Nelson Campanholo se desfiliou do PT em 2001. Na época, foi trabalhar na campanha do ex-prefeito de São Bernardo do Campo Maurício Soares e não achou justo pedir votos para um candidato do PPS sendo filiado ao PT. No final de 2015, participou da organização do PSL e presidiu a Comissão Provisória da sigla na cidade, mas garante que seu coração continua sendo petista.
Quem assistiu ao documentário “ABC da Greve”, de Leon Hirszman, viu um Campanholo com os cabelos ainda pretos, a barba volumosa e a sobrancelha expressiva ao lado de Lula nas grandes assembleias. Em uma tarde de maio de 2016, o espaçoso sofá na sala de estar de sua casa, localizada em um bairro nobre de São Bernardo do Campo, acomoda um homem de 77 anos, hoje com os cabelos totalmente brancos contrastando com a sobrancelha pouco grisalha e ainda marcante.
Ele também mudou de opinião sobre o partido que ajudou a fundar com Lula, e mostra desconforto com os rumos do PT. "Eu confio no Lula mais do que ninguém. Se você perguntar se eu colocaria as duas mãos no fogo pelo Lula, eu [digo que] coloco o corpo. Pelo Lula. Agora, daí para frente não é mais nada daquilo que foi nosso primeiro grupo."
Começou a aparecer muita gente que não tem nada a ver com o PT, não sabe o que é PT, acho que nunca entrou numa fábrica. Eu não conheço, não sei quem é
Membro da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e Diadema e cassado pela ditadura militar, Nelson foi um dos poucos dirigentes que escapou do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) em abril de 1980, quando companheiros como Lula, Djalma Bom, Rubens Teodoro de Arruda e Devanir Ribeiro foram presos. Mesmo sem parte das principais lideranças e com o Estádio Vila Euclides interditado, trabalhadores em greve se dirigiram à praça no centro de São Bernardo do Campo para uma assembleia que seria liderada por ele. Dom Cláudio Hummes alertou-o que seria preso e mandou Campanholo se esconder no confessionário da Igreja Matriz de São Bernardo. Assim, escapou de ser preso pelo Dops.
Operário na Brastemp e, mais tarde, na Mercantil Suíça e na Karmann-Ghia, Nelson filiou-se ao sindicato dos metalúrgicos em janeiro de 1965. Em 1969, passou a integrar a diretoria do sindicato como diretor de base, ano em que Lula passou a ser conselheiro.
Já na década de 1970, quando Paulo Vidal Neto decidiu se afastar da presidência e o vice Rubens Teodoro de Arruda se recusou a assumir, Nelson foi convidado a ser o novo presidente do sindicato. Preferiu indicar Lula: “O Lula não aceitou não, de jeito nenhum. Nós tivemos que trabalhar um mês para convencê-lo”. Companheiros de sindicato, logo se tornaram compadres. Em 1973, Campanholo foi padrinho do casamento do ex-presidente com Marisa Letícia. A militância levou-o a fundar o PT, em 1980, junto com Lula e outros companheiros. Dois anos depois, chegou à Câmara de Vereadores de São Bernardo pela nova sigla.
O Lula Presidente da República, no entanto, se distanciou de Campanholo. De longe, o companheiro metalúrgico observou com desconforto os apoios costurados pelo amigo enquanto ocupou o Palácio do Planalto. “Quando eu vi aquela foto do Lula com o Maluf fiquei com dor de barriga. Não pode, não pode, não pode!” Ele se refere às imagens de Lula, Paulo Maluf e Fernando Haddad em clima de parceria e descontração, trocando abraços e apertos de mão em 2012. À época, Maluf oficializava seu apoio ao PT nas eleições municipais de São Paulo, em que Haddad era pré-candidato. Em 1980, o mesmo Maluf, então governador do Estado de São Paulo, coordenou a operação que levou Lula e outros sindicalistas do ABC a serem presos pelo Dops durante a greve de trabalhadores que durou 41 dias.
“Os anos de governo Lula foram os melhores de todos os tempos de República. Eu sei que tem que ter parceria, mas algumas, se eu estivesse [no lugar dele], não faria. Não deu certo." A prova disso, diz Campanholo, está nas investigações da Lava Jato e no afastamento de Dilma Rousseff da Presidência.