Vem aí a Macedônia do Norte

Um novo nome no mapa pode por fim a um conflito de décadas. Mas a solução desagrada gregos e macedônios

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Marko Djurica/Reuters
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Novo nome, mesmo país

Na semana passada, o Parlamento de Escópia ratificou o tratado que muda o nome da Macedônia para “República da Macedônia do Norte”. A mudança é apenas na nomenclatura - fronteiras, sistema de governo, capital, tudo permanece inalterado. A alteração no nome do país, que integrou a Iugoslávia, é uma tentativa de resolver um problema diplomático com a Grécia. O acordo, no entanto, conseguiu desagradar nacionalistas dos dois lados da fronteira.

Às margens do lago Prespes, na fronteira entre a Grécia, Albânia e Macedônia, os ministros das Relações Exteriores da Grécia, Nikos Kotzias, e da Macedônia, Nikola Dimitrov, assinaram o acordo histórico. Matthew Nimetz, que mediou as negociações por quase 25 anos em nome da ONU, também assinou.

Antes do processo formal de assinatura, os primeiros-ministros, Alexis  Tsipras e Zoran  Zaev, da Grécia e da Macedônia, respectivamente, discursaram dizendo como o tratado "abre caminho para a paz e a cooperação, requer coragem e é um dever patriótico".

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Guerra pelo direito de se chamar Macedônia

Em 1991, quando a Macedônia declarou independência da antiga Iugoslávia, muitos gregos sentiram que a nação vizinha estava se apropriando da tradição herdada de Alexandre, o Grande, figura histórica da Macedônia - nome também de uma província no norte da Grécia.

Macedônia, a província grega, faz fronteira com Macedônia, o país, que entrou para a ONU em 1993 com o nome "Antiga República Iugoslava da Macedônia" - Arim, na sigla em português, ou Firom, na sigla em inglês. Mas a maior parte do mundo ignora o nome completo e se refere ao país apenas como Macedônia.

Com o novo nome adotado, políticos do país esperam acabar com décadas de conflitos diplomáticos e facilitar a entrada da Macedônia na União Europeia e na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), já que Atenas se comprometeu a retirar o veto que impunha.

Para ser válido, contudo, o acordo requer uma ratificação por parte dos parlamentos dos dois países e depende de um referendo na Macedônia, onde nem todos estão inclinados a votar “sim”.

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População indignada

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Enquanto os políticos celebravam o acordo recém assinado, um protesto convocado pelo partido de oposição VMRO-DPMNE reuniu cerca de 5.000 pessoas em Bistola, no sudoeste do país.

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"Nós somos macedônios e não estamos interessados em mudar nosso nome", disse Marica, dona de casa da cidade de Ohrid. Para ela, é como se alguém a estivesse forçando a abandonar o nome que carrega desde que nasceu.

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Para Muharem, que aluga propriedades em um antigo quarteirão de Escópia, os possíveis ganhos da mudança de nome não compensam. "Os salários aqui estão na faixa de 200 euros (cerca de R$ 860) por mês, e eu não acho que vão mudar se nós entrarmos para a Otan", opina.

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Além do nome

Em um protesto na capital Escópia antes da assinatura do tratado, cidadãos empunharam a bandeira da Macedônia e alguns levaram inclusive a da Rússia. O ato simbolizava que os macedônios se opõem não só à mudança do nome do país, mas também a aproximação com o mundo ocidental, que deve acontecer na sequência.

Dois lados

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"Não tenho nada de bom a dizer sobre os gregos. São eles que estão criando problemas para nós", disse Petre, um serralheiro de Escópia. "Não precisamos participar da Otan ou da União Europeia, não é nossa tradição. Como cristãos ortodoxos, só Putin pode nos salvar", acrescentou.

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Já Maja Canakjevik, antiga diretora da Filarmônica Macedônia, acredita que a Grécia é uma nação irmã. "Se não houvesse tantos políticos agressivos que tornaram isso um problema entre nós, nossa cooperação seria muito maior", comentou a musicista.

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