Por que o iPhone importa

Há 10 anos, a Apple lançou seu 1º celular. Além de transformar o segmento, ela impulsionou o mercado de apps

Gabriel Francisco Ribeiro e Guilherme Tagiaroli Do UOL, em São Paulo
Paul Sakuma/AP Paul Sakuma/AP

Por que o iPhone mudou tudo

O dia era 9 de janeiro de 2007. O célebre Steve Jobs sobe ao palco para anunciar mais uma novidade da Apple. Os boatos e especulações corriam soltos há algum tempo: a Apple, já famosa pelos computadores e pelo revolucionário iPod, queria entrar no mercado de celulares. Os detalhes, contudo, eram poucos. E a Apple só não entrou nesse mercado como também fez uma completa revolução.
 
Pois é. Se hoje você não vive sem WhatsApp e redes sociais a um simples toque da tela, a "culpa" é do primeiro iPhone. Na apresentação do inovador produto, Steve Jobs ainda fez mistério, brincando que lançaria um iPod com multitouch, um revolucionário celular e um novo sistema de comunicação pela internet. Pouco depois, ficou claro que tudo fazia parte de um produto só, já deixando a plateia espantada. 
 
E as reações de espanto foram inúmeras, com coisas que hoje podemos considerar banais. Deslizar a tela para desbloquear? Uau. Simplesmente percorrer o dedo pelo sistema multitouch para ver a lista de músicas? Caramba. Usar o dedo para dar zoom em fotos na galeria? Coisa de louco!
 
Para completar, o iPhone anunciado em janeiro só começou a ser vendido em junho de 2007, o que causou ainda mais ansiedade no mercado e em fãs da marca.
 
Mesmo nos detalhes, o novo smartphone já impressionava e fazia jus à frase de Jobs que o aparelho estava cinco anos à frente dos modelos da concorrência. E nesta terça (12) tem mais: vem aí novos modelos de iPhones, no ano em que é comemorado os dez anos de seu lançamento. Será que teremos surpresa?

As pessoas que são loucas o suficiente para pensar que podem mudar o mundo são as pessoas que de fato mudam.

Steve Jobs

Steve Jobs, cofundador da Apple, em frase célebre na propaganda Think Different, de 1997

Como o 1º iPhone chocou a plateia com funções "banais"

iStock iStock

O que o iPhone influenciou

A primeira grande influência no mercado de tecnologia móvel do iPhone foi mostrar que era possível ter um dispositivo com tela sensível ao toque e que fosse bom de usar. Antes disso, boa parte dos telefones até tinham displays sensíveis, mas eram manuseados por um teclado QWERTY ou por uma canetinha. Este último item, aliás, foi digno de menção de Steve Jobs durante o lançamento do 1º iPhone:

“Quem quer uma Stylus [como é conhecida a caneta]?“Nós vamos usar o melhor dispositivo apontador que existe no mundo e que todos já nascemos com ele: nossos dedos.” 

Manusear a tela com os dedos não era necessariamente uma novidade, porém a tecnologia multitouch, que permite executar múltiplos toques na tela, foi um divisor de águas. Ela tornou a experiência de uso do aparelho mais interessante e imersiva. Antes, não dava para dar zoom em fotos fazendo o movimento de pinça ou deslizar por uma lista de contatos de forma fluída.

A tela “grande” de 3,5 polegadas virou tendência e todo mundo adotou. A Samsung estreou a série Galaxy S e a Motorola manteve um teclado físico por um tempo em alguns dos seus dispositivos, mas abandonou a ideia.

O curioso desta questão do tamanho é que a Apple, que inovou com a telona de 3,5 polegadas em 2007, demorou para perceber a oportunidade de fazer smartphones com displays ainda maiores. Tanto é que a empresa só mudou com o iPhone 5, lançado em 2012. Enquanto isso, no mesmo ano, a Samsung apresentou o Galaxy Note, com uma tela "gigante" de 5,3 polegadas.

iStock iStock

Um novo mercado bilionário de aplicativos

Quem vê hoje a loja de aplicativos não imagina que Steve Jobs era contra um market place como o que existe hoje. Na cabeça dele, desenvolvedores fariam programas para rodar no navegador, e não como um aplicativo instalado no sistema. No fim das contas, ele foi convencido e a companhia acabou impulsionando um mercado gigantesco.

