Ainda é difícil para o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) falar da antiga assessora e amiga Marielle Franco no passado.
Em seu gabinete no prédio anexo à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), onde a vereadora carioca começou sua vida política, Freixo lembra com carinho dos 11 anos que trabalharam juntos e alterna o uso do "é" e do "era" ao se referir a Marielle.
Abatido e com olhar cansado, ele se emociona ao falar da trajetória da vereadora. “Ela era muito expansiva, expressiva. Sempre disse que a Marielle falava pelos dentes. Ela tem um sorriso muito impressionante. Minha relação com a Marielle foi primeiro muito familiar, depois que veio a política”, diz.
Uma semana após o brutal assassinato da vereadora que mobilizou multidões no Rio e no mundo, o deputado conta que ainda não teve tempo de elaborar o luto. Em entrevista ao UOL na última quarta-feira (21), Freixo, que perdeu um irmão assassinado pela milícia, se refere a Marielle como uma filha. Foi trabalhando em seu gabinete que ela decidiu estudar sociologia, fazer mestrado, concorrer à Câmara Municipal.
“Lembro dela sentada nessa cadeira aí dizendo o seguinte: 'vou largar você. Acho que vou ser vereadora'. O que você acha? Estou morrendo de medo dessa decisão”.
O deputado, que evitou falar de política e entrar mais a fundo na investigação, diz que ainda não tem respostas. Não vê o porquê Marielle seria um alvo, cobra respostas da Polícia Civil ante o que define como "o caso mais complexo da história da Delegacia de Homicídios" e se diz pronto para a guerra. "Não estou aqui para a paz, estou aqui para a guerra", afirma, ao comentar seu empenho para a elucidação do crime.
Citando nominalmente o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, Freixo acusa o governo de fazer uso político da morte de Marielle para justificar a intervenção federal na segurança do Rio e Janeiro --intervenção que Marielle combateu desde o início.