Surto mortal
Doenças como sarampo e gripe já estavam há muito tempo controladas em sociedades urbanizadas. Contudo, ao se espalharem entre povos indígenas sem imunidade para eles, os vírus explodiram como bombas.
"Os Waiãpi não estavam acostumados a essas doenças, e elas mataram as pessoas rapidamente", disse Tzako Waiãpi, deitado em uma rede numa cabana feita de folhas de palmeiras, cercado de membros da sua família, todos usando a tradicional canga vermelha da tribo.
"Quando pegamos a gripe, nós melhoramos", lembrou, "então, quando o sarampo começou, achamos que iríamos melhorar de novo. Mas o sarampo é mais forte, e as pessoas morreram em apenas um dia".
Tzako Waiãpi não sabe sua idade exata, mas estima que tenha por volta de 80 anos. Contudo, sua memória do horror da juventude é dolorosamente vívida.
"Não sobrou ninguém para enterrar os mortos. Animais comiam os corpos porque ninguém tinha parentes vivos para enterrá-los".
Na tentativa de lembrar quantas pessoas próximas ele perdeu, Tzako começou a nomear, um a um: mulher, sogro, sogra, cunhado, filhos. Então, interrompeu a contagem e acenou com a mão para indicar a realidade: gente demais para contar.
"Eles roubaram os Waiãpi das suas crianças", afirmou.