O principal ponto da loja de aplicativo é que a empresa oferece ao desenvolvedor um público (base instalada de dispositivos) e hospedagem. Em troca, o desenvolvedor se compromete a dar uma porcentagem do que é arrecadado para a empresa.

Antes disso, os programas eram vendidos em lojas ou de forma descentralizada – cada desenvolvedor comercializava suas criações em seus próprios sites ou plataformas. A App Store veio para centralizar este processo.

A loja começou em 2008 com 500 apps. Atualmente, há mais de 2,5 milhões disponíveis. Só no ano passado, a Apple informou que pagou US$ 50 bilhões para os desenvolvedores.

Este “novo mercado” serviu de catapulta para boa parte dos apps que usamos. O WhatsApp, por exemplo, estreou em 2009 na App Store. A plataforma demorou para se popularizar. Porém, quando aconteceu, o Facebook se interessou e pagou US$ 16 bilhões pela empresa.

O mesmo aconteceu com o Instagram. O app estreou em outubro de 2010 na loja de apps da Apple. Em abril de 2012, os cofundadores da rede, Kevin Systrom e o brasileiro Mike Krieger, venderam a plataforma para o Facebook por US$ 1 bilhão.

Evolução do iPhone

Polêmicas

Kimberly White/Reuters Kimberly White/Reuters

"Antennagate"

Este era um problema que só afetava o iPhone 4. Dependendo de como você o segurava, o aparelho perdia a recepção de sinal da operadora. A Apple demorou para reconhecer o erro. Porém, no fim, a empresa organizou uma coletiva, enviou uma atualização e também ofereceu capas gratuitas.

Stephen Lam/Reuters Stephen Lam/Reuters

U2 para todos

No fim do evento de lançamento do iPhone 6, a Apple anunciou que todos usuários de iTunes receberiam o álbum "Songs of Innocence", do U2, na faixa. Quem é fã curtiu, porém uma grande maioria se revoltou pelo download automático. A empresa teve de criar uma ferramentar para ajudar quem quisesse remover o álbum.

Reprodução/YouTube Reprodução/YouTube

"Bendgate"

Outro problema enfrentado diz respeito ao iPhone 6 Plus. Alguns compradores começaram a notar que o smartphone ficava curvado se houvesse uma tentativa de incliná-lo com as mãos. Na época, a Apple disse que esse problema ocorreu com uma minoria de aparelhos e efetuou a troca de alguns.

Beck Diefenbach/Reuters Beck Diefenbach/Reuters

Estagnação e fim da inovação

Enquanto foi pioneira no mercado, a Apple conseguiu manter a dianteira frente aos competidores. Mas os anos não fizeram tão bem à maçã. Atualmente, a empresa faz lançamentos cada vez mais "sem sal" e com poucas novidades. A revolução parece ter sido parada com a morte de Steve Jobs em 2011.

Hoje, por muitas vezes, é a Apple que tem de correr atrás. Os rivais têm celulares com telas enormes? Então o iPhone também terá. O público parece gostar de aparelhos de diferentes cores? Então o mesmo será feito para o iPhone. A expectativa é que isso ocorra novamente nesta terça, quando a Apple provavelmente apresentará uma “tela infinita”.

A inovação, aspecto tão característico da Apple, está cada vez menor quanto o assunto é smartphone. É bom frisar, contudo, que mesmo “correndo atrás” dos competidores, a Apple consegue, muitas vezes, aprimorar recursos de rivais e seguir com celulares até melhores que os deles.

Inovação distingue o líder de um seguidor.

Steve Jobs

Steve Jobs, cofundador da Apple, no livro 'The Innovation Secrets of Steve Jobs: Insanely Different Principles for Breakthrough Success'

Curtiu? Compartilhe.

Topo