No campo, todos trabalhavam descalços. "Era o puro inferno. O solo era cheio de pedras e vidro. Se você se cortasse, teria que trabalhar sangrando. Um dia, acordei sem conseguir mexer uma das pernas, e o meu pé estava muito inchado. Eu não tinha condições de trabalhar, e os guardas me bateram, dizendo que eu não queria ir para o campo". Naquele dia, Jihyun conta que precisou se arrastar pelo milharal em que estava trabalhando.
Quando a perna de Jihyun começou a gangrenar, os guardas a mandaram para o médico, que sugeriu a amputação. Para evitar uma morte no campo de trabalho, ela foi libertada sob a supervisão de um tio, que assinou a sua soltura e a abandonou, afirmando que nunca mais queria vê-la.
Com a perna completamente deteriorada, ela precisou mendigar e passou a viver em um orfanato, onde contava com a ajuda das crianças para caminhar. Até que um homem, especializado em ervas medicinais, decidiu ajudá-la. "Rezo por este homem sempre. Seja lá onde ele estiver, rezo para que ele seja feliz e saudável".
Ferida e preocupada com o filho que foi obrigada a deixar na China, decidiu fugir outra vez --agora, para buscá-lo e viver na Coreia do Sul.
Em março de 2005, Jihyun não teve problemas para retirar a criança do pai -- Yong Joon era um filho ilegítimo, sem qualquer direito e negligenciado.
"A partir dai, nossa jornada era muito perigosa. Decidi que fugiríamos pela Mongólia, e lá buscaríamos ajuda na embaixada sul-coreana. Mas, para atravessar da China para a Mongólia, era preciso subir uma cerca de mais de dois metros de altura. Todos conseguiram passar, mas meu filho e eu ficamos para trás, em território chinês."
Até que, segundo Jihyun, um homem voltou para ajudá-la. O norte-coreano conseguiu abrir um buraco na cerca e mãe e filho puderam passar --e foi assim que Jihyun conheceu seu marido.
Na Mongólia, eles caminharam por três dias no deserto sem encontrar qualquer pessoa. "Nós não tínhamos comida ou água, e meu filho tinha sede. Ele tinha só cinco anos, com fome e frio. Então não dava para passar mais dias na Mongólia desse jeito. Acabamos voltando para a China".
Eles se casaram em Pequim, onde viviam escondidos. Com o apoio de uma ONG, conseguiram contato com um oficial da ONU e receberam o asilo do governo britânico.