Todo esse contexto gera um clima de insegurança para os policiais paraenses. Não é para menos. Aumentou o número de PMs assassinados em 2018, em relação a 2017: 24 este ano, contra 13 no mesmo período do ano passado (alta de 84,5%). Todos praças. Ou seja, com os níveis hierárquicos mais baixos, como soldados, cabos e sargentos, com rendimento bruto mensal em torno de R$ 3.500. Eles costumam viver em bairros periféricos. Muitas vezes, sendo monitorados por facções criminosas e recebendo, frequentemente, ameaças de morte. Ao menos dois PMs mortos este ano eram, comprovadamente, milicianos, segundo a Polícia Civil. Eles foram identificados como Washington e Waldomiro.
Investigações e pesquisas apontam essa crescente de mortes para dois fatores. O primeiro é a disputa entre o tráfico de drogas pelo estado, que se intensificou com a intervenção federal no Rio de Janeiro, uma vez que o CV teve de procurar outros lugares para continuar agindo.
O segundo, a extensão de uma arma aos policias de folga, a partir de 2013: o estado que tinha média de 15 PMs mortos ao ano viu a estatística dobrar após a determinação. "O policial está ali, com o armamento, sem o treinamento certo, e está vendo colegas serem mortos. Então, ele acaba saindo da parte técnica e entrando na parte emocional quando há uma situação de enfrentamento", afirma a tenente-coronel da reserva Cristiane Socorro Loureiro Lima, tenente-coronel da reserva da PM-PA, doutora em ciências sociais e professora da Universidade da Amazônia.
A partir disso, parte dos PMs passa a agir com ação de justiceiro, segundo ela. “Ele acha que tem que resolver o problema ali, que tem que dar uma resposta para a sociedade”, diz. A última onda de assassinatos em série no estado ocorreu após a morte da cabo Maria de Fátima Cardoso, em 29 de abril.
Segundo o MP e a Polícia Civil, ela era casada com um traficante de Ananindeua, na região metropolitana. Antes de morrer, ela chegou a pedir ajuda à Corregedoria, informando que havia virado alvo de criminosos. Foi sugerido a ela ajuda para mudar de casa ou de batalhão, mas, segundo as investigações, ela teria negado. A reportagem não localizou o viúvo da cabo Fátima.
A morte da cabo Fátima pode ter sido vingada por um grupo de extermínio, aponta a apuração dos órgãos públicos. Nos dias 29 e 30 de abril, houve 25 homicídios dolosos na capital e região metropolitana. É investigado se esses homicídios foram praticados por vingança à morte da policial. Entre 1º e 15 de maio, aconteceram mais 65 assassinatos. A investigação apura se as mortes deste mês ocorreram por facções criminosas, milícias, grupos de extermínio ou vinganças pessoais. O dado não inclui latrocínios e mortes em supostos confrontos com a polícia.
“Nós temos a vingança por parte de pessoas que gostavam da vítima, mas também temos principalmente pessoas oportunistas. Traficantes que matam rivais. Além dessa peculiaridade que se encontra, de mortes quando há atentado contra um policial: grupos de extermínio e milícia”, aponta o delegado de Homicídios, Carlos Viana.