancados da horta na hora. Depois meu pai comprou uma chácara. Tinha cavalo, tinha ovelhas, tinha muita árvore, era uma vida maravilhosa. A gente podia pescar porque tinha um rio. Minha infância foi muito ligada à natureza. Por isso que tenho certa tendência a querer proteger a natureza.”

Em 1964, mudou-se para São Paulo. Morou no centro, em Santo Amaro (zona sul) e em São Bernardo do Campo (ABC paulista). Voltou à região central em 2004 e conheceu a Samorcc (Sociedade dos Amigos e Moradores de Cerqueira César), entidade que puxava a luta pelo parque Augusta na época.

Em 2013, jovens se aliaram ao movimento e tiveram em dona Ana uma inspiração. “Eu me dou muito bem com os jovens. Acho que porque eu era professora [de artes]. E essa gente que juntou aqui no parque Augusta era uma turma maravilhosa, uma coisa sensacional. É uma coisa que a gente não esquece mais.”

Ela tem duas filhas, quatro netos e dois bisnetos. Com o apoio discreto, mas firme, da família, promete continuar na luta pelo escasso verde de São Paulo.

"Não vamos desistir até conseguir o parque Augusta"

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A batalha na beira da represa

Wesley Rosa, 29, viveu os primeiros sete anos de sua vida em um bairro antigo, industrial e árido perto do centro de São Paulo: a Mooca. Em situação financeira difícil, a família mudou na década de 1990 para o Jardim Apurá, um bairro em formação na zona sul, ao lado da represa Billings e 30 km distante do centro.

O garoto passou, então, a ser vizinho e frequentador de uma área verde de quase 1 milhão de metros quadrados. Hoje, luta para que ela seja transformada no parque dos Búfalos. Mesmo sem a classificação oficial de parque, o terreno foi usado nas últimas décadas como área de lazer pelos moradores do Jardim Apurá e por praticantes de bicicross, paraglider e pesca.

Minha família tirava o sustento daqui. Comida, tirava da represa [pela pesca], e dinheiro, tirava da venda das coisas que fazia para vender a quem frequentava a represa. A gente descia vendendo coxinha, geladinho e refrigerante.

O gado que dá nome à área ocupava uma parte arrendada do terreno e foi minguando até ser retirado por volta do ano 2000.

Em 2012, foi aprovado um decreto que tornava a área de utilidade pública. Seria o primeiro passo para a transformação em parque, mas um ano depois aconteceu uma reviravolta. O decreto foi revogado, e a prefeitura decidiu ceder parte da área para a construção de um conjunto habitacional do programa Minha Casa, Minha Vida.

O projeto de 193 prédios teve o apoio de correntes políticas da região, o que acirrou as tensões com os defensores do parque. “Grupos políticos que são pró-construção de moradia acabaram me espancando em uma audiência pública, em dezembro de 2014. Ameaçaram de morte a mim e a outros defensores do parque. Chegaram a correr atrás de mim com um facão”, conta Wesley.

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O movimento pelo parque dos Búfalos manteve a defesa da preservação de toda a área e conta, inclusive, com um projeto de intervenções para a implantação da unidade. Os ativistas integraram-se à Rede Novos Parques, organizaram atividades no terreno e promoveram atos públicos.

A batalha às margens da represa representa um ponto extremo da dissociação entre desenvolvimento urbano e preservação ambiental na cidade. A necessidade de criar moradia não deveria colocar em risco a preservação de áreas delicadas como o entorno da represa Billings.

De acordo com o movimento, a área abrigava dezenas de espécies de animais, entre aves, répteis e mamíferos. Além disso, contava com 19 nascentes d’água, sendo que seis delas teriam sido afetadas pela construção do conjunto habitacional, iniciada em 2016.

“Não é uma briga contra a habitação. A gente indicou outros seis terrenos na região, que comportam o triplo de habitação que eles estão construindo aqui, lugares com mais estrutura. Aqui é ao lado da represa e só tem uma estrada de acesso. É uma área de manancial, não podia receber tantas intervenções”, afirma Wesley, que é formado no curso técnico de gestão de políticas públicas e hoje trabalha como mediador de conflitos.

A obra não começou um ano antes por causa de uma ação judicial do movimento pelo parque, que também conseguiu reverter ocupações irregulares nas margens da Billings.

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Apesar de algumas vitórias, Wesley lamenta o fracasso na disputa principal, a batalha pela implantação do parque na área toda – com a obra do conjunto, o parque deve ocupar, no máximo, 56% do terreno original. “Foi uma derrota não ter conseguido mudar uma torre de lugar nem aumentar a área de parque.”

Segundo os ativistas, o Orçamento municipal de 2017 prevê a destinação de R$ 5 milhões à criação do parque. Eles esperam que o novo secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Gilberto Natalini (PV), invista os recursos e consiga aumentar a área do parque em detrimento do novo condomínio do Minha Casa, Minha Vida.

