Mesmo com o pré-natal em dia e nenhuma previsão de problemas, Juliana Rodrigues, 16, não resistiu às consequências do parto de Kaique, em setembro de 2014, e morreu dez dias depois de dar à luz ao menino.
“Ela morreu de sepse (infecção generalizada), na técnica, mas foi negligência médica. Ela foi abandonada e deixada lá para morrer”, diz, indignada, Samanta Santos, de 42 anos, tia que ajudou a criar a adolescente e criou o movimento Mães do Hospital de Acari, na zona norte do Rio de Janeiro, onde Juliana teve o filho e morreu.
O coletivo reúne relatos de outros casos de morte de mães e crianças em decorrência de suposta negligência e descaso da unidade. O caso de Juliana virou processo contra o hospital e está sob análise do Ministério Público.
De acordo com Samanta, sua sobrinha chegou à maternidade do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla após sentir-se mal, aos sete meses de gestação.
“Foi um parto traumático, demorado, com xingamentos (da equipe). Minha irmã não pode acompanhar. O bebê foi transferido para um hospital de referência e ela transferida dois dias depois”, contou Samanta.
Juliana foi submetida a uma cesariana pois já estava expelindo mecônio, que são as fezes da criança junto ao líquido amniótico, que representa perigo ao bebê.
Kaique nasceu com o intestino para fora do corpo e precisou de cirurgia logo nos primeiros dias de vida. A mãe foi para a casa mesmo se queixando de falta de ar e dores. Nenhum exame foi feito.
“Ela voltou ao hospital, mas não tinha ninguém para atendê-la porque era atendimento só para gestantes. Ela teve convulsão, estava com a pressão mínima e máxima juntas. Ela estava gritando um dia quando um médico da CTI (Centro de Terapia Intensiva) a ouviu gritar e foi examiná-la. Eles abriram e ela estava com ovário e trompas necrosados. Eles fecharam e ela morreu em dias”, afirma a tia.
Diferentemente de Samanta, a mãe de Juliana, Samara Santos, não consegue falar do caso. O neto morreu meses depois.
Atualmente a página no Facebook Mães do Hospital de Acari reúne três mil mulheres, médicos, profissionais da saúde e mães que tiveram problemas na unidade, hoje administrada pela ONG Viva Rio. Graças às denúncias do movimento, a empresa que administrava o hospital foi afastada da unidade. Samanta faz parte atualmente do Colegiado Gestor do hospital. Além do caso de Juliana, outras mulheres denunciaram o hospital ao Ministério Público.
A morte vai acontecer com todo mundo, mas foi crueldade com a Juliana. A gravidez dela não era de risco”
Por meio de nota, a Superintendência de Maternidades da Secretaria Municipal de Saúde esclarece que o caso de Juliana dos Santos foi investigado pela Comissão Regional de Óbito Materno, que confirmou o laudo da causa da morte como choque séptico e salpingite (inflamação na trompa de falópio). Segundo a nota, a instituição que administrava o hospital já não presta mais serviços para a secretaria.