Nos últimos anos, atuando como vereador, ele apoiou a criação de novos parques na cidade. Procurado pelo UOL desde a semana passada, Natalini não concedeu entrevista. Em nota, a secretaria afirmou priorizar a “recuperação” dos 107 parques existentes na cidade. A pasta alega que a maioria deles está em “estado crítico”.

“Estamos em processo de elaboração de edital para licitações a fim de renovar contratos de manutenção, manejo e segurança. Essa é a nossa prioridade e, assim que atendermos essas demandas, posteriormente poderemos nos voltar às questões relacionadas aos parques que ainda não foram implantados”, diz a secretaria.

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Mulheres na briga pelo verde

Com um punhado de carobinha na mão, colhido para fazer chá, a dona de casa Edite Lopes dos Santos, 75, uma das mais antigas moradoras do Jardim Apurá, caminha firme pela área onde sonha ver o parque dos Búfalos implantado. “O parque é muito importante para os nossos netos e bisnetos, inclusive para os idosos”, afirma.

Nascida em João Pessoa, viveu a infância em Guarabira, no interior da Paraíba. “Fui criada na zona rural”. Órfã aos 14 anos, migrou para o Rio de Janeiro, onde terminou os estudos e trabalhou na casa da família da atriz Rosamaria Murtinho.

A atriz mudou-se para São Paulo para trabalhar na TV Tupi e trouxe Edite com ela. A dona de casa ajudou a criar os três filhos de Rosamaria com o também ator Mauro Mendonça. Na capital paulista, conheceu Santo, seu marido, com quem teve um casal de filhos.

A família comprou um terreno no Apurá em 1977 e três anos depois mudou-se para o bairro.

Era muito lindo aqui. Tinha muitas espécies de pássaros, árvores e plantas medicinais. Tinha macaco bugio e tatu. A água da represa Billings era limpa, e eu vinha pescar tilápia.

Ela e o marido participavam ativamente da associação de moradores do bairro. Segundo dona Edite, o sentimento foi de indignação quando a comunidade, sem ser consultada, soube que parte da área reivindicada como parque seria destinada à construção de um conjunto habitacional. “Não veio ninguém procurar os moradores para dizer ‘nós vamos construir aí’. De repente, surgiu [o projeto]. Aí a gente ficou é doente.”

A notícia levou os moradores a protestar na prefeitura. “Chorei na Secretaria de Meio Ambiente. Estivemos lá em mais de 50 pessoas do bairro. Nós imploramos que não deixassem acontecer isso [a obra].”

Conhecedora da área, dona Edite contabiliza os prejuízos que a obra dos conjuntos já provocou. “Além de destruir nossas fontes de água limpa, destruíram nossas plantas medicinais. Goiabeira e outras árvores foram destruídas. Hoje você não vê pássaros aqui. Até as flores ficaram tristes.”

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Tristeza também é o sentimento da bióloga Cibele Gomes Leite, 31, outra moradora da região. “Mesmo com a [recente] crise hídrica, os governos não hesitaram [em aprovar o conjunto residencial na beira da represa] e não nos ouviram. E aconteceu tudo isso”, diz com o olhar na construção dos prédios.

“Essa área tem muita importância para a captação de água. Essa construção impermeabiliza mais áreas, diminui a captação de água e aumenta a geração de esgoto”, comenta Cibele, que trabalha com análise da qualidade da água na região.

A Billings faz parte da minha história. Desde criança frequento o parque. Quando era criança, tinha vontade de nadar na represa, mas minha mãe falava que o homem tinha poluído. E eu pensava quem era esse homem. Hoje entendo que somos nós. Nós que a poluímos. Meu esgoto também está indo para lá.

Ela começou a participar da luta pelo parque em 2014. “É a única área verde [da prefeitura regional] de Cidade Ademar [que abrange o Jardim Apurá]. Não tem parques aqui. Então, entrei na causa.”

Para a bióloga, a legislação ambiental é “muito boa”, mas foi ignorada pelo poder público – a aprovação da construção do conjunto de prédios passou pelas esferas municipal, estadual e federal. “Ver os prédios sendo construídos dá aquela sensação de derrota. Para mim, é muito difícil ver as torres. Me dá um engasgo, dá vontade de chorar.” 

Segundo Cibele, a aprovação do projeto de habitação na área intensificou o ritmo de ocupações na beira da represa. “Nossa luta agora é proteger essa área que foi destinada para parque. Vai ter que cercar. Se não fizer isso, essa área verde não vai ser protegida. Ela tem um grande risco de ser invadida”, alerta.

Cibele acredita que a estrutura do bairro não vai dar conta do novo contingente de moradores. “As pessoas que estão vindo para cá não vão ter trabalho [no bairro], não vão ter [atendimento de qualidade de] saúde. Não vão ter escolas suficientes, instrumentos de cultura e de lazer. Em vez de melhorar a qualidade do bairro, vai piorar”, diz, inconformada.

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Um filósofo ativista na zona leste

A antiga chácara de uma família alemã virou o palco de uma disputa entre moradores da Vila Ema, na zona leste de São Paulo, e uma construtora interessada em erguer um novo condomínio de prédios.

Nascido e criado na vizinhança, o funcionário público Jonas Barros, 35, formado em filosofia, entrou na luta pela transformação do terreno em parque no fim da década passada. E promete não sair dela enquanto o parque Vila Ema não virar realidade.

A família de Jonas mora no bairro desde a década de 1940. Ele frequentava a chácara desde a infância. Na época, os donos do terreno permitiam que os alunos das escolas da região entrassem no bosque da propriedade para analisar a fauna e a flora, para as aulas de biologia. O filósofo era aluno da escola estadual Joy Arruda e tinha o privilégio de ter a chácara como campo de pesquisa.

Arquivo Pessoal/Reprodução Arquivo Pessoal/Reprodução

No bosque, também havia um salão que os vizinhos usavam para fazer festas. “Fui a vários casamentos ali”, conta Jonas.

“A área foi fechada em 2005, quando a construtora Tecnisa adquiriu o terreno. A empresa montou estandes de venda em 2007, quando houve um incêndio que atingiu muitas árvores. Testemunhei esse incêndio. Aí sim o movimento pelo parque começou”, recorda.

Com Fernando Salvio, um amigo de infância, participou de uma série de manifestações desde então. “Organizei abraços coletivos no terreno e eventos culturais.”

Depois de outro integrante do movimento flagrar em vídeo a construtora derrubando árvores no local, a empresa foi multada e obrigada a plantar novas espécies na região.

Procurada pela reportagem nesta semana, a Tecnisa não se manifestou. Segundo Jonas, a empresa aceitou ceder parte do terreno para a implantação do parque, mas o movimento permanece na luta para que o parque ocupe toda a área.

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“O que está em jogo é só o capital? Não existe outro ponto de vista?”, questiona o filósofo. Para ele, uma alternativa seria a construtora ceder a propriedade em troca da autorização de aproveitar o potencial construtivo em outro empreendimento.

O terreno foi decretado como de utilidade pública para a implantação de um parque em 2010. O decreto tinha validade de cinco anos e expirou. Mas em 2016, a área passou, por lei, a ser classificada como zona especial de proteção ambiental.

“A criação do parque é importante porque ele possui uma nascente de água. Temos um laudo do IGC (Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo) que mostra que um rio passa por baixo do terreno e da rua. Também tem a fauna e a flora. São 477 árvores catalogadas e mais de cem pássaros. É um oásis na Vila Ema, um bairro carente de áreas verdes. Além disso, a comunidade tem uma ligação histórica com o terreno”, argumenta Jonas.

As vitórias e derrotas dos ambientalistas

Da sugestão de dona Ana Dulce Maraschin nasceu a Rede Novos Parques, que articulou a defesa pela criação de 25 novos parques na cidade de São Paulo. Os primeiros testes de fogo aconteceram nos últimos dois anos nas discussões do novo Plano Diretor e da nova lei de zoneamento. O resultado mescla vitórias e derrotas.

Das 25 áreas reivindicadas, dez foram aprovadas integralmente como zonas especiais de proteção ambiental. Uma delas, a da Chácara da Fonte, no Butantã (zona oeste), foi desapropriada em 2016, marcando a principal vitória do movimento. 

A área de 35 mil metros quadrados permanece fechada para o público, mas já superou os mais difíceis trâmites burocráticos para ser transformada em parque.

As outras nove áreas dependem da iniciativa da prefeitura e do avanço das negociações com os proprietários.

As 15 restantes, que não foram aprovadas integralmente como zonas de proteção ambiental, ficam em situação mais vulnerável. É o caso do parque dos Búfalos, que perdeu parte da área para a construção de um conjunto habitacional. 

Ainda assim, as causas não estão totalmente perdidas. Movimentos que não estavam integrados à aliança estão se unindo à Rede Novos Parques. A luta, portanto, continua. Os ativistas permanecem em contato, pesquisam, trocam informações e experiências.

Para ativistas que defendem áreas distantes do centro, a ideia surgida no movimento pelo parque Augusta foi importante para fortalecer a defesa do verde na cidade.

“Com a articulação com movimentos mais centrais, conseguimos mais visibilidade. A Rede Novos Parques reforçou a luta no Plano Diretor por parques, praças, hortas e preservação de áreas verdes. Não teríamos a mesma visibilidade se não fosse a ajuda dos outros movimentos. É uma luta da cidade toda”, afirma Wesley Rosa, do movimento pelo parque dos Búfalos.

“Isso proporcionou uma melhoria. A Rede Novos Parques administrou a causa de todos os parques”, diz Jonas Barros, do movimento pelo parque Vila Ema.

Com a Rede Novos Parques, a discussão saiu do âmbito do parque Augusta e do centro. A visibilidade do parque Augusta foi compartilhada com outras áreas da cidade. Foi uma forma de começar a gerar apoio mútuo e fortalecer a pressão por outras áreas. A aliança ainda é um processo embrionário, mas traz questões muito amplas e tem muito potencial. Ela tem discussões ricas e traz tensões novas. Como, por exemplo, interagir com o movimento de moradia?

Augusto Aneas

Augusto Aneas, arquiteto